Um poema de José Pascoal
José Pascoal nasceu em Torres Vedras (Portugal), 1953, e é autor dos livros Sob Este Título (Editorial Minerva, 2017), Antídotos (Editorial Minerva, 2018), Excertos Incertos (Editorial Minerva, 2018) e Ponto Infinito (Editorial Minerva, 2018). Tem inéditos publicados nas revistas digitais 7faces (edição actual) e Triplov, e mantém o blogue Gazeta de Poesia Inédita.
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Infelizmente
O poeta ressente-se rejeitado
quando lhe rejeitam os poemas.
É natural.
Ninguém tem culpa.
Ninguém mandou abrir a boca.
Devia ter ficado calado
no seu canto como um bicho
no mato moribundo.
Já vi muitos felinos morrerem desse modo,
de olhos fechados,
sem miados,
nem estados de espírito,
gozando o último sol.
O poeta devia deixar a poesia
para os não-poetas
com lugares sentados nos estádios,
pois ficava em melhores mãos.
O poeta devia dedicar-se
à leitura suave
dos astros decadentes
e das paredes em ruínas
para saber o que é a perdição.
Eu mesmo não escrevo poesia
e sou tão feliz como um dinossauro
cujos ossos ainda não foram encontrados
por nenhum desumano ser humano.