Um poema de Luís de Serguilha
Luís de Serguilha nasceu em Portugal. É poeta, ensaísta e curador de arte ibero-afro-americana. Falar é morder uma epidemia, Os esgrimistas do À-Peiron e Actriz Actriz (O palco do esquecimento e do vazio) são os títulos dos seus livros mais recentes. Criador da estética do laharsismo. Os seus ensaios envolvem-se nos atractores estranhos que atravessam o corpo-arte-pensamento.
O poema abaixo integra o livro Arcoboleta (uma dança), 2020.
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Créditos da foto da bailarina: Grupo Tápias
Fotos – Casa de Abelha
Intérprete – Flávia Tápias
Por – Fernanda Valois
ARCOBOLETA (uma DANÇA)…
Uma DANÇARINA torna-se o inobjectivável sanguíneo vociferado por vergamentos de febre, um sopro de veias vesânicas à volta de animais quase-cegos: é uma ferida vibrátil dentro do exílio sem heranças de qualquer crematório: bricolagens mudamente a dilacerarem o espaço, é um desassossego na eternidade das casas esfolhadas por GESTOS velozes: um pacto de pântanos faz gravitar os GESTOS com o sangue tombado sobre os recomeços das distâncias ingurgitadas por falhas virginais de uma tarântula eslazeirada: o rascunho da salmoura devasta-se dentro dos dedos rodeados de lufadas de silêncio que renuem os tufos das necroses e os arquivos carbónicos da morte: a inocência bate nos dons dos cotovelos das pariduras e enxameiam de cascos vivos os cernes fabulares em queda acidental: as centelhas dos pássaros atraem as travessias das palavras, atingem o alto das laringes espigadas pelos golfos dos GESTOS: os pirilampos cheios de linfas rasgam levemente as pontas de agudeza atrás dos solos incestuosos que se esgueiram entre intempéries e minúsculas angulações dos búfalos: uma DANÇARINA devora o delírio com o silêncio do vazio de uma siderurgia erótica que está por vir, entranha-se nas vidraças do intraduzível, no dicionário insaciável do mundo para penetrar, esgaivar, perfurar as espessuras dos subúrbios, as camadas das imagens do acaso, do caos bífido, da catástrofe oval e extrair dos pulsos os tempos dos astros por meio das suas bordas imperceptíveis (um animal sôfrego no fundo da fulgência: a dor contra o canal de um caleidoscópio de ar): há uma DANÇA de golpeamentos, de fissuras nómadas, de estiletes cristalinos que recomeçam sem origem, fazendo tresvariar, entontecer os GESTOS entre camadas de vácuo esparzidas pelos estertores do grotesco: criar uma dobradura de centelhas, uma envergadura de suspensões que se esboçam na obscuridade das tramas dos duendes, na esquivez dos tecidos das matérias, nos rastos alofilos onde o rosto desaparece coberto por clarões de reentrâncias inclassificáveis porque nunca assoalham, não revelam mas provocam nos atractores sanguíneos uma alucinação de centauros engelhados entre e sobre os mapeamentos abstractos das imagens (um mamífero treme ao respirar a violência das mãos poro a poro ao cimo do sono de um ofício ilegível): há um distanciamento infiltrado nos interstícios dos GESTOS escoados por alomorfias ininterruptas do indizível, há enxertos topológicos com vastas grandezas, há mutações cartográficas dos escalavros e das esfoladuras do animal que foge desabaladamente à exposição do olhar (uma voz escorrega nos átomos da cabeça para sugar o exórdio pulmonar através de uma garganta queimada por um espelho de animais…a arfar): imagens inapreensíveis capturam as falhas azuis, os hiatos dos epiciclos que acendem velozmente encontros balaustrados com tempos coexistenciais abaixarem nos GESTOS levitantes da DANÇARINA( a saliva das tochas é cantada pelo sangue do cataménio): o movimento do indecifrável é ininterrupto e cruelmente subtil dentro da desaparição das esmeraldas onde uma boca súbita se rasga com o som fora a fora: os recomeços obscuros e vibráteis arremessam a DANÇARINA para o impossível que urde ocultamente um acúleo da coagulação devastada pela perplexa ossatura do GESTO: toda a ruína é um ofício das escamas em volta das cúpulas-da-eternidade a ressoarem num ponto instrumental da loucura: o vestíbulo coberto de campânulas é apenas uma filigrana do silêncio críptico: dizem: insituáveis rasgamentos sígnicos antes de qualquer geografia do MARACATAU: ricochetear, altear, revolver as zonas intervalares, segmentadas, intermitentes das palavras diante das imagens esquivas, impulsionando as interrupções no vazio, as mutabilidades gésticas, as incompletudes rés a um LIMIAR que nunca será envolvido, nunca será atingido ou identificado porque há uma criação cruel contínua por meio de um mapa de gritos friccionados por outros gritos entre distâncias de uma traqueia impessoal, vaga (um ventre escorre lançando poças iluminadas de uma cabeça para dentro dos intervalos do sal dos GESTOS: um nome tenta ressurgir e treslouca, sangra compacto em plena transmutação e desaparece: um progénie pende agrilhoada e descampa tenebrosamente entre a carne incendiada pelas alturas dos GESTOS (uma teia de luz em luz assimila a largura da paixão com o precipício adentrado no animal onde uma canção de ânforas escreve a última têmpora ao redor de uma constelação óssea sem idade): cavar o desalinho do espaço com os braços agarrados às limalhas luminosas dos tendões: uma DANÇARINA se faz nó-fulcro deslaçado pelo próprio sangue rés aos elétrodos do húmus: