Um miniconto de Paty Wolff
Paty Wolff é multiartista. Suas obras e criações são atravessadas de escritas, cerâmicas, desenhos e pinturas. Autora de “Como pássaros no céu de Aruanda” (Entrelinhas, 2021) e “Thehcitura” (Entrelinhas, 2021). Premiada como escritora revelação pelo Edital Estevão de Mendonça de Literatura Matogrossense 2019.
***
14 de março
Manuseei tanto aquele caderninho, que já estava com a borda toda arrebitada, poucas folhas restavam. As palavras naquela madrugada vinham como tromba d’água, mais veloz que minha mão podia escrever. Olhos secos, sem sono, molhados por teimosas lágrimas a cada frase escrita. Algumas frases borradas, tinta que escorria após o temporal dentro de meu peito. Quando o dia amanheceu, as folhas do caderninho já haviam acabado. Corri para pegar alguns papéis de pão no armarinho da cozinha. O café, na xícara de asa quebrada, engoli rapidamente, quando outra frase inspirada me surgiu.
* Homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus, que morou na favela do Morro do Canindé-RJ, onde era catadora de papel e recicláveis para sustentar seus três filhos. Escreveu em forma de diário o cotidiano duro da favela nos próprios papéis que catava. Os diários foram publicados em seu livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, em 1960.
** Miniconto retirado do livro “Como pássaros no céu de Aruanda” (Entrelinhas, 2021).
Ana Souza
Gostei desse blog. Gosto muito dessa coisa doida que dá na gente e começamos a arrebatar os papéis pra não deixar as ideias voarem. E como voam!!!!lindas poesias eu li aqui.
Ana Souza
Gostei muito das poesias deixadas aqui. Depois, mais calma, relerei todas!!!