Um conto de Daniel Rody de Oliveira
Daniel Rody de Oliveira: devido a problemas pessoais, comecei a escrever – e ter paixão pela escrita. Tenho 18 anos, e há quatro anos que já escrevo, mas quase nunca publico nada. Ultimamente tenho lido e ficado satisfeito com o que tem saído, e desde então comecei com um projeto de um livro de contos – que planejo publicar em formato de Ebook até o fim do ano. Este é um dos contos, e é um dos que mais gostei.
***
– Temo dizer para você que só lhe resta uma semana de vida – disse-me. Eu estava aturdido. Talvez, um choque? Ah, claro. Fui bêbado a vida toda por estes coquetéis de quimioterapia, para a minha cirrose ser autodeclarada neste ato: morte. Não que eu a tema, mas dizer que quer morrer é algo muito disperso, e depressivo. – Teria algum pedido, ou algo que possamos fazer por você, Sid? – Me pus a pensar. A sala estava aos cliques, dos aparelhos e máquinas. Minha mãe segurava uma mágoa que há muito eu não via nela. Era como se o luto que ela adquiriu por conviver comigo, fizesse parte do seu semblante, e eu não sabia mais dizer se era normal ou não. Ela resfolegava no canto, silenciosamente, como um cavalo sendo abatido ao lado de uma boate; os gritos eram em sua mente.
– Não tenho nada em mente. Gostaria de tentar escrever uma peça, mas receio não ter nenhum ouvinte, ou voluntário para participar de tal artimanha. – Disse isto olhando em volta. No canto, havia um palhaço. Como era uma coisa rotineira a notícia deste leito – ou de pessoas que se recuperavam – ele mantinha as coisas um pouco menos neutras – ou tentava. Seu nariz tinha a ponta falhada, como todas as tentativas de me fazerem rir. Era um pobre bobo, que havia sido enterrado há muito, com várias pás de amargura; talvez minhas mesmo. Ao menos, ele cantará um requiém no final. Olhei para o resto da sala para ter certeza, e, os olhares se dispersaram, numa espécie infame de desculpa: “E agora?”. Seus olhos gritavam, mas eu não queria ouvi-los. O inferno me esperava em outro lugar, e estas almas não merecem meu perdão – Foi o que eu pensei. – Falei enquanto caminhava para fora.
O leito de um hospital próprio para esse tipo de coisa é como entrar no corredor da morte. As celas – ou quartos – são ladeadas de gritos, e baques de dentro. Nunca se sabe se o surto é do paciente, ou se eles estão sendo assassinados em seus próprios quartos. As almas clementes rogam para algum tipo de milagre ou salvação. Padres são comuns aqui. Todos engomados, com seus crucifixos e o ar de superioridade; a fala mansa, e o andar com o queixo para cima. Como se fossem o próprio Senhor-Todo-Poderoso. Até mesmo a comida tinha gosto de morte. O sal era enxofre, e queimava a pele destes demônios que foram julgados culpados do crime da vida: Sentenciados à perda de capacidades cognitivas, expectativas de vida, sonhos efêmeros; entre outros. O câncer me assolou com 17 anos, no auge dos meus sonhos. Havia terminado o Ensino Médio, disposto a entrar numa faculdade de escrita criativa, para dar continuidade aos meus rascunhos que tenho desde os 12, quando li Lancelot pela primeira vez. Foi onde comecei a me fascinar pela escrita de Shakespeare. A forma como ele brinca com as palavras, com metáforas e todo o mais; as rimas e a rapsódia que ele organizava tudo aquilo de forma orquestral. É incrível. Fico triste de não poder terminar com o postulado de suas obras, mas, neste pouco tempo que me resta, irei me render ao apogeu de Shakespeare.
Sentei-me sobre a janela mais próxima. Ela tinha a vista para uma boa paisagem. Sou de uma cidade litorânea, e a maresia brinca com meu rosto quando a cisterna desta janela em minha alma se rompe. Inclino-me, e enquanto mastigo uma barra de cereais, começo a ler para mim mesmo, baixo.