o GESTO flagra, abrasa com as escumas da terra talhadas pela ferocidade imóvel do silêncio: um GESTO recomeça quando reluz para outro GESTO e ouve os ofícios mais antigos a ressuscitarem uma fala assombrosa noutra boca que suga as falanges com toda a demência criativa: é a DANÇA escoada junto das vértebras ingluviosas: aqui-agora: a gravidade do GESTO é trespassado pela conflagração de harpas demoníacas: dizem: vertigem mordida pela própria deificação do sangue: tudo é envolvido pelo desvario, pelo arroubo de um recomeço à volta de falas estrangeiras e alevantadas defronte à oscilação imóvel do resvaladouro: uma ressonância háptica, oscilante e oblíqua incita o encontro arterial com o indecidível e com o inacabamento: o olhar lança o animal para a magnetização do paradoxo que é sempre um acto de fala enlevado pelos abrolhos caninos: é um lanho infindável cingido pela solidão inviolada onde a quase-ablepsia da DANÇARINA se torna uma visiva sem rosto, um eixo sem olhar e sem orlas, é uma hapticidade em desvio pulsátil. É por meio do improvável e do revérbero vigoroso que a visão acontece infindavelmente plena de egressos alvoraçados, impulsionadores de dobras de cogumelos, de estamparias de alteridades, de esboços embriegados, de imagens escarificadas por outro olhar já-em fragmentação (as espáduas ao sol, completamente esfomeadas): os gestos rebentam e arrojam novamente as resinas do olhar para tessituras em sublevação___os flancos inflamados do olhar curvam-se loucamente na física de uma vizinhança contígua e intangível que esculpe a pele da DANÇARINA para DANÇAR o pescoço da morte e mapear as poeiras que batem na exultação do espaço: a velocidade das gotas dos GESTOS faz estremecer sombras púberes com o esquecimento infiltrado no umbigo incalculável: é um tricotar de rasgaduras compositoras de intermezzos de um olhar-GÉSTICO que acontece na sua própria abjunção: o impossível entre reações químicas exotérmicas bate no real, esculpe as veias paradoxais no real, obscurecendo o pélago do olhar de quem tenta se envolver no real: é uma busca incessável que arrasta a obscuridade absorta, é um desaterro sígnico ao redor da álgebra estranha da fala e da visão e o gesto se faz silêncio ensombrado dentro de um movimento infindável: o ritmo vem à insânia das entradas da DANÇARINA: o gesto é a voz inominável, inumana da DANÇARINA: o gesto é a luz sonora sazonada que atravessa incognitamente o corpo da DANÇARINA e instiga a duração da imagem na metamorfose do lapso visível na pulsação institual: o GESTO é um regresso acósmico que faz falar as mucosas do inaudível e ver a altura do intraduzível sem pressupor as movências das cavidades respiratórias: o GESTO é a palavra fluídica que modifica trajectórias e DANÇA a insânia aberta ao inconsciente que abre pedras devoradas por tambores das pedras: o GESTO é uma punção do nervo que nunca alcança o moita-carrasco sanguíneo: é uma rosácea delicadamente cruel: é o corpo infra-acústico da DANÇARINA: um tremor na boca rés aos objectos percorridos pelos gatilhos adiantados do sangue: há uma tensão inominável atravessada pelo sublime nómada da fúria do dizer e dos ecos da alteridade das falas dentro da topologia primordial de uma língua carregada de ressurgências turbilhonares (as mãos vergam os espelhos obsessivos com a aguçamento permutado da carne: o corpo cai com todos os tempos, recolhe as ulcerações que cortam a quadrangulação à volta do inapreensível e do indecidível): a força da falha abismada: a aprendizagem infiltra-se, fende-se na duração das revelações dos pés que entram abertos no pensamento-animal: o corpo DANÇA sem meças e difere-se com almas grávidas por tudo que ainda não aconteceu: fáscias em deflagração, fibras do útero florestal, sangramentos infatigáveis transmutam-se em clarões (a atmosfera vertebral é escutada violentamente pelos fólios de sangue da criatura): as ideias da cegueira diferem do corpo ao galgarem o lume: o milagre turbulento das presas se faz visão activa no garimpo da insurgência porque a pelagem da febre envolve as goteiras de mênstruo nos mastros residuais (uma pedra mordida pelo sangue é cantada pela gravidade incendiada): o dorso resinífero com o tamanho das oratórias apócrifas dilacera-se com os feixes do inconsciente e uma boca insana sobe pelo ventre para desfibrar silenciosamente um cântico do animal: o GESTO sai de si e encontra as valvas lendárias, os estiletes da traição, as escovas da incúria, os ralos dos sons originais, o giz da escuta das benzedeiras, as gargantas das sopranos e uma distância se abraseia ao redor das cabeças lisas dos bichos: os germes moleculares inalam espessuras das astúcias com redes geodésicas e os lampejos da cavilação assimilam os ovos infinitos por meio de uma voz sem oralidade: as oferendas obscuras das peçonhas se tornam uma alma agramatical envolvendo um lémure-de-cauda-anelada, um homem de cabeça catoniana enforcado pelos vultos dos morcegos ou será o desenho da fome de uma língua despedaçada que faz assimilar as bordadeiras das zootomias vadias através da voz mnésica? Ou será uma escalada fora de Deus e com ritos morturários ao cimo do sublime de um silêncio-falante e inscrito nas gretas da prisão? GESTOS do impossível consolam os celeiros das larvas rés aos ombros do chão com tendões