Três poemas de Stéfanie Sande
Stéfanie Sande é escritora e doutoranda em escrita criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
***
A nuvem
Raymond Kurzweil diz
que a singularidade
se aproxima
que o orgânico
vai ser cada vez menos
orgânico
o nosso declínio total
se aproxima
dizem
ou nossa transmutação
renascimento
momento em que seremos
outra coisa
outro ser
existindo em correntes
elétricas
e software
até lá
será
que a Eneida será
pintura rupestre?
até lá
será
que esse poema
chegará?
ou talvez vire
nuvem
48 kbytes de informação
flutuando em uma galáxia
distante
em algum lugar
do nosso
universo
*
Cacos espalhados pelo chão
Prometi um poema para ela
tal qual árvore de inverno recita a primavera
e os pássaros de verão migram para o sul
criança colorindo sangue vermelho com giz azul
ela busca no drama os traços de comédia
é heroína romântica em palco de tragédia
deseja amor espesso em coração franzino
entrega a alma de porcelana às patas do felino
escreve desventuras imaginárias em versos
recriando no papel nosso pequeno universo
usa de palavras-cimento para tapar buracos
mas não sabe que é meu sangue vermelho
que mancha estes cacos
*
Persephone
Isn’t it ironic that
the goddess of spring
descends to hell
where she is also
queen?