– “Não chame o meu amor de idolatria
Nem de ídolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo.” – Paro subitamente e vejo se alguém me observa. Gosto destes maneios às 14, quando o pessoal aproveita pra dormir, e os jovens doutores com o futuro pela frente, fodem em alguma dispensa (Ver Gray’s Anatomy deixa as pessoas paranoicas). Shakespeare falava para que ao apresentar, não ficar serrando as mãos ao ar, freneticamente, sem emoção, e que se falasse em alto e bom tom. Empertiguei-me no meu assento, levantei, e continuei a exultar – É hoje e sempre o meu amor galante,
Inalterável, em grande excelência;
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença. – Fico fascinado com a leveza que sai. É como se toda energia ruim e negativa saíssem sobre mim, num só impasse. Sinto vontade de titubear por aí, e falar das regalias do mundo de uma forma inexorável, que somente um bobo entenderia. Talvez aquele palhaço risse comigo, e juntos, andaríamos nos carrosséis da vida, cantando Rock e lendo Byron pelo resto da vida. Estava pronto para continuar, quando ouvi passos saindo da surdina. Meu rosto se enrubesceu imediatamente, como se tivesse visto a alma de minha esposa vendo-me com a atual, após a sua morte. Me encostei, e quando pensei em continuar lendo mentalmente, ela falou de uma vez só, e altiva.
– ‘Beleza, Bem, Verdade’, eis o que exprimo;
‘Beleza, Bem, Verdade’, todo o acento;
E em tal mudança está tudo o que primo,
Em um, três temas, de amplo movimento. – E olhou para mim. Foi um tapa na cara no escuro, em que eu arregalei os olhos para ter certeza de que era verdade mesmo. Pensei até em beliscar a mim mesmo para ter certeza que não era um sonho, mas mesmo assim, fiquei empalidecido vendo-a. Ela era linda. Uma garota afrodescendente. Seus olhos tinham cor de âmbar ao Sol, mesmo sendo escuros. Seus cabelos longos e enrolados eram como um transe para mim. Perdi-me em seus olhos e no labirinto de seus cabelos. Sua voz altiva representava um semblante vívido, de quem estava no auge da vida, mas seu vestido florido demonstrava que ela não era uma médica, ou alguém que trabalhasse lá. Ela era apenas uma pessoa que teria o mesmo fim que o meu, ou, se Deus fosse misericordioso, não a chamaria para cantar em seu coral de anjos ainda. Seu sorriso era cativante, e a cada passo que dava, ouvia dentro de mim como se foguetes de ano novo anunciassem novas vidas e novas experiências, e, 365 dias sendo vividos em poucos segundos, ao lado dela. Balbuciei quando ela se sentou, e percebi que ela esperava a minha deixa. Pela falta de anotações, ou de mostrar a mim de forma limpa, deduzi que ela conhecia de cabeça, então, olhei no livro e continuei.
– ‘Beleza, Bem, Verdade’ sós, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora. – E fixei meus olhos nela. Fiquei um pouco calado, quando percebi que esta dama havia completado também, em uníssono, este poema. A garganta engasgava a cada pensamento que surgia, mas o peito tamborilava, como se o samba que aquela garota estava proporcionando, fosse mais do que qualquer coisa. Antes de tudo, levantei para que ficasse próximo a ela, e vi como ela sumiu diante disto. Eu devo medir um pouco mais de 1.85, enquanto ela batia em meu peito seco e magro. Fiquei imaginando se conseguiria erguer aquele pedaço de gente, mas até mesmo o mais forte homem se desmantelaria só de estar em sua presença. – Me chamo Sidnei, e você? – Dei-lhe a mão. As veias saltavam pra fora, no embalo que estava o meu coração, e os músculos se tornaram tão pesados, que só de estender, eles haviam feito 1000 flexões.
– Me chamo Cássia. – E riu no final.