da secura catabática: raspas das tíbias entalham-se na luz com batidas animalizantes (a DANÇARINA devolve a pedra à sombra das pálpebras e uma luzência arranca-se com a força da inocência: uma artimanha de candelabros se fotografa ao cimo das cáveas (o silêncio ecoa eternamente no sumário do sangue que se desfaz nos espasmos dos pulsos): não há contextura natural para o híbrido-ontológico do corpo, a derme helicoidal autofagia-se nas áspides dos salitres até atingir uma segadeira de efélides à volta dos sons de Béla Bartók: Mikrokosmos: o corpo levanta-se com o instrumento da loucura e se torna uma captura de sentidos inesgotáveis: os sopros batem nos tímpanos dos aerólitos entre iguanas vazias e crustáceos sensíveis que fugiram aos zigotos dos desígnios: uma ressonância espiritual do acaso coalha o pó dos tornozelos da DANÇARINA (uma faca de obscuridades é testemunha das suas semeações sorvidas por minúsculas lâmpadas ocultas): a queda inominável entre as ossaturas, escoa o tempo e cria lapsos confusos ao escutar o infinito por meio da crueldade do espanto e do esquecimento rítmico (a palavra entalha-se nas entranhas dos assombros e nas repetições vertiginosas da natureza: passagens vasculares afluem para as subtilezas da vocação salina dobrada pelas falanges: as veias expurgam-se nos desaguadouros que abrem e fecham os pés levitantes): a palavra delirantemente fende-se com as urdiduras do próprio cutelo, esculpe o imperceptível na duração do baque e o exórdio do instante é absoluto ao bater nas luminárias porque traduz a flutuação do vazio para incorporar cenofobias, desmaios e o futuro estóico de uma DANÇARINA queimada pelos seus GESTOS (octópodes de sangue a expandirem os seus dedos lisos): as palavras no corpo da DANÇARINA envolvem a contextura asilar rumo ao culto herético do avesso e a morte de um astro transuda na sua vertigem como se a insulação das mandíbulas esponjasse o flanco mais acampto da loucura: o golpe metabólico renasce com os outros-sons da respiração sanguínea e um afecto impulsivo de excertos morfogenéticos adentra-se na ulceração fluídica, fazendo o córion DANÇAR com o acaso de um dardo-carnal: uma lâmpada virgem recolhe as vísceras, assimilando o infinito das cordas na artesania do incógnito: surge o caleidoscópico na consistência do invisível que faz das dobras articulares o ritmo do oblívio: a palavra burila-se no ácido do burgau, torna-se opulenta através da forqueadura seca onde vergônteas e nodosidades irrompem com encorpamentos macerados pelas fungações verbais: a palavra não leva formas precoces para rebentarem nas tapeçarias da boca: a palavra no corpo da DANÇARINA é uma solvatação autopoiética, misturadora de silêncios vibratórios, de vazios desenhados dentro das matérias das distâncias (um arrasto em composição é lavrado por outro arrasto de manchas dos bestiários inesgotáveis): a geografia agita-se nas cabeças indeléveis da DANÇARINA: as cabeças exploram rascunhos oraculares com a plasticidade óssea___ARDEM ao lado das áspides com medidas sombrias e inumeráveis: a carne continua erodida pelas liturgias do animal que refulge através da ressurreição descomunal das línguas: o odor da inumação nutre-se na sua vazadura mandibular: a fala atinge a sutura metálica e aromatiza o sémen através da felpa vectorial revolvida pela língua cosida com o bilro de outra língua: pespegar o entalhe na alma lesbiana escultora de astronomias bruscas: o mistério do músculo elevador do ânus está no quiasma do nervo hipoglosso do Lucanus-cervus: a paridura faz resvalar a palavra para o tutano dos bandos travestidos pelas assimetraias devastadoras do verbo que se desmancha e se levanta simultaneamente como a bacante na marchetaria da felação): a palavra despedaça-se ao arremessar-se para a horda do impensável (feitiçaria ou cirandas de rezadeiras?): há uma força sangrenta nas clivagens dos fósseis dos estames, há um arquivo membranar, uma metástase de plenitudes que implode por meio da escoriação do phármakon: o apêndice articulado à larva em metamorfose completa, impulsiona a DANÇARINA para desvios hesitantes, entoando os respiramentos por dentro das camadas artrópodes da ferida: as centopeias saem da prossecução simbólica, tentam traduzir o indecifrável com as lâminas do ÀCRON em vernação: a cabeça na DANÇARINA é simultaneamente torcida por exoesqueletos, arrasa a veneração dos cânones gramaticais por meio de linhas de muda, de pulmões foliáceos, enlouquece as meninges e as glândulas da linguagem ao quebrantar as suas fronteiras coagidas pela blasfémia e pelo escrúpulo: foge da irrogação da cláusula humana através de guelras sígnicas, de respiradouros de hemocianiana, criando povoamentos aracídeos com as sufusões de novos mapas assintácticos: o GESTO entalha-se no espaço dos tecidos ventrais, pigmenta-se com as mudanças dos nervos respiratórios e desaparece por meio de traços das cadeias tróficas do outro: fragmentos linguísticos vibratórios abrem-se às ventanas súbitas dos indicadores de refracção, das seivas do indizível, rasgando estruturas sacerdotais entre os gânglios dos archotes maiores do que as vigias das gemas da luminescência: os segmentos embrionários da cefalização e os VERBOS-livre-natantes brilham com as carumas de sangue na garganta: a assopradura da palavra devasta