Um conto de Conceição Oliveira
Maria da Conceição de Jesus Oliveira nasceu em São Sebastião do Maranhão, Minas Gerais. Atualmente mora em São Paulo, capital. Cursou até a 6ª série do Ensino Fundamental. Trabalha como auxiliar de limpeza numa instituição de ensino e também como vendedora autônoma.
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O invisível
Às vezes dor, às vezes tristeza, às vezes choro, às vezes amor… pensamentos. Sentimentos de tristeza e também alegria. Vontade de viver mas muitas vezes vontade de se esconder de todos! Pois com uma enorme solidão que lhe invade a alma e dói o coração!
Ele chora e pensa: Ah! Deus, é doído viver mas penso ser triste o querer morrer.
A solidão mais uma vez invade o seu ser, e este volta a pensar: Como dói a solidão; E olha ao seu redor, as ruas, os carros, as praças, as grandes avenidas, os ônibus, os luxuosos carros da elite e etc.. As crianças indo e voltando para a escola, seus responsáveis seguram-nas pelas mãos e estas felizes ou tristes chegam até a chamada escola, onde dizem-lhes que receberão educação!
E com relação às crianças ele diz para si mesmo: estas serão o futuro do país; E com muita dor ele volta a pensar: foi isto que me disseram na minha infância; E segue olhando com atenção as conversas, os risos, as falácias, as brincadeiras, os trabalhadores indo e voltando de seus trabalhos. Felizes ou tristes estes conversam, brincam, fazem piadas, bebem, falam de suas famílias, namoro, ficantes, etc… E voltou ele a pensar consigo mesmo: que bárbaro somos nós, os seres humanos, somos tão inteligente, estudamos, trabalhamos, nos comunicamos uns com os outros, somos alegres e muitas vezes somos tristes também. Somos pessoas dóceis e muitas vezes amargas, muitas vezes somos atenciosos e muitas vezes não damos a menor atenção para aqueles que estão do nosso lado. Ao mesmo tempo que somos () somos muito estranhos. Sentindo-se feliz e estando próximo de um bar, avistou um amigo que há algum tempo não se encontraram de nome: Luiz.
Estes se alegraram no bar, pediram uma cerveja, salgados e um suco. Quando então chegaram alguns amigos de Luiz de nome: Carlos, Madalena, Sérgio, Patrícia, Pedro e André. Luiz então se alegrou em vê-los, levantou-se, apresentou-os ao “invisível” os quais disseram muito prazer. Em seguida, puxavam cadeiras, pediram mais lanches e bebidas, começaram a comer, beber, falar e conversar. Falavam sobre diversos assuntos, como músicas, relacionamento, trabalho, estudo e até de suas músicas, relacionamento, trabalho, estudo e até de suas famílias. Ele observa-os sentado em sua cadeira ao lado de Luiz e todos aqueles seus amigos falavam, gesticulavam, sorriam e olhavam uns para os outros. Enquanto isto ele silenciou-se pois a principio tentou também falar e fazer parte daquele encontro interagindo com todos ali presentes.
Mas parece que não tinham olhos nem ouvidos para ele, continuaram se divertindo e prestando atenção somente neles mesmos e mais uma vez ele sentiu o vazio, a solidão, a tristeza e por fim, a dor da falta de atenção. Então olhou mais uma vez para todos inclusive para o seu “amigo” Luíz e disse: Eu já vou embora; Eles não fizeram grande questão de sua presença e disseram: Já vai? Nós vamos ficar até mais tarde; Seu coração doeu forte mas conseguiu segurar as lágrimas. Somente Luís lhe estendeu a mão e disse: foi muito bom te reencontrar!; Despediram-se. Ao andar pela rua e pensar consigo mesmo, sentiu- se aliviado ao estar se distanciando daqueles que não lhe deram atenção. O deixou leve mas ao mesmo tempo teve vontade de chorar por sentir-se rejeitado. Na medida em que andava a dor passou e as lágrimas já não lhes desciam aos olhos e começou a alegrar-se ao ver algumas crianças brincando na calçada, pois estas quando o viram sorriram-se e foram em sua direção, as meninas com suas tranças nos cabelos, algumas com bonecas em suas mãos e vestidos floridos. Os meninos de bermuda e tênis e alguns tinham uma bola de futebol debaixo dos braços. Ele conhecia algumas daquelas lindas crianças as quais sempre que o viam alegravam-se e faziam questão da sua presença. Chamando-o para brincar e até mesmo para lhes contar histórias e para ouvir as histórias que elas tinham para contar. De certa forma aqueles pequenos lhe traziam esperança. Esperança sabe-se lá do que mas o fato é que elas o faziam feliz! Porque lhes eram atenciosas, carinhosas e amigas, ele não sabia explicar mas se sentia alegre!
