Três poemas de Tomás Ortega Costa
Tomás Ortega Costa
Nasceu em Lisboa, em 1993.
Formou-se em Direito.
Partilhou os primeiros poemas na Enfermaria 6.
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TÃO APERTADOS SÃO OS NOSSOS ABRAÇOS
Tão apertados são os nossos abraços
que não há espaço para ti.
Abraças-me com os meus braços.
Sussurras com os meus lábios.
E vale a pena,
cá para mim.
*
SE NÃO TE SENTAS MAIS PERTO COMO HEI-DE EU RECORDAR
Se não te sentas mais perto como hei-de eu recordar,
no cansaço das próximas noites,
o perfume que hoje trazes;
que não é o melhor, à parte a perfeição
que lhe dás.
Recordar a gloriosa fuga das tuas pestanas
à máscara que as quer cingir.
Se não te sentas mais perto como hei-de eu saber
se estão perdoadas as banalidades que digo e sou.
O risível que expiro.
Se não te sentas mais perto
(tecido das calças a roçar tecido das calças,
o teu dedo leve do meu ombro ao meu braço)
se não te sentas mais perto como hei-de eu saber
se queres que me sinta mais perto.
*
POMBOS NO DECLIVE COMO SANDÁLIAS
Pombos no declive como sandálias
caídas dos pés de crianças que correm
para o mar.
Como eu na última luz do Oeste.
Como cuco em ninho de águia.
Pombos no declive ligeiro,
e verde e morto do que tinha.
E o que tinha?
Os olhares dos amantes, e os corpos na toalha
e as mãos partindo pão.
Pombos entre migalhas de um passado maior.
Passado.