os poços da acepção com um verme incompleto dentro do seu miasma, as margens do sagrado dedilham carrapatos nas bocas dos sopranos com alvoroços a perfurarem as cabeças dos necrófagos: aqui-agora: qualquer atalho levará o ópio à sede das carótidas onde a arrancadura e o extravio estão fora de qualquer hábito ou saltivão___as mandíbulas da DANÇARINA impulsionam os lacraus para os porões ganglionares e os GESTOS queimam-se com os GESTOS já-vergados pelos rasgões dos ofícios do dentro: as VALVAS envolvem os GESTOS da DANÇARINA para respirarem por metâmeros ou por sucção: uma espínula verbal adianta-se à mordida acerada para recolher a malha do excesso hexagonal: a falange desenha o unjo muscular espalhado pelas lacraias do real: o corpo extrai o sangue da voz ensombrada com bulbos de carvão, arranca a galra da carcaça embrulhada por solventes: as unhas do intruso, os grãos das multidões fazem ligações ionizantes com varejeiras loucas dentro das holotúrias: o cangote abre, retesa a cabeça e continua a instrumentar a trajectória do mênstruo com espumas nómadas, infinitesimais que morrem difundidas noutros refugos de um relâmpago (a pedra DANÇADA expande-se nos jactos vermelhos das lucernas e uma fala atinge o alto das veias com o sangue mais secreto dos GESTOS): o escalpo da dor envolve uma lavragem da precisão onde o bicho talha o bago com purulências, destila-se com o soro dos ditirambos, com os tecidos dos compósitos e impelido pelos óxidos nítricos se abre a novas gramáticas do impossível, a novas gramáticas salícolas, a novas gramáticas do GESTO-CAVALO-MARINHO, a novos rigores no cimo da catatonia que irrompe do chocalho da chaga mais profunda até ao encontro das febres de quem grita dentro de um arquivo vivo da inocência, um arquivo-onceiro, um arquivo rodeado pelo sangue das lumieiras, um arquivo carnal das errâncias intraduzíveis, um arquivo inacessível à volta de espelhamentos labirínticos, um arquivo de enunciações de ondas de choque, um arquivo de espumas convulsivas, um arquivo de fímbrias de cetáceos, um arquivo de respirações rítmicas, um arquivo de sopros afiados pelas medusas que descoalham o desejo sobre a gravidade coberta pelas placas violentas dos ofícios: um arquivo de hiatos geradores de vozes com novos ROUBOS existenciais a arderem nos GESTOS (LAMBDA em dispersão): um arquivo do inexequível lavrado pelos ossos incendiários: um arquivo de vestígios oblíquos que zurzem e arrasam o rosto com o interior feminino de um cântico: o grito dos GESTOS atinge as membranas do esquecimento através da deformação tensional das reminiscências que ressexualizam o inenarrável, o inabitável rés à virga-férrea háptica, à crueldade do sensível de um outro-gesto que nunca retorna à saliva dos pés da DANÇARINA: a DANÇARINA é escarificada pelo alto-pasmo do inacessível, torna-se um vestígio do rastro demoníaco à volta das têmporas de Deus (o GESTO retorna tresloucadamente e os corpos rasgam as suas próprias peles, os corpos perderam as falas com o VAZIO que devolve a distância da visão ao mosto do gâmeta: o silêncio é a única saída perante a assombrosa escoadura da duração animal ou será uma fissuração solidificada pelos sobejos técnicos entre uma palavra em digresso e uma alma germinada pelo arroubamento? Talvez seja a estilização povoadora das distâncias de uma vida animal que nunca descampa diante da DANÇARINA que sobrenada no aformal, modifica-se velozmente sem travejamentos, sem atavios ou ornatos humanos porque se entrega ao incomensurável de estar em todas as geografias do indiscernível, expressando os estilos dos golpes de um respiro com desrazões entre as ondas compositivas de paradoxos rítmicos e a lucidez artista do rigor caológico (entulhos de MIRIÁPODES luminosas esticam a cegueira até às mãos em falha, apremendo as moléculas de um raio globular): os movimentos de EROS fortalecem a queda por meio das emissões hápticas do vazio: o sentido das válvulas híbridas fulgura fora dos rostos: as fibras do futuro elevam-se dos GESTOS até às esferas líquidas da inocência (um intervalo sensível rés à encorpadura da desaparição da pedra já-degolada pela pedra (uma peçonha abstracta DANÇADA por picaduras e por evaporação: lacraia inesgotável. DANÇAR o inominável com os equívocos dos GESTOS: uma povoação sangrenta canta espalhada por pontos vulvários comburentes): o esquecimento da escarpa envolvido pelo assombro de uma presença que se transmuta através da interrupção de tensões eléctricas feitas pelo estilete da eternidade: há uma euforia impiedosa e mutável que absorve os gritos inaudíveis da impermanência, animalizando o corpo para o acordar, reforçar, provocar, fazer variar e recriar dentro da salinização do inconcebível (o fogo dos GESTOS estremece o insondável rés ao crime do obscuro estendido para dentro do obscuro ou serão lâminas de calentura à volta dos pés ds DANÇARINA): a DANÇARINA faz da crueldade uma estamparia da insurreição, dilacera-se, invagina-se com uma miríade de falas e de visões desnaturais que se mesclam contra tudo o que provoca a morte, contra tudo o que faz da vida uma repulsão: DANÇAR o NONADA, o ROSEBUD, com o ponto gris que se impregna no barroco da queda-das-línguas e na transbordância assombrosa de uma voz queimada pelo som ou será um grito a ventilar-se entranhado nos