Um conto de Danilo Fochesatto
Danilo Fochesatto é cuiabano, servidor público, mestrando em propriedade intelectual e transferência de tecnologia, cervejeiro caseiro, bacharel em Direito, redator de patentes, compositor de algumas trilhas sonoras de curtas-metragens mato-grossenses, autor do livro de contos 8ITO (com ilustrações de I. Bê Gomes), e que conta, ainda, com diversas publicações em jornais locais. Para saber mais sobre o autor, ouça a versão em áudio de seu conto ‘Entrevista‘, que integra seu novo livro Lá, onde uma porta jamais parou de bater. Antigas desventuras literárias podem ser encontradas nos blogs Ab Absurdo Ad Extremum e Coletivo Arcada Dentária.
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DRAMATURGIA
Que Brecht não se incomode por adaptá-lo, mas depois da cegueira branca, veio a vitória dos militares nas urnas. Daí levaram os dissidentes. Mas não me importei com isso. Eu não era um deles. Em seguida, levaram os artistas. Tampouco me importei com eles. Eu não era artista. Depois baniram os ateus. Mas não me importei com isso. Eu não pertencia àquele grupo. Um dia, levaram os homossexuais. E eu não dei a mínima. Noutra ocasião, puseram os transexuais para fora. Mas não me importei porque eu não era trans. Depois disso, internaram os drogados. Também não liguei para isso, pois eu não era um drogado. No fim, me agarraram e me levaram por eu ser quem eu era, e eu achei foi bom. Pelo menos assim eu não tinha de lhes provar que o melhor das estátuas equestres não é sua durabilidade, mas a possibilidade dos pássaros cagarem na cara do milico homenageado.