– Não sabia que gostava de Shakespeare; é o meu favorito! – Puxei em comum.
– Eu também o amo, mesmo não tendo muitos amores na vida – Ela me redigiu meio cabisbaixa. Perguntei-me o porquê, mas para não pesar, continuei.
– “Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.” – E vi seus olhos vivos.
– Também gosto deste soneto, mas, obrigada por ter alegrado o meu dia hoje, foi um tanto difícil, sabe? A morte… – Ela parou. Esquivei de todas as memórias que postulavam a minha recém-aquisição ao mundo dos mortos, e deixei de lado todo e qualquer devaneio que me levasse a isto. Notei que uns dois médicos estavam parados um tanto distantes, observando. Mas não liguei para aquilo. A garota poderia estar com o que fosse, mas eu já estava condenado mesmo, então nem ligaria de só assegurar a minha partida já decretada. Próxima parada: Hades.
– Lembra-se do príncipe louco em Hamlet? – Ela anuiu com a cabeça – Então se liga, enquanto estes guardas estão de vigia, vamos fingir estarmos loucos. – Fui até uma sala qualquer, e arranquei a cabeça do esqueleto que estava ali. Foda-se as aulas de anatomia, as partes do corpo estão bem visíveis para saber que só falta a cabeça. Mesmo a cabeça regendo o corpo, este espetáculo pode ser aclamado por uma plateia fervorosa, e sem a parte principal, os artistas devem dar um jeito. – Ser, ou não ser: Eis a questão – E escuto as gargalhadas vindas dela. Para entrar no personagem como um todo, mudo a postura, a forma de andar – Por que ris, pobre Ofélia? Minha amada! Da loucura de teu pai Polônio foste tomada? Será que este rato anda rateando por aqui? Em alguma cortina daqui? Ou Laertes irá me confrontar num duelo com este veneno que me olhas? Talvez em alguma árvore que te acolhas. Mas no fim, deixo a Horácio a minha marca; Fortinbrás à Dinamarca! – E fingi cair. Ela estava rindo, mas se controlava para prestar atenção, e ao mesmo tempo rir. Quando eu vi que ela parou de rir e tomou meu livro, estava apontando para uma resenha ditada em algumas anotações à parte do livro. Era de Hamlet. Mas pouco me importei e fechei assim mesmo, tomando em mim sua mão. A pele era macia, mas um pouco árida. Provavelmente por conta do tratamento.
– E então, o que achou da minha apresentação? – Perguntei-a.
– Foi o spoiler perfeito de todo Ato V da peça. O resumo, em pequenas estrofes. Assim como está ali no livro. Bela anotação inclusive. – Ela apontou pra mim, mas olhando para trás. Notei que seu olhar havia morrido, e quando me virei, dei de cara com os enfermeiros, dizendo que era a hora de mais coquetéis. Eu não estava muito afim, porém, quando me virei, ela havia ido.
– Vamos, Sid? Tenho certeza que você vai se sentir melhor – O mais alto disse. Sua voz soava em toda a acústica daquele corredor, como se tomasse um lugar de sua mente.
– Eu já estava super bem sem a aquisição do Homem-sereia e do Merxilhãozinho, mas tudo bem. – Dei de ombros, e segui sem a ajuda deles. E quase ouvi eles socando as mãos, e dizendo: Unam-se.
Naquela noite eu só fiquei pensando em como foi maravilhoso aquele encontro, e como mudou todo o decorrer do meu dia. Aquela garota conseguiu me fazer morrer de amor, mas felizmente, não matei pensando que era amor. Pensei em ensaios para fazer com ela, mas… Qual era o nome dela mesmo? Cássia, não é? Amanhã eu posso perguntar novamente, e podemos viver tudo isso e mais um pouco.