dicionários sanguíneos daquilo que está por sobrevir: invadir os esgotamentos caóticos com as linguagens finitas e devoradoras do corpo que se transmutam em topologias finas: DANÇAR uma correnteza de golpeaduras existenciais e de tramas imprevidentes entre pororocas do impossível epidemiadas e lançadas através do mundo ao alto do GESTO que faz o corpo experimentar sem avisar dentro de superfícies-móbiles: territórios drenados pelas aberturas escorridas nas faringes do incomensurável: dizem: colunas luminosas: reconstruir liames intermitentes entre palavra, gesto, imagem e o sangue passa pelos tímpanos do animal tremendamente: quantidade de vapor invadem as subtilezas podadas pelas têmporas dos cânticos e das ociosidades de um DOM lapidar: novas jugulares ressurgirão encurvadas no delírio da crisalidação, novas medulas do ÍNCUBO se entre-cruzam feiticeiramente nos espasmos sanguíneos dilatando duras-membranas rés ao crânio com pancadas respiratórias: a DANÇARINA tenta extrair os capilares menores da fala envolvida na origem aracnóide: as catarses sobrevêm im-permeáveis e desaparecem abaixo das zonas intra-meníngicas: os tecidos fibrosos dos GESTOS fazem refração no espaço subdural: dizem: pele cataclísmica no silêncio hesitante que esponta afiado pelas goivas entre hemorragias sem traumas ou será uma acumulação sanguínea na dura-máter? O sangue não vaza, ferve: a DANÇA se faz virótica, fúngica, extasiada pelas unhacas que batem no ar dos bestiários: prismas fulgentes entoam nos pontos de vista vesânicos: os gestos se tornam babélicos ao rasgarem os jogos do tempo-cristalino com outros tempos-cristalinos cruelmente mergulhados nos excídios do real: os GESTOS derivam através das diástases dos ritornelos, dos timbres insonoros e das refluências jazzísticas plenas de mosaicos de mucos e de naifas sígnicas: a crueldade do sensível é abrangida por vórtices musicalmente estrangeiros e mutáveis: a menorreia da DANÇARINA galga na experimentação háptica, reforça a confiança das caldeações que fazem os gestos se entranharem nos limites extravasantes, nas películas epiteliais das pedras mais suspensas: crivos extasiados do mundo por dentro de uma voz enfurecida, uma voz enlouquecendo a resignação do inóspito: DANÇAR transversalmente as superfícies da desaparição atrás da FALA mais funda do que as gargantas expelidas por demências a prumo: DANÇAR a infinitude voraz da natureza, exigindo uma estética nómada por baixo das cabeças basilares fulminadas por cabeças atmosféricas: uma enciclopédia movível entre o poema-animal que se torna uma força dobrada por outra força quase-irrespirável entre as fissuras das fossas nasais onde as palavras em fuga topológica entram em processos da gastrulação, criam passadiços críticos em torno das membranas vesiculares para alargarem, emaranharem as cartografias do inapreensível e apresentarem as reverberações dos vaga-lumes dentro do inexaurível imprevisto do real: a DANÇARINA emancipa-se ao tornar-se quase-inatingível, quase-ilocalizável nas vésperas de uma gota de fogo: as cavidades dos gestos envolvem-se nas narículas e provocam gritos inaudíveis nos muros cartilaginosos arrombados pelas mães doutros GESTOS que buscam as forças sensoriais do silêncio ao ar do hidrargírio: as palavras e as imagens friccionam-se, sem se viciarem umas nas outras, incitando o inefável na abertura do subtil: um corpo inacessível presentifica virtuosamente as epifanias moleculares de uma insânia que captura as temperaturas e as pressões doutra insânia para cima de uma inalação abrupta e trágica: as ligações animistas transmutam os GESTOS a cada instante misturador de matérias desdobradas pelas falas do bicho do esquecimento: há um processo ininterrupto a rodear as fogueiras dentro dos gestos cingidos por sentidos que perfuram as imagens já-em-embriaguez-insituável, reafirmando o alógico-afectivo impulsionador do caleidoscópico expressionista com durações absolutas: demudar velocidades e vazios por meio de rebentações das eternidades feitas de quedas, de fracassos exultantes, de catalisadores de hesitações, de decursos instáveis que arrancam as diferenças e as inscrições rizosféricas às fervuras dos gestos enlevados pelas variâncias das alomorfias: o sublime dos sentidos fora das analogias e uma boca mistura a untura das feridas com a sua própria purgação: as imagens aprofundam-se nas movências de um GESTO estranho, instigando alvoroços dentro do animal que se expande, se verga, se dobra e se desmancha no azougue de um minúsculo satélite: no limiar de uma visibilidade disruptiva, a DANÇARINA simultaneamente acontece e perde a soberania do seu olhar porque os GESTOS se escapulem perante uma dor turbilhonar exultada pela duração plasmática de outra imagem rasgadora da palavra ou será o tempo crónico-cruel do impensável suspenso no VAZIO? Dizem: a DANÇARINA é o POEMA que se entranha nos interstícios eucarióticos das imagens que obscurecem as palavras com os raios órficos golpeadores do imprevisível: há um acto de DANÇAR o manguezal com gradações voltaicas dos verbos e com as errâncias tensionadas pelo insaciável adivinhatório: há o inesperável catatónico que rouba o espírito intempestivo aos falsários para se tornar um diagnosticador do sensível envolvido por micropercepções das barbatanas involuntárias: