Um conto de Mayra Guanaes
Mayra Guanaes nasceu em 1990, em São Paulo. Formou-se em Letras pela UNIFESP e atualmente faz mestrado em Estudos Literários pela mesma instituição. Publicou em antologias como Aquarela (Editora Andross, 2014), Patuscada (Editora Patuá, 2016), periódicos como Altavoz (2015), Construtores de histórias (2015), Entrementes (2013), e O pimenteiro (2013), em que colaborou como editora também. Também participou como atriz-dramaturga na peça Primavera (encenada pelo grupo O Pequeno Teatro de Torneado, 2008). Atualmente, é professora, escreve para o blog Impressões de Maria, produz eventos culturais e ministra oficinas de criação literária.
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Da areia clara perto do mangue
Barulho do mar e gaivotas em uma praia vazia. Um mar azul e a faixa de areia, amarelada, fina, clara. Barulho do mar e gaivotas. As ondas batem e se desfazem molhando e tornando a areia mais escura. Um pouco distante, um mangue. O sol das onze horas bate forte, refletindo a areia e o mar. Conchas quebradas arrastadas pela maré e algumas rochas completam esse cenário do fim de uma manhã de um início de verão qualquer.
Usando um vestido florido que cobre o biquíni e óculos de sol, ela caminha calmamente. O sol reluz seus cabelos grisalhos, presos em um coque improvisado por um elástico já esgarçado pelo tempo. Vez ou outra uma mecha de franja insiste em cair na direção de seus olhos e ela empurra a mecha para trás da orelha, sorrindo.
Nada parece acontecer naquela praia quase deserta a não ser o barulho do mar e das gaivotas. É uma sorte essa aposentadoria que veio em boa hora e a possibilidade de caminhar pela praia em uma tarde de quinta-feira.
Ela tira os chinelos e, levando-os consigo em uma das mãos, segue sua caminhada, arrastando os pés, sentindo a areia molhada e as ondas que se aproximam formando espuma.
O mangue. Ela pensa, nunca tinha visto um mangue de perto e caminha em sua direção. É provável que essa seja a primeira e última vez que ela tenha a oportunidade de se aproximar de um mangue e quem sabe encontrar um caranguejo livre por ali. Vez ou outra, dá uma pausa na caminhada, sentindo a areia se acomodando entre os dedos de seus pés, fecha os olhos e sente a brisa salgada batendo em seu rosto.
Atrás dela, com uma distância sutil, um jovem rapaz, com um corpo bronzeado, ostentando músculos que puxam peso, sai da água, expulso por uma onda, como se a maré estivesse devolvendo uma oferenda ruim.
O mangue. Como será um mangue todo coberto pela água, ela pensa, mas interrompe sua divagação porque ouve um barulho vindo de alguns poucos metros dali. E, então, uma pontada em seu estômago sugere uma velha sensação de estar sendo seguida por alguém.
Apreensiva, desloca a atenção do mangue para virar-se para trás e percebe aquele jovem, parado há alguns metros, com uma das mãos por dentro da bermuda de tactel. Ele a observa, sem demonstrar surpresa, e sem interromper o movimento que faz com uma das mãos.
Ele olha para cima e murmura algo incompreensível, no entanto, mesmo há alguns metros de distância, ela é capaz de escutar um gemido que inicia uma palavra que, ali, soa bastante agressiva:
– […] bucetinha.