Um conto de Sergia A.
Sergia A. vive em Teresina-PI. Mestra em Letras/Literatura, Memória e Cultura. É autora dos livros: Quatro Contos, Editora Quimera (Teresina, 2018); Adejo [Poemas], Editora Venas Abiertas (Belo Horizonte, 2019); Coleção I Mulherio das Letras. Tem artigos publicados em livros e revistas acadêmicas. Participou de coletâneas diversas, com produção poética e de contos: A mulher na literatura Latino-americana, Editora EDUFPI/Avant Garde (Teresina, 2018); Conexões Atlânticas, Infinita (Lisboa, 2018); 2ª Coletânea Poética Mulherio das Letras, ABR Editora (Guarujá, 2018); Antologia do Desejo: Literatura que desejamos, Patuá (São Paulo, 2018); Outono Literário, Mulherio das Letras em verso e prosa, FafaLag Editora (Munique, 2018); Eros das eras, Avant Garde (Teresina, 2019); A vida em poesia IV, Helvétia Editions (Rio de Janeiro, 2019); Caçuá – Coletânea de contos piauienses (FUNDAPI, 2020); Mulherio das Letras Portugal – Poesia, Infinita (Lisboa, 2020).
***
Canção de amor para uma menina
Assustada, ela segura minha mão. Seus dedos de tão pequenos se perdem na calosidade das minhas articulações. No rosto, a tristeza profunda dos rejeitados pela sorte de uma infância feliz. O silêncio grita contra as paredes brancas. O analgésico adormece o pranto.
Ouço os gritos da rua. Apago as luzes. Calo as janelas. Apoio sua cabecinha no meu colo. Sussurro ao seu ouvido um desejo: vai ficar tudo bem. Abafo as vozes doentias dos adoradores de deuses. Um acalanto ancestral liberta nossos ventres. Rumores de cirandas. Rodam as mulheres e suas tribos repetidas em mim. Entoam cantos tomando de empréstimo notas emitidas por minhas cordas vocais.
Dorme, menina! Dá-me a tua dor que é minha. Desperta, menina, o amor que virá. É amor o que nos leva até o teu leito em sintonia. Há amor no gesto que te oferece o peito como casulo para o nascer de tuas asas.
O monstro está à solta?
Os monstros espumam em volta?
Sossega! A mesma noite que os acoberta os acolherá em seu abismo de trevas. Serão aprisionados em suas preces sem senso. Serão feridos por suas próprias garras. Queimarão suas peles e suas línguas nas caldeiras do inferno que inventaram.