as rasgaduras anorgânicas atravessam as manchas no sangradouro de um corpo-DANÇARINO que alanha os espaços enérgicos do ar com os jogos das crisalidações do caos, atingindo as células vegetais do esquecimento: há modificadores de GESTOS que anarquizam os sustentáculos do tempo através das intemperanças criativas dos VAZIOS: os encontros múltiplos das extremidades dos GESTOS activam as coexistências vítreas, fazendo retornar as levadas sensoriais mais irrefreáveis repletas de lances transcodificados pelos olhos das povoações carregados de combustão (os movimentos do CORPO vocalizam o indecidível ao redor de ressonâncias babélicas): os GESTOS inauditos entre as vidências e os espalhamentos das deformações do corpo: labirintos lisos dançam o espaço e rupturam as leis da natureza com o imperceptível onde os animais se lançam para uma casa anónima: o POEMA-ANIMAL ocorre desfazendo um rosto já-envolvido por dardos-relâmpagos que levam a DANÇARINA para um olhar ao redor da opacidade da córnea soprada por colos velozes: aqui-agora: as PALAVRAS distanciam-se da visão mais alta e esculpem os GESTOS por meio de golpeaduras vigorosas do esquecimento que faz a DANÇARINA alcançar um espaço genital em fuga, uma geografia de sangue asfixiado que escapou ao seu corpo: é a crueldade na DANÇARINA que perfura o futuro das patas erodentes à volta do trágico das veias opulentas para afectar a exultação do falhanço, parindo almas enlevadas e sempiternas dentro da esquiveza das distâncias alveolares que convergem a um só-tempo: as superfícies se espiritualizam, se experimentam com os rastos antero-posteriores dos acasos das mariposas que expandem os limites com composições dos sentidos hipnagógicos: o animal escuta a sua própria fala em desaparição granítica (fábulas puníceas engrenham-se no espaço umbroso pleno de luzes aniquiladas): o GESTO abre o VAZIO ininterruptamente, envolvendo-se na física dos alvoroços, lacerando verdades com o inominável vegetativo atrás da absorção do silêncio (os insectos devoram-se uns aos outros por meio de espantos eléctricos). O GESTO desaparece na DANÇARINA ao redobrar as uvas pulmonares com as abastanças dos assombros repercutidos pela tecelagem da combustão artesãs (a velocidade das campânulas faz latejar as tangerinas entre os dedos inguinais). O GESTO se exclui da coreografia e se torna uma glândula impessoal: um respingo de mosto se escalda na pausa do grito vaginiforme: o GESTO arremessa a DANÇARINA para as bordadeiras da ocultação por meio de sentidos criados ininterruptamente entre as disjunções expressivas de uma visão carnívora: os GESTOS se misturam com as variâncias de uma escaldadura fúngica, gerando malhas de cariopses ao cimo do tempo em fuga: o GESTO é uma prática compositiva que interroga o ouriço-do-mundo por meio de uma lavragem de queimaduras que arremessa a DANÇARINA para a secura do impensável. O GESTO é esculpido pelo SILÊNCIO que reforça, abre musicalmente a fala, a distância, o VAZIO e a palavra para escutarem o CORPO da DANÇARINA dentro do ESQUECIMENTO onde uma orquídea de cataratas hermafroditas se enche de adrenalina (vírus da herpes dança poliedricamente entre as rutilâncias venenosas das cumeeiras da genitália): cada GESTO pleno de contracções musculares cria um lugar de completudes fragmentárias (o corpo envolve-se nas articulações da alomorfia rés à gangrena da visão e à soldadura antropofágica fracturada por enxofres das cárneas: o GESTO se faz mudança, se abre e se dissipa entre os fluxos pontilhados pelas traduções das quebras do mundo que forçam as esgrimistas a expandir-se insanamente, perfurando olhares carnívoros por meio das linhas do inexplorado que se estendem, se suplantam, se estortegam, se conflagram, se enfeixam, se escorrem até atingirem o sono da turbulência: há uma topologia vibratória no inacabado, há uma disseminação olhante, uma enxertadura musical, uma perseguição nómada tramada por sangues arteriais: há a dança dentro dos orifícios moventes e das zonas indiscerníveis onde os GESTOS se transviam para defrontarem o desconhecido, as estrangulações, a desesperação, a espera, a confiança, a profanação, o sarcasmo (os desvios minerais impulsionam as mordeduras das vísceras a inscreverem-se na suspensão oracular): o GESTO dobra-se, redobra-se, contagia-se, conecta-se, recolhe-se, devolve-se, mistura-se, trespassa-se por meio das intensões em risco e do inconcebível que ventila a claridade debaixo do sangue das coseduras e da secagem: o GESTO provoca encontros de ecos de uma sublevação ética, anómala que combate tudo o que recusa a absurdidade povoadora de sensações envolvidas por distanciamentos que aproximam o eternal da duração-em-si: improvisar sempre os ligamentos nervosos da DANÇARINA-outra inviscerada na carnadura mercurial que a faz tornar dádiva quase-carbonizada no encontro com os plexos da DANÇA: as falanges cravam-se na ciência de um acto de fala que se confunde diametralmente com o mundo para se tornar anatomia ovulatória à volta de uma multidão de contrapontos e de bordas abismáticas. O SILÊNCIO dos GESTOS relança a DANÇARINA para os espelhos dilacerados onde imagens em permutação sanguínea são esculpidas fora de qualquer rosto (uma vizinhança fulminosa de temperaturas enxameia de gradações vegetais as linhas que escarificam