Um cronipoema de Karine Queiroz
Karine Queiroz é graduada em Radialismo pela UFMT. Produtora, roteirista e diretora e curadora de conteúdos audiovisuais. Aspirante a pesquisadora de temáticas relacionadas ao documentário brasileiro dirigidos por mulheres, representação da memória e experimentações audiovisuais. “Anda dizendo por aí que é o ponto final da reticências, mas começa mesmo é com letra maiúscula”.
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CDV- 2Ep. Medo dos pássaros
Hoje no caminho de volta me peguei com medo dos pássaros.
Eu moro na região central, em um prédio antigo que carrega consigo as marcas do tempo em sua estrutura. Pertinho do rio eu recebo diariamente visitas inusitadas, desde os Sabiás às Araras Canindés, dos Carcarás e mais recentemente dos Urubus.
Mas no caminho de volta, dessa vez, eu fiquei com medo dos pássaros.
Eu tenho pra mim que o incompreendido é manifestado através do medo, ou da felicidade extrema, dois sentimentos polares e distantes um do outro, mas que podem se misturar se a gente levar em consideração a vida cíclica.
Mas hoje, eu fiquei com medo dos pássaros.
Eu sou do signo de touro, e meu ascendente é virgem, tenho terra com terra, e não seria estranho eu ter medo daquilo que pode voar, se não fosse esse medo ser tão latente nos últimos dias.
Mas hoje tive medo dos pássaros.
E aí eu suspendi tudo, levei pro ar os medos que tenho sentido, os anseios e aonde eu quero chegar. Tentei alinhar para descobrir porque esse medo tão evidente, anda tão latente. Lá em cima eu percebi que talvez esse medo não seja de voar, e muito menos dos passáros que encontro todos os dias no meu caminhar. O medo que senti hoje, dos pássaros, pode ter haver com a base, com aquilo que me alimenta, que vem da terra, com aquilo que eu posso enraizar.
Mas quem disse que não tem base no ar?
Não era medo dos pássaros o que senti hoje no caminho de volta.
Comecei a olhar os pássaros de outro jeito. Em vez de medo eu tô buscando a coragem de manter meu caminho suspensa mesmo quando essa base falta, ou mesmo quando eu acho que falta. Porque pra mim, estar longe da terra representa insegurança.
– Imagina estar lá em cima e vem uma corrente de vento e te leva pra sei lá onde.
Mas isso acontece quando a gente tá na terra também.
Hoje no caminho de volta, eu percebi que eu não tenho medo dos pássaros, mas que eu preciso da coragem deles no meu caminhar.
Betto Ferreira
Belo texto, karine! gosto desse estilo que chamo de “crônicas poéticas”. mas “cronipoemas” é muito melhor.