Um conto de Maiza de Lavenère Bastos
Maiza de Lavenère Bastos: apaixonada por letras, linguagens e som, Maiza é bacharel e mestre em análise do discurso. Gosta muito de discutir filmes e texto multimodal. Estudou música por alguns anos e atuou como professora e tradutora por muitos outros, enquanto tocava em bandas da cena local de Florianópolis. Largou tudo para ir viajar. Do outro lado do oceano, virou marketeira, trabalhou no mercado de energias renováveis por seis anos e aprendeu coisas incríveis. De volta à casa e, em meio à loucura pandêmica, entre trabalho e leituras, experimentações musicais, literárias e visuais, pesquisando possibilidades de movimento na busca pelo seu eu artístico, pela primeira vez decidiu mostrar algumas das coisas que escreve. Et voilá!
***
4ever dolphin love
Chove em São Paulo. Aqui na Frei Caneca, as bee passeiam com seus dogs anyway. É garoa fina. O bar da Gomide segue bombando. Azamigue não perdem o fervo no fucking way.
Acho que é sábado à tarde e passamos o dia no seu apê fumando um, ouvindo música e transando. Eu não gosto de você, mas me entretenho com você.
Não gosto de você mas forever dolphin love mudou o pulsar do tempo quando entramos no chuveiro com todas as luzes do apê apagadas e a imagem da gente naquele banheiro todo-embaçado-cheio-de-vapor marcou minha memória como se fosse um filme. Ou terá sido o hash?
Fumamos na sala e você desliza seu pau pra dentro da minha buceta. Seu pau é delicioso, grande e grosso e cabeçudo. Macio. Você aperta a minha cara e me chama de vadia enquanto me come com força. Disso não posso reclamar.
Corte.
É delicioso assistir sua transfiguração, as contrações medonhas do seu cenho. Fisionomia que se contorce em espasmos; ora mostrando os dentes, ora apertando os lábios, num esforço aflito para engolir a pouca saliva que te resta. Você balbucia palavras ininteligíveis, que saem flácidas dos seus lábios amargos de Zopiclone.
O movimento débil do seu rosto e dos seus membros está ritmado com o da serra em minhas mãos. Você tenta retomar controle. Mas soa como um porco que sabe que vai morrer num rugido semi surdo, em seu choro final. E o seu olhar tão perplexamente dopado é o seu melhor espetáculo.
Penso em você comendo de boca aberta, aquela saliva branca acumulando nos cantos enquanto mastiga a massa amarela lá dentro. Eu me entretive com você mas nunca gostei de você.
Chove na frei caneca. Acho que hoje é sábado e já anoiteceu.