o mosaico espermático do corpo): o SILÊNCIO dos GESTOS assimila o irrealizável nos insterstícios das topologias em esfoliação amniótica: as imagens e as palavras reconstroem as medulas dos vazios, os mapas voltaicos, as relações hidrográficas em mudança vegetal-mineral: territórios dos GESTOS imantam-se cruamente com contornos arrancados pelos bestiários esfomeados: a palavra na DANÇA surge através das aparas de um SILÊNCIO analfabeto para experimentar as superfícies em transbordância e uma volteadura do impossível onde a fractura do tempo ressuscita a zoologia do sangue. O animal-GESTO é atravessado por flutuações rítmicas que esponjam o os estuques do insulamento por meio de traqueias que fazem do recomeço uma musicalidade estrangeira que é já-em-si uma espreita acósmica aberta ao grito incessante do futuro: há um retorno impulsionado pelas expressões-GÉSTICAS que se realçam nos atravessamentos das EPIDERMES-sem-FUNDO: os alvoroços dos lacraus envolvem os ínfimos raptos das crias para que quase-tudo se transverta, transmude e se levante até atingir a defluxão fabulatória de ritornelos: aqui-agora: o vazio incita o animal a esboçar MAPAS com as ventosas dentro das cabeças: ao lado outro animal desenha as cápsulas dos abismos nas geologias espontâneas: surgem golpeamentos religados às obsidianas do indiscernível. O OLHAR-ANIMAL perante a DANÇARINA é interminável, é uma radiação alveolar de umbigos de açaflores: o olhar espessa o GESTO com a luz abíssica, cirandada pela loucura de um olhar sublunar que enlaça o fora de uma visão plena de mapas tramados por uma presença de um GESTO estranho e que nunca começa e que nunca finaliza: ELE É pausadamente vibrátil, pulsátil à volta dos tentáculos das palavras que se desfecham diante do infinito até a DANÇARINA desaparecer: dizem que são válvulas arrancadas aos relâmpagos cravados no sexo dalmático: uma FALA sem voz mas com ressonâncias de gritos pré-babélicos esparge estirada por claraboias onde o GESTO-animal se move quase-imperceptível porque os urdumes do espanto estraleja nos infaustos da carnagem, sim, o GESTO alcança os murmúrios inatingíveis do espaço e arremessa a DANÇARINA para as guelras da desaparição ou para geografias indeterminadas ou para as faianças dos exílios repletos de vértices de meteoros: os VAZIOS impulsionados pelo indistinguível dilaceram e transpõem o GESTO em escapamento, criam forças invisíveis que relançam novas visões entre os intermezzos do corpo da DANÇARINA: a DANÇA e o animal se tornam numa trama de escavações alucinadas e ao mesmo tempo exigem existência e traduções entrecortadas por velocidades desaceleradas que se agitam sem se movimentar como corpos do tempo puro, corpos feitos de um tempo sem seriações, corpos construídos entre pontos de vista abstractos e intersectados pela alomorfia heterogénea dos espaços diversamente ritmados pelo improvável (a refulgência cerâmica fulgura porque é feita por jorros das vidraças e a DANÇARINA livra-se das limalhas amontoadas pelos engolfamentos atómicos da púbis): uma DANÇARINA apreende, absorve, incorpora a transcodificação dos infinitos desdobramentos de uma inocência gravitacional que exercita o aion mais ondulante dos estóicos entre a desmesura de Dioniso e a fulguração dérmica da phaneroscopia: há uma dilatação anatómica que sorve outros corpos numa queda estirada e estranhamente zodiacal que desentulha as amplitudes e as longuezas dos poros através de ritmos torrenciais e de ruínas invisíveis: é o GESTO vibracional a vazar as aurículas do mundo com cartografias cruelmente incontroláveis. DANÇAR a plasticidade do subcortical, as orbitas autopoiéticas e desaparecer na energia heteronímica que rasga com a isolação rés ao auspício ANIMAL: DANÇAR com as afecções inéditas do caos e decifrar loucamente o que irradia dos GESTOS plenos de infinitos tangenciados pela catástrofe da intersecção: sopro-silêncio-vazio-e-quase-palavra: dizem que o incorpóreo por vezes acontece dentro de medusas intrusivas geradoras de inocências cruéis ou será a composição do esquecimento que se abre e se perde entre fluxos mutantes de crivos minerais e de imprevistos absolutos de uma VISÃO? DANÇAR o que está para lá da DANÇA: DANÇAR o gesto insonoro com as fugas turbilhonares e aformais do deus da natureza dentro da matéria incriada: o desejo recomeça entre agripnias kafkianas e travessias abstractas: uma DANÇARINA enseja a frisagem cerebral dentro da hibridização de sensações rés à tremenda falha: ínfimos gestos intervalares desenham mapas inscritos nas distâncias latentes do incógnito: DANÇAR o vazio com o acaso de uma abertura ao futuro dentro do contacto extremo do CAOS irisado de Cézanne: um gesto vesano rebenta nos hiatos do tempo que se infiltra nas frestas do real, dobrando o corpo à volta das errâncias e das traçaduras do anómalo (o choque das narinas também esculpe os halos mais concentrados dos dedos fora das anatomias): exigir o sublime do indiscernível que decompõe uma voz centrífuga entre ritmos assimiladores do animal dentro do trágico da matéria e dos cadernos da fome (da boca ao ânus há um DOM radial rés às sementeiras da peste, por vezes um galho de uma luminária é envolvido pelos arrojos de urânio que arrancam mapas astrológicos-vinícolas às febres congenitais): o GESTO amplia-se