Um poema de Ana Maria Rodrigues Oliveira
Ana Maria Rodrigues Oliveira nasceu a 17 de Fevereiro de 1960, em Portugal, no Alto Alentejo no distrito de Portalegre e concelho de Castelo de Vide. Antes de completar um ano de idade veio com os pais viver para a zona de Cascais e aí tem vivido desde então. Em 1986 finalizou a licenciatura em Filosofia na Faculdade de Ciências sociais e humanas de Lisboa. Licenciatura que lhe permitiu dar aulas de filosofia durante alguns anos. Edita o seu primeiro livro de poesia em 2008 através da Corpos Editora, Grito de liberdade. Este livro é uma forma de partilhar emoções e vivências, encarando a poesia como uma catarse. Dedica este livro a todas as mulheres, pela luta e determinação com que enfrentam as adversidades de uma sociedade que ainda manipula e escraviza. Ainda no mesmo ano participa em duas coletâneas: uma de prosa e poesia, A arte pela escrita da editora Escritartes, e a outra, Poemas sem fronteiras de “Ora, vejamos…2008” e Editora LULU de Leiria, que faz uma recolha impressionante da poesia contemporânea. Nesta última Ana Maria Oliveira obtém o prémio da Menção honrosa com o seu poema “Farsa”. Escreve no site de poesia “Luso poemas” onde tem parte dos seus trabalhos. Faz uma edição de autor – Espírito Guerreiro, o seu segundo livro de poesia, em 2014. Mantém alguns sites onde divulga a sua escrita.
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Caterva
Multidões humanas manchando o piso incerto dos caminhos ansiosos da salvação
Erguem o rosto ao céu porque para chorar não há tempo e é imperativo nunca deixar de respirar no revigorar da união
Ouvem-se os gritos das mães carregando os filhos
E só na mente do facínora faz sentido a chacina criando cenários nebulosos
Açambarcando todos os dependentes fracos confusos ociosos
Espera-se a desinfeção dos esgotos a limpeza dos desperdícios arrastados pelas marés
A decapitação do trigal nas planícies onde os velhos olivais são invadidos pelos fungos
E a luz da candeia esmorece nas noites mais longas na iminência de outros mundos
Os pomares são esquartejados por certificados pomposos de ostentação
Para que estômagos sequiosos e avantajados
Pudessem fazer crescer gigantes provocadores de alienações
Deixando outras bocas à míngua e pela fome esquelética dominados
Que homem?
Que sociedade?
Que neura?
Que loucura que insanidade?
Que química perdura na ostentação das luzes?
Que mundo se cria e lê no olho de Osíris que tudo sente e vê?
Que barca se navega em paragens de delírio de névoa cinzenta
Que cavalos débeis e sem vontade se escondem
Na manada que no árido vale armadilhado se apascenta?
Provoquemos a movimentação das águas criando lagos mais cristalinos
Bombardeemos o muro largo e alto do obscurantismo
Ergamos as montanhas verdejantes berço dos seres
Sobrevoemos a queda dos cárceres da indignidade
Ateemos o lume criemos a mudança benemerente mesmo no roncar ameaçador de um sismo