Algumas semanas se passaram, sua vida andou sem grandes novidades; Trabalhou, leu, descansou, encontrou alguns conhecidos, alegrou-se, entristeceu-se.
Em uma quinta feira saía do trabalho e reencontrou uma senhora a qual foi amiga de sua mãe e por isso, a conhecia desde a infância. Eles se alegravam ao se avistarem, se abraçaram, ela o elogiou e contou também sobre sua vida, falou do filho que havia acabado de se formar em administração, de sua sobrinha que está morando no exterior, etc. Seguiram pela rua, faltavam ainda alguns quilômetros para que chegassem no ponto de ônibus, por isto andavam juntos e conversavam; Ele se sentiu feliz em rever aquela senhora de nome Dona Mariana a qual ele tinha enorme carinho e afeto. Enquanto andavam, falavam diversos assuntos…por exemplo: dele,do filho dela e de sua sobrinha. Ele por sua vez falou de seu trabalho, contou dos livros que ele apreciava. Falou também do seu trabalho, de seus familiares, etc… Ao se aproximarem do ponto de ônibus, Dona Mariana encontrou duas amigas que saiam do seu trabalho, ela o apresentou a elas como sendo filho de uma velha amiga e disse-lhes que ele fez parte da infância de seu filho e de sua sobrinha e elas disseram-lhe: Muito Prazer!; E iniciou a conversa com Dona Mariana, conversaram entre si sem nem mesmo prestar atenção em sua presença. Ele até tentou falar, fazer algum comentário, ser simpático com as mulheres ali presentes e fazer parte daquela conversa, pois afinal, quando as duas amigas os encontrou ele e Dona Mariana já vinham em uma produtiva conversa mas definitivamente não houve espaço para ele falar nada. Sua amiga, voltou-se totalmente para as duas mulheres que reclamavam do trânsito, a outra comentava sobre seu marido e diziam-lhe que ainda pegariam a filha pequena na escola. Mais uma vez ele percebeu que não havia mais nenhum espaço para ele junto a elas. Então disse a sua amiga: vou ficar por aqui; Elas então disseram: Tá bom!; Sua amiga disse-lhe: gostei de te ver! Tchau!; Seu coração novamente doeu como se fosse uma facada, naquele momento e mais uma vez as lágrimas lhe caíram dos olhos. Saiu a andar pela rua novamente a passos leves e pensando em si mesmo. Gostava de sua própria companhia, não se sentia triste quando estava só. Mas sempre se chateava quando estava junto de pessoas, pois estas sempre os deixavam só e sem atenção. Andou um pouco mais, chegou ao ponto de ônibus, embarcou estando já a caminho de sua casa, pensava ele afastar-se das pessoas, afinal gostava de estar só, mas havia o receio que se tornasse anti- social. O fato é que não suportava mais a forma com que era tratado. Mais um ponto e desceu do veículo. Andou alguns passos e chegou em casa. Viu a sua mãe e beijou-a. Ela carinhosamente o beijou também e em seguida perguntou: Está tudo bem filho?; Ele olhou para a mulher e disse: Sim.; E entrou no banho. Ao sair, conversou um pouco com ela e com a irmã que também havia chegado do trabalho. Jantaram juntos. Ele comeu pouco e beijou-as. Foi dormir e sonhou. Em seu sonho havia algo como que uma grande reunião. Haviam pessoas de todas as idades, cor, raça, tamanho, sexo, profissão, etc. Ele era o líder, o palestrante daquelas pessoas. Enquanto falava, elas o ouviam e devoravam seus ensinamentos. Muitas se levantavam e faziam-lhe perguntas as quais ele respondia pacientemente e sabiamente. Ao acordar, seus olhos lacrimejaram, seu coração alegrou-se e ao mesmo tempo entristeceu-se ao ver que tudo não passou de um longo sonho. Com tristeza nos olhos e vontade de chorar levantou-se e higienizou-se, tomou um pouco de café e foi para o trabalho.