Eram 03:00 da madrugada, quando o ar gélido adentrou o meu quarto de tal forma que arrepiou meu corpo por inteiro. Senti um súbito frenesi que percorreu por toda a lombar, e parou na nuca. A espinha estava ouriçada, como se uma música fúnebre percorresse ali. Saí novamente pelo corredor, e sentei-me no mesmo assento. Abro a janela, e deixei o vento me inundar, com este sereno que me trouxe a paz. Notei que o livro estava onde eu havia deixado, e tomei-o para que pudesse continuar. Mas antes que eu pudesse fazer outra cena, ela veio em minha direção.
– Ei Sid! – Disse ela saltitante. Ela usava o mesmo vestido florido, mas um pouco mais pra dentro. Aquilo havia ressaltado suas curvas, deixando a visão ainda mais panorâmica. Sua saia era longa e preta, completando-se com meias-arrastão também pretas. Era como se a Lua fosse apenas um feixe de luz, botando-a para arrasar no palco, à espera dos aplausos, e dos gritos. Estava impecável – Sou eu, a Cássia, lembra né? – Disse tocando-me.
– Como esquecer você? – Respondi ardentemente. Aos poucos, fui cedendo ao espaço que ali me envolvia, numa espécie de buraco negro. Ela sugava qualquer forma de luz ou pensamento que surgia e tudo parecia sem forma, e esquisito. Eu havia perdido um pouco a noção do tempo no devaneio anterior, que nem sabia que horas eram, mas, era normal. Com ela, tudo era mais rápido; como os 365 dias em 3,65 milésimos de segundos, bombeando para o corpo inteiro; frígido coração. Estava com os olhos no livro, quando senti o seu toque. Desta vez, o seu frio irradiou pelo meu corpo, como se algo estivesse faltando, e, ela toldou numa cara de espanto. Como se meu espírito entrasse em estado de vigília, e a espinha saísse do meu corpo, me deixando bambo; tomando-a nos braços e dançando tango. A luz irradia seu rosto cálido e a deixa à mercê; numa incontinência inocente e infantil, junto da perversidade Sartre. Seus guardas estavam compondo a si mesma, canções de amor, enquanto eu tinha meus sinos que anunciavam o fim do ciclo. O Sol raiou, e ao primeiro vislumbre da sua magistralidade de seu nascer, ela havia ido, e os médicos estavam logo atrás, prontos a me levar pro quarto.
Depois daquele dia, eu não pude sair. Era limitado a poucas visitas, e somente de familiares – ou familiar, como era só da minha mãe. Mas aquele dia e noite valeram para mim, pude ter e reconhecer o que seria um amor de verdade. Tendo sido acometido a quimioterapia em minha melhor fase, não tive tempo para desfrutar do amor. Quem amaria alguém desta forma? Era como possuir estrabismo num mundo em que só o que é visto, é bem avaliado. Mas ela viu os meus olhos com a janela da alma, e, num conto digno de Shakespeare, ela me amou ali mesmo.
Encarecido e acometido de tal doença poder me levar em breve, resolvi deixar alguma forma que ela pudesse se lembrar de mim. Ela parecia saudável, então, haveria tempo. Irei escrever uma carta, e, quando chegasse perto de alguma coisa, eu a daria para a minha mãe, para que ela pudesse entregá-la. Penso eu, que uma descrição e um nome bastam, para tal, não? E assim comecei.
Ofélia distante de meus caminhos oscilantes; permita que desta vez encontre o alvorecer que tanto procura. Desta sombra que me circunda, não lhe reste nem penumbra; deixando meu ser titubeante. Que este delírio não seja só a doença, mas também o que te exime; deixaste-me feliz, com tal repúdio a morrer sem conhecer o amor. Que a todo ato atroz, também há uma anestesia para aliviar a dor; que tal maneira não te oprime. Ademais, que tal reinado se finde. Esta coroa é árdua demais para os que não hão de entender o vinde. Passo a ti, bela dama, o meu último desejo de vida; não há volúpia neste mente, nem lascívia. Somente o árduo desejo de vê-la à luz do Sol novamente; sinto-me respaldado também por tal lua veemente. Porém, só dos sombrios é a noite, em que não se via; O Senhor outorga-os com a luz do dia. Ver-te com tais olhos de âmbar e poder sentir o teu frescor; perder-me no labirinto dos teus cabelos, em cada curva dos encontros do teu odor. Oh, dama, não deixe que o canto do galo a profane; sei que deverás ilusão há para quem ame. Mas sei que somente no teu toque, há o canto de fole; um réles mendigo para que não esmole. Que em nosso encontro, não sejas, todavia, totalmente perdida; este amor é longevo demais para amar em apenas uma, então te encontro na próxima vida.
