Três poemas de Suely Andrade
Suely Andrade é professora de Língua Portuguesa e de Literatura, formada pela Universidade Estadual do Ceará-UECE. Atua também como revisora e analista de textos diversos, especialmente, de textos acadêmicos e literários. Escreve sob vários gêneros: poesia, prosa poética e contos entre outros. Possui alguns poemas publicados em coletâneas virtuais de diferentes organizadores. Mantém uma página no site Recanto das Letras e outra no Facebook, onde publica regularmente os mais variados gêneros textuais. Também possui um blog literário: Portal de Poesia-Suely Andrade, que no momento passa por atualização. Desenvolve ainda um trabalho criterioso de análise de textos poéticos, tanto de autores consagrados como de autores pouco conhecidos: brasileiros e portugueses.
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Enxurro
Penso e, no pensar, me vem o mundo;
O mundo às vezes tão ligeiro,
Que parece inerte.
Pendo a cabeça para ajeitar o penteado.
À minha lembrança, um flerte.
E meu pensamento, tão prisioneiro…
Meu suspiro fundo
De pensar coisas do mundo.
Mundo aparvalhado!
“De pensar morreu um burro”
Diz tão sem pensar o ditado.
Pendo a cabeça
Num matutar… Que pesado!
Antes que eu me esqueça
Das coisas do mundo,
Penso todas num enxurro.
Penso nos colhedores de café,
Nas crianças descalças,
Nas mulheres tristonhas
Cheias de alguma fé…
E encho meu ruminar de alguma história;
De uma que já não tem fim.
Penso, e já não há glória.
“Crianças mudas, telepáticas”
Me são borboletas enfáticas
Em coro pelo jardim.
*
Normas Quebradas e Outras
Foi num maldito outubro que quebrei minhas normas
E conversei com um estranho,
Aparentemente limpo de todas as formas.
Não precisava de banho
Por dentro — pensei;
Por fora, estava visivelmente limpo.
Pasmei com meu pensamento.
Aquilo era doença!
Exagero de precaução, descrença.
E dei-lhe mais atenção
Do que deveria.
Isso logo percebi.
O estranho tinha muitas identidades,
Mas para ele, todas eram absolutas verdades.
Será que eu perdi
A aula sobre personalidade
Numa disciplina da faculdade,
Ou mesmo de respeito, de ética?
Mas eu não fiz Filosofia,
Não estudei dialética…
Há muito mais entre o restante dos meses e outubro
Do que julga a minha vã filosofia
De lebre amedrontada e
talvez, por isso mesmo, ligeira.
Normas quebradas…
Eu as revejo
Na cabeceira.
E vejo que nem sempre
As regras são saídas
Ou boas jogadas.
Vejo que elas
Quase sempre são “roubadas”.
O jeito é viver aleatoriamente,
Burlando as próprias regras da gente.
Eu agora faço isso sempre,
De janeiro a outubro,
Mas que eu me lembre,
Em novembro e dezembro
Dou um tempo.
Vai que eu descubro
Que fugir de regras
É outro regulamento.
Sobre aquele outubro,
Que aqui cito,
Eu só lamento
Pelo maldito!
*
Pragmática
Deveria ser proibido
Fazer certas coisas virarem força de expressão
Ou comuns como se fossem refrão,
Até acostumar o ouvido
Com aquela parte da canção.
Deveria ser proibido
Dar bom dia só por educação.
Eu apenas acho “bom dia”
Algo para além
De simples etiqueta.
Tem gente que lhe dá bom dia fazendo careta.
Aí a gente responde também
Como quem fala um amém,
Depois de uma oração memorizada,
Com a qual não se entrou em ômega,
Em alfa nem nada.
Deveria ser proibido
Dar bom dia como remédio vencido,
Que já não cura.
Deveria ser proibido
Dar bom dia só como compostura.
Suely Andrade
Muito Feliz por estar aqui, em meio a tanta gente boa! Obrigada pela publicação!
Joaquim garcia
Depois de ler três ótimos poemas, digo convicto que seu lugar também é aqui, por mérito e direito. – jota garcia
Suely Andrade
Obrigada, meu querido amigo, esse lugar também é para você; tenha certeza disso!