Um conto de Jeovânia P
Jeovânia P é poeta, bacharel, licenciada e mestre em Filosofia pela UFPB, especialista em Educação pela UEPB e licenciada em Letras pela UFPB Virtual. Atualmente faz uma especialização em Educação Financeira e é aluna especial do doutorado em Letras da UFPB. É professora de Filosofia. Poeta e amante das artes em todas as suas expressões, tendo experiência como atriz, diretora teatral, produtora musical, e com poemas publicados em jornais, on-line, livro individual e algumas coletâneas. Em 2017 dirigiu o espetáculo poético teatral Desconstruindo a poesia, que participou do projeto Aldeia SESC/PB. Foi Menção Honrosa no IV Concurso de Poesia Luís Carlos Guimarães, Fundação José Augusto, 2001; 1º lugar no I Concurso Literário de Contos dos Estudantes da UFPB em 2006; e 1º lugar no I Concurso Poético Performático da SAMBA, Natal/RN, 2011. Em 2016, lançou Palavras Poéticas, pela editora Ixtlan, São Paulo. Lançou em Natal em maio de 2019 o livro Poeticamente Entre Versos & Bocas pela editora Ixtlan. Ainda neste ano de 2019, no início de novembro, lançou os livros A-M-O-R, que é uma coletânea de poemas, pela editora Sangria; o de contos, Quem abriu a boca da pedra, pela editora popular Venas; e a coletânea de poemas e contos da qual é idealizadora e organizadora, a saber, O Livro das Marias, no III Encontro Nacional Mulherio das Letras, realizado em Natal. Teve seu livro selecionado no edital de obras poéticas da UFPB, em 2019, e, nesse momento, espera pela publicação do livro de poemas, Re[s][x]istência, pela editora da UFPB.
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Surgimento
Há alguns séculos o mundo não era assim dessa forma que vemos hoje. Era um dia feito com homens, serviços, flores, era dia e como não se contava o tempo, n’uma hora qualquer de um parto nasce um ser estranho que nada tinha a ver aquela sociedade, o modo de sentir, falar, sua altivez, amado por todos, pelo céu e pelos homens. Eles chamaram-no de poeta.
Na infância, deu cores e nomes às flores. Foi uma reviravolta de cores, cada um com um cheiro. Escreveu até poema pra pedra. Até aí, tudo normal! Era criança, mas cresceu, recresceu, tornando-se um belo rapaz e o dia aquecia os fervores da carne e o poeta, na sua sem-vergonhice que só ele sabe ter, foi pai. Por mais de vezes. Na primeira vez que pôs seu rebento em mãos, fazendo nova canção, o céu, que tanto apreciava o poeta, de comoção chorou. Não lhe era dado, até então, o poder de chorar. O povo se admirou. O céu também, mas choveu. Num era choro humano: era chuva muita. Só o poeta mesmo para dar esse toque ao mundo.
Não se sabe ao certo o porquê, mas é normal morrer. E o poeta seguiu seu destino, fechando os olhos. O céu, nessa hora, não se aguentou e vestiu-se de luto e foi chorando que nasceu a noite. O sol não pôde ver aquele garoto maroto ser enterrado e se escondeu de dor e apareceu, com um pedacinho, no lugar, de vestido de ouro. Lua, vestida de prata, trazendo um frio consigo de quem, no suplício, sente dor e não quer desabar, aguenta, firme, forte e mudado.
O poeta, porém, deixando o seu corpo ali naquele buraco, viu que tudo tava diferente. O seu sentimento, pela terra e pelo céu, fê-lo subir, virar estrela, olhar os seus filhos lá de cima e, em conversa com a lua, dizer-lhes:
-Eu to aqui do teu lado, num chora, quero brilhar junto a você.
Aí, o céu aceitou os apelos e voltou a ser dia.
Hoje, o dia é dividido em dia e noite, pois o céu decidiu lembrar e relembrar a toda civilização que um dia nasceu um poeta e morreu o mesmo, nascendo a noite com o seu pranto de mãe que perde um filho.
E se hoje sois incapaz de contar as estrelas no céu, não se preocupe: o primeiro poeta também foi o primeiro artista e, depois dele, a cada artista que nasce, o céu festeja com uma fita colorida, o arco-íris. E quando ele morre, deixa de ser estrela na terra e passa a ser estrela no céu, iluminando tudo.