Assinado: Sid.
Botei-a em cima da mesa, e deitei. Mas não me levantei mais. As memórias eram flashs distintos. Nem mesmo lembrei de falar pra minha mãe. Nem mesmo lembrei o nome dela. No fim, fui envenenado com este arranhão, na batalha contra a minha própria vida. As últimas lembranças que tive foram acerca da minha mãe, sentada ao meu lado, chorando. Virei para ela, e falei, como num último suspiro:
– Quem constrói mais forte do que o pedreiro, o engenheiro, e o carpinteiro? – Indaguei-a. Meu vislumbre foi tão forte, que nem ouvi a sua resposta – O coveiro, pois suas casas duram até o dia do Juízo – Apontei para a carta, e dei-me o último suspiro.
Gertrudes
Uns dias após a morte do meu filho, fui atender ao pedido, mas fui surpreendida outra vez após chegar lá. Cheguei para a moça que ficava no balcão, e perguntei dessa tal Cássia, mas a única que havia, já tinha ido. Fiquei curiosa, e fui procurar o médico que atendeu ao Sidnei. É claro que, como ele acompanhou o caso mais de perto, ele saberia informar se viu algum encontro, e assim, sanar algumas dúvidas. Porém, não foi bem assim. Ele me levou ao seu escritório, e começou a falar do caso do meu filho. Não pude deixar de me emocionar, então, para findar isto de uma vez, dei lugar à voz:
– Não vim aqui para falar disto, só quis honrar o seu último pedido. Eu poderia deixar a carta com o senhor, e o senhor procuraria essa tal Cássia? A moça que fica no balcão me disse que ela foi embora, mas acho que deve ter alguma referência, não? – e dei a carta para ele ler. No começo, a sua expressão foi de espanto, mas no fim, ele se tranquilizou e disse.
– Senhora, sinto lhe informar que não foi isso que aconteceu. Na verdade, a menina está morta. – O espanto subiu em meu rosto, enquanto ele continuou – Na verdade, no mesmo dia em que o seu filho ficou sabendo que sua vida estava sendo encurtada por um período indefinido, essa garota veio a falecer. Na verdade, ela entrou em coma. Os parentes seguiram relutantes para ver se ela acordasse. Por coincidência ou não, no mesmo dia em que seu filho piorou, eles decidiram desligar os aparelhos. Sinto muito, senhora. – E levantou me ajudando – O delírio é comum em pacientes com câncer terminal, não ache que ele foi exclusivo. Mas chuto em dizer que eles nem se conheceram, dado a que as circunstâncias não os favoreceram. É uma coincidência e tanto – Pegou e enlaçou meu braço ao seu, me guiando para fora. No fim, me deu um número de telefone, que remetia a um psicólogo, e se despediu dizendo:
– Às vezes ajuda. Nós não conseguimos ver muitas coisas, por conta que a nossa janela da alma, possa estar suja. Às vezes há um reflexo ou outro, que nos fazem pensar que enxergamos, mas ao passar a mão para encobrir, ficamos mais cegos ainda, e damos graças a esta cegueira. – Me abraçou formalmente – Até logo, Senhora!
Segui pelas ruas com uma curiosidade infame, que não seria suprida por algo daqui. Não, acho que não. Olhar para o céu me faz ver o quanto somos insignificantes, e o quanto não somos civilizados; vivemos no mato! E toda essa coincidência, é uma bela desculpa para Deus se manter no anonimato.