Um conto de Laura Cristina
Laura Cristina tem 17 anos e mora em São Paulo. Desde criança nutre uma intensa paixão pelos livros e pela escrita. Fato que fez com que aos 10 anos, começasse a escrever histórias e poemas, sobre os mais diversos temas. Dona de uma lista de mais de 70 livros lidos, sonha em ser uma grande escritora um dia e ama escrever sobre ficções científicas, histórias de amor e fatos ocorridos em sua própria vida.
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Gavetas
Os pingos de chuva latejavam na janela. Do lado de dentro da casa, era possível escutar o som repetitivo do cair deles pelo vidro.
Ensopada, adentrei o ambiente e pus o guarda-chuva num canto esquecido da sala. Ele não me tinha sido muito útil aquele dia, considerando o estado em que me encontrava.
Tirei as roupas molhadas e as troquei por outras secas.
A chuva continuava a cair.
Atravessei o corredor em direção ao quarto e parei de frente ao guarda-roupa. Puxei as portas pesadas de madeira e fiquei paralisada diante da imagem que vi.
Um caos. Peças e mais peças de roupa disputavam espaço no minúsculo móvel. Resolvi começar o trabalho.
Joguei tudo em direção ao chão. Uma montanha de roupas se espalhou pelo piso, todas emboladas e amassadas. Fui em direção às gavetas e repeti o ato.
Mais e mais roupas se espalharam. Comecei a analisá-las para, enfim, começar o que tinha ido ali fazer.
Em meio ao monte, avistei um moletom preto que eu conhecia bem. O perfume dele ainda estava ali, como se nunca tivesse, de fato, saído. Separei-o numa caixa.
A próxima peça era um vestido. O mesmo que eu usara no dia em que nos conhecemos. Era Outono, e o vento forte quase levantou minha saia, o que o fez gargalhar. Aquele riso que eu jamais esqueceria. Que eu sempre dizia que deveria tocar no rádio.
Fiz o mesmo que o moletom. Passei por algumas peças inúteis. Camisetas de bandas que já tinha deixado de gostar, calças jeans que há muito já não me serviam, casacos cheios de bolinhas…
Então eu encontrei uma saia lilás. Eu estava com ela no dia em que nos beijamos pela primeira vez, naquele parque na cidade em um dia ensolarado. E uma blusa cinza, que ele me emprestara naquele dia nublado e frio em que vimos aquele filme no cinema. Filme esse que não me recordava mais do título por mais que tentasse.
A chuva já havia parado de cair, e eu continuei com a minha limpeza. Peças e peças se juntavam à caixa. Blusas, saias, camisetas e moletons. Tudo que me trazia ele de volta à memória.
Até que cheguei a uma que mexeu comigo mais do que as outras. Uma blusa azul. Eu estava com ela no dia em que ele me deixou. Puxei-a e por uns instantes, analisei. Tantas memórias, tantos sentimentos aquela simples peça me trazia. Relutante, juntei-a às outras na caixa.
Fiz o mesmo com as gavetas, até que a caixa se tornou pequena e logo precisei pegar mais uma.
O sol estava se pondo, e parei para observar o guarda-roupa. Dessa vez, todas as peças estavam devidamente organizadas e em seus lugares. As gavetas estavam um brinco. Parecia que o furacão que havia passado por elas já não existia mais.
No guarda-roupa talvez não existisse mesmo. Porém dentro de mim, ele continuava latejando forte a cada dia. Eu arrumava a bagunça das gavetas, porque ainda não havia aprendido a arrumar a do coração.
Luciano Otaciano
Eu amei o conto, ficou exCelente. Muito bem elaborado e bastante criativo. Parabéns laura, forte abraço!
Lia christo
Oi Laura.
Gostei muito do conto. Parabéns pela escrita.
Bjus