Um poema de Ana Luiza Santos Meyer
Ana Luiza Santos Meyer vem de lá da Baixada Santista. É estudante de Filosofia em São Paulo. Nas veias correm vontade de arte e de luta pela construção de um mundo novo, em que haja respeito às singularidades e diferenças, mas não tenha lugar para desigualdade, exploração, violência, invisibilidade, opressão.
***
no térreo
entrou
no banheiro.
cuspindo no vaso aquela
dor-ânsia-de-vômito,
deixou escapar
um •eu•
– que, por acaso,
era com •e• de essência.
pronto.
lá se foi
descendo pelo cano
a chance de convivência
quase que
minimamente
equilibrada
entre carne-e-osso e mente.
então virou o corpo.
nova denúncia
de abuso notificada
na porta.
suspirou.
na festa
entrou
num quase-colapso.
então virou o copo.
pra entrar em transe
temporário.
pra se esquecer
de se preocupar
com o horário
do transporte coletivo,
em cuja janela solitária
a realidade escorre.
no calor-percepção-outros-seres
saiu
pra sentir
que ainda corre quente dentro
que ainda explode vida
(mesmo que Severina)
que pode calejar
(ou quem sabe sorrir)
nas idas e vindas.