Um conto de Débora Pedroni
Débora Pedroni nasceu em Niterói, RJ, em 1980. Cursou Letras/Inglês na UERJ entre 1998 e 2003. Em 2008, começou a trabalhar em navios de cruzeiro da empresa Royal Caribeean e viajou os 5 continentes durante quase 5 anos, tendo passado por mais de 60 países. Hoje, mora na Croácia e trabalha com criação de conteúdo, além de dar aulas de inglês e português pra estrangeiros. Foi recentemente convidada a ser Embaixadora da Rede Mulher Empreendedora na Croácia, e desde então produz textos e artigos voltados ao empreendedorismo feminino. Participa também de algumas antologias e coletâneas no Brasil e exterior.
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Navegar é preciso…
Já dizia a letra da música daquela banda carioca. A menina sempre foi encantada pelo mar, e seja qual fosse a estação, estava ela lá. Descalça, cabelos ao vento, às vezes loira, em outras épocas com cabelos mais escuros, esguia e de pele dourada. Ela e o mar.
Durante um tempo de sua vida, acreditou no amor eterno. Talvez a paixão pelas palavras, a obsessão pelos livros de contos e romances americanos a tenha despertado esse interesse em viver um amor para sempre, como nos filmes de Hollywood ou seriados que assistia todos os finais de semana. Cursava o último ano do Ensino Médio quando se apaixonou por ele, cara de menino, olhos verdes e pele morena. Nunca havia sentido nada parecido antes, e se deu conta de que eram sintomas de amor eterno.
Aos domingos, depois da missa, se encontravam pra andar pelas ruas do bairro, que naquela época não oferecia risco algum. Vez ou outra iam pra cidade vizinha, onde se esbaldavam nas areias de sua praia favorita. Corriam, como se quisessem abraçar o infinito, caíam, mortos de cansaço e com um sorriso no rosto, sentiam-se realizados. A famosa ideia de que nas pequenas coisas encontramos a felicidade verdadeira.
Ela cursou faculdade de Letras. Queria ser escritora e colocar no papel tudo aquilo que permeava seus pensamentos, as frases que ecoavam em sua memória. Começou a trabalhar em um cursinho de inglês em frente a sua casa, e pra ela, era como se fosse um passatempo, pois adorava ajudar as pessoas ensinando o que mais adorava na vida. Ele nunca se interessou pelos estudos. Queria conquistar o mundo, ser empreendedor e dono do seu negócio, mas não tinha recursos para tal feito.
Faziam planos de se casar e viver a vida no exterior. Não haviam ainda escolhido onde, mas tinham a certeza de que iriam morar em algum lugar no litoral, na Europa. Ela, receosa com todo esse planejamento que ele fazia, sentia-se por vezes insegura, um tanto apreensiva em deixar seu país e sua estabilidade pra se aventurar por terras desconhecidas. Ele, no entanto, queria desbravar os sete mares, mas não sabia como.
Numa tarde de abril, ele a encontra sentada na lanchonete do bairro, e comunica que na semana seguinte irá pra Alemanha trabalhar com limpeza e jardinagem. Assim, na lata, na cara e na coragem. Depois de 3 anos juntos, ele decide, por si só, realizar seu sonho. E ela não estava incluída nele. O mundo dela desabou, se viu perdida e sem saber que direção tomar.
Passados 6 meses desde que se viram pela última vez, ela recebeu uma proposta de trabalho irrecusável e tentadora: trabalhar em navios de cruzeiro pelo mundo! Logo pensou, que sortuda eu sou! Terminado um relacionamento sem futuro com uma pessoa egoísta e individualista, ela se viu pronta a realizar seus sonhos, a desbravar os sete mares, e foi! E viveu assim por 5 anos, entre contratos e férias com a família em casa. Foram os 5 anos de maior aprendizado e descobertas que teve.
E ele? Que fim teve ele? Bem, ele voltou pro seu país, após 9 meses de trabalho que nada lhe renderam financeiramente, e não desbravou nenhum mar. Nadou e morreu na praia, como diz o ditado.