Um manifesto de Renata Marçala
“Sou Renata Marçala, tenho 23 anos, sou acadêmica do 5° semestre do Curso de Licenciatura Plena em Letras na Universidade do Estado de Mato Grosso, em Cáceres. Sou Natural de Fátima do Sul- MS, campo-grandense de coração e agradecida pela beleza que me proporciona o atual lar na cidade de Cáceres-MT. Reconhecendo-me como Transsexual, luto pela liberdade e pelo respeito à vida de todas as mulheres, inclusive, as Trans, alvo de tanto desrespeito. Minha inspiração vem do som, do silêncio, da lágrima e do sorriso. Acredito que no universo tudo se conecta, assim, me conecto com vocês, por meio da escrita, que é uma forma de expressão e de luta.”
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Documento sem nome
O nosso lar
A nossa casa
Um lar
Uma casa
A energia que transcende a tudo se conecta. O magma que expele sua lava devastando o que está à frente, derrete e transforma o material.
Descemos e subimos, mudamos a direção sendo impedidos a qualquer custo de alcançarmos nosso alvo. O alvo é a liberdade. A voz que grita dentro do meu corpo querendo expelir o magma que ferve dentro de mim. Magma que esteve ali, inativo, porém presente, esperando o exato momento de expelir sua vontade de existir, de viver, poder respirar o mesmo ar. A capa que me envolvia já não serve mais. Minha voz já não suporta estar calada. Meu corpo já não suporta estar preso nesse vulcão.
Aqui queimei durante a vida. Sempre soube que o mundo afora, aterrorizado pelos meus torturadores, me levaria ao conhecimento que iluminaria a estrada que trilho rumo a meu alvo. Meu alvo é a liberdade. O poder de ir e vir. A paz. Quero poder falar, quero gritar… SOU LIVRE.
Como o vulcão que por mais poderoso e devastador que seja, um dia quero poder ver meu passado inteiro, contemplando o direito a toda vida conquistado. Que o mundo esmaeça seu ódio e num sol de verão resplandecente expanda a consciência do amor.
Ouvi sussurros de que não sou capaz de mudar o mundo, não tenho crença nessa verdade. Nasci em meio a uma guerra sem fim pela luta de viver a liberdade do meu corpo. Cheguei ao mundo com canhões postos em minha direção. Cada dia que se passou, cada hora, minuto e segundo, segui em frente de cabeça erguida, impondo o direito à vida que todos os seres merecem. A vida é um jogo de xadrez, não importa o caminho, o objetivo é a conquista. Dia após dia novas armas são criadas, mas, para todo veneno há um antídoto. Sangue de muitas irmãs é derramado todos os dias, pelo ódio. Viemos a este mundo pelo amor, venceremos pelo amor. A vida é a mais bela contemplação de nosso conhecimento. Num jardim podem haver rosas roxas, vermelhas e pretas. Todas são rosas. Três pés de goiabeira: dois darão frutos, um deles não; mas os três merecem o mesmo cuidado; O fato de um deles não produzir frutos não o torna menos digno do amor que os demais.
Assim como as rosas do jardim e os pés de goiabeira, seres humanos são dignos de respeito, amor e atenção. Amar a si mesmo e aceitar-se faz parte do processo de desconstrução do pré-conceito sobre o próximo.
Nesse momento as balas lançadas contra mim não me causam feridas por ser quem sou. Chegam a mim causando efeito contrário aos que as atiraram têm intenção de causar. As balas, os chicotes e insultos me dão cada vez mais força para lutar contra o mal que habita esse mundo. Defenderei as minhas e os meus. Estou na linha de frente nessa guerra sem fim, meu sangue poderá ser derramado, mas jamais será em vão.
ELKIA DUTRA RIBEIRO
Parabéns, tbm penso igual a vc todos tem direito de liberdade, de ser o que quiser , principalmente de ser feliz. Amei .