Três poemas de Nirlei Maria Oliveira
Nirlei Maria Oliveira. Poeta e Bibliotecária com mestrado em Ciência da Informação, nasceu em Formiga MG, reside em Campinas, SP. Trabalha no IFSP, Campus de Hortolândia. Atua com ações e projetos de estímulo à leitura. Organizadora da coletânea Quarentena Poética publicada em 2020. Tem poemas publicados nas seguintes revistas literárias: Travessias Literárias, Cult – Lugar de Fala, Literatura e Fechadura, No Agora do – Museu da Língua Portuguesa, Revista Brasileira no XXI, Partilhas Poéticas do Museu Ema Klabin e Revista Acrobata.
e-book Quarentena Poética – https://tinyurl.com/y2wp9kdb
Podcast Quarentena Poética – https://anchor.fm/quarentenapoetica
***
plantei rosas para você
engarrafei as lembranças dos momentos felizes
adornei com pequenos enfeites coloridos e perfumados
guardei em lugar de destaque na estante dos afetos
troféu dos felizes dias
das memórias de instantes
da felicidade fugaz
dos ínfimos segundos de alegrias
neste cotidiano selvagem e urbano
de concreto e pressa
confesso que bebi
uma a uma, gota a gota
os perfumados detalhes
daquelas memórias de afetos
e dos momentos eternos
no fim
plantei rosas para você
*
Escrevi várias cartas de amor e não as enviei
dos papéis
escrevi várias cartas; em papéis finos,
decorados com pequenas e delicadas florzinhas,
pareciam bordados de enxoval de noiva,
aqueles guardados sem uso, esperando a visita certa
escolhi um por um, olhando e virando-os na contraluz
vi detalhes mínimos, textura, cor e cheiro,
pois naquelas folhas finas estariam impregnados
o expressamento dos sentidos e afetos.
da escrita
minha letra, nunca foi boa, era assim
bem rabisco, tosca e sem graça, mas caprichei,
me esforcei para parecer elegante.
letra de importância.
corrigia pontos, vírgulas, aplainava o texto,
polia os verbos e colocava mais e mais adjetivos
e as banais metáforas de amor sem fim
enfeitavam as palavras e as encharcava de perfume
e com desenhos de corações nos canto das folhas,
por fim, terminei!
uma carta comprida, cheia de amores
tomei coragem, e assinei com apuro
o meu nome completo
coloquei-a em um envelope branco
e, calmamente, guardei-a na escrivaninha
junto com outras tantas cartas, que escrevi ao longo dos anos
do destinatário
não as enviei, achei todas erradas
anos de escrita amorosa que agora eram envergonhadas palavras
guardadas no fundo da gaveta,
jaziam de espera, por perdidos amores
e assim ficaram; cartas sem endereço.
seu nome, como destino, nunca revelei.
sustento essa tristeza, diariamente,
nos guardados do coração.
*
as manhãs e os bem-te-vis
é quase dia
sol envergonhado no céu plasmando no seu raiar
ainda há silêncio nessas horas pequenas
soa como desequilíbrio e estranhamento
neste caos urbano de concreto e carros
profano a cena, enfim, respiro
respiro fundo o ar leve e fresco – é manhã de brisa
dessas que levantam as folhas secas
esvoaçam os cabelos e espantam a letargia
caminho em círculos no labirinto dos dias comuns
registro na retina os detalhes da conhecida paisagem
persigo detalhes e entalhes do tempo de ontem
caminho lentamente a contar flores e gatos
não há escape para o enigma do viver
respiro fundo e o ar aquece meu peito
me perco nos detalhes das flores e ouço os bem-te-vis
sigo em frente, matutando e sonhando com os abraços do porvir
quando a festas começarem nas ruas e o interditos não mais existir
paro e olho o céu, penso fantasiosamente
que tenho preciosos instantes entre as mãos
sentir o sol esgueirando por entre os prédios
um triz de alegria, uma lasca de segundos capturados
enrolo em laços e fitas a linha do tempo presente
salvo o dia ouvindo os bem-te-vis
faço crochê do tédio da rotina imposta
Rozana Gastaldi Cominal
Parabéns, Nirlei! seus poemas são manhãs que quebram a letargia e espalham alegria!
Nirlei Maria Oliveira
Obrigada, querida Poeta! Vamos espalhando versos em tempos pandêmicos!
Sandra Ruza Peixoto
Em cada poema, quanta poesia!
Amei tudo que li …
Um bálsamo para os olhos meus ATENTOS a cada palavra.
Parabéns! Grandiosa por ser assim tão nirlei !!! Tão porta!
Sandra Ruza Peixoto Am de Campos sp
Nirlei Maria Oliveira
POETA SANDRA, Obrigada pela leitura e comentários!
Que a poesia nos salve em tempos sombrios!