infinitamente no inverosímil de uma força que se entranha noutra força artesiana, geradora de abalos-botânicos e de estranhezas oxigenadas pelas últimas BIVALVIAS do filo Mollusca: ver o GESTO na fala torna-se vigorosamente acidental quando a DANÇARINA acredita nos equinócios acronológicos do mundo (o GESTO se afecta por meio das suas próprias gárgulas, pelas suas constelações ávidas de espadanas pulmonares e a sua IMAGEM torna-se um animal-quase-indecifrável, um alvoroço ventricular, um esplendor encurvado pela velocidade craniana que requer uma fissuração higrotérmica dos sentidos: construir uma hapticidade refractada pelo INATURAL e de GESTO em GESTO, novas topologias, novas espessuras de um olhar-LAHAR retornam à IMAGEM labiríntica nutrida pela quase-cegueira do animal: resta a tradução do insurgido ao cimo de um cérebro inacabado: DANÇAR o intuitivo infiltrado no acto de uma alma inteira que estiliza o salto dos GESTOS com a efervescência ascensional do GRITO ao redor das têmporas (um sopro ascende nos resvaladoiros das garras, torcendo minúsculos incêndios____os rins da DANÇARINA brilham como agulharias em translação: os GESTOS se ligam e se desarticulam plasticamente: os GESTOS fragmentam-se, tornam-se múltiplos dentro de cissuras que fazem a DANÇARINA mergulhar na aprendizagem do golpe-vascular que vara o corpo, ensaia o corpo envolvido por espantos, por pasmos, por obscuridades, por silêncios, por espaços híbridos em alastramento (uma política do impensável refaz o real com o real do real entre ruflos ininterruptos, levando os GESTOS para aquilo que poderá ser dito dentro do imprevisível, das costuras do impossível, das omoplatas do súbito…aqui-agora: o GESTO exige a incisura, a cortagem, a greta, abrindo sombriamente novos territórios da visão, do sentir, do pensamento e de uma fala aberrante: uma tremenda rasgadura fragmenta-se, desaparece dentro de um GESTO que ainda está por vir: os GESTOS do animal não pertencem às fendas dos gestos reflectidos e buscam um sentido ao DANÇAREM as obturações inconscientes com o sensível vesânico onde se cruzam os traçados dos sintomas e a duração cruel de uma captura sígnica (forames de hemolinfa circundam as sebentas vertebrais com outras paveias vertebrais: a fluidez indeterminada acontece-já descodificada por outro GESTO assimilador de forças acósmicas, de extremos instáveis: os GESTOS espremem-se com as dores dos GESTOS: os tensores musicais provocam rasgamentos na ferritina do infinito: os tendões transparentes retornam e se extravasam repletos de abjunções contíguas e de embocaduras movimentadas pelos quadris: os delírios, as alucinações e o inesperado misturam as membranas vibratórias da DANÇARINA com as radiâncias dos fulcros das errâncias: uma fenda pulsa com o sangue feroz da transmutação: aqui-agora: os GESTOS nada dizem, atingindo os dicionários caológicos entre limites talhados pela complexidão venosa que perfura as células avessas do mundo (os nervos saltam por dentro, assimilam as larguezas dos precipícios: uma tremenda fractura entrelaça as pálpebras, levanta-as com os movimentos sangrentos das fibras e a oscilação tenta vedar as golpeaduras que irrompem dos GESTOS): as angulações dos GESTOS estão plenas de voltagens sob a derme ponteada pela derme: há partículas rítmicas, há mutações do vazio e um tremor lunático cria distâncias e travessias com a solidão dos entre-tempos caóticos (os GESTOS sulcam os fôlegos com o som das áscuas pulmonares e vivem das fraudes de si-mesmos, dos golpes sanguíneos de si-mesmos: uma queimadura de vozes escorrega loucamente atrás das falanges): uma DANÇARINA vê nos GESTOS as crepitações do tempo mergulhado nas linhas do corpo: os CANAIS dos GESTOS estremecem como ínfimas arpoeiras a rasgarem os alvados mais prodigiosos da cabeça (uma fenda encharca-se de respiradouros sem direcção e os espelhos invisíveis entre os dedos arrancam sumptuosamente os nervos nutridos por diafragmas: o sangue dentro da sua estrangulação exige uma musculatura assoprada pela DANÇA onde os dentes soluçam como bolhas de cometas: a DANÇARINA plena de haustos e de extravios sanguíneos levanta os membros com os poros das vertigens derramados pelos solstícios dos besouros: a DANÇARINA sufla o corpo pelas ciências das fêmeas, o medo cardíaco transborda e se faz barro nupcial agarrado às convulsões das cabeças: as palavras mudam-se com as demências das serpes iluminadas pelas sístoles debaixo dos GESTOS: oh gestos desviantes, labirínticos, insanos de um todo enérgico que arranca as vozes às chagas cerebrais: impulsar as almas-GÉSTICAS para coalizarem os movimentos desconhecidos dos mapas irrigados pelos arrepios demoníacos que disjuntam imagens meridianas com as traições dos sentidos: há uma musicalidade perfuradora de loucuras, há uma improvisação a vigorizar os tempos catalíticos, há gestos-vozes a absorverem os encontros mais exaltados do infausto: coitos agramaticais espelham tempos extasiados com resvalos-vacantes à volta de um dentro heterogéneo que esponja a DANÇA gerada pelo animal. Um GESTO quase-único e quase-muitos. Um GESTO revindo para cima de uma língua absoluta e fragmentada por criaturas crestadas por si-mesmas: uma DANÇARINA à entrada dos recomeços, sempre nos recomeços de uma onomatopeia, de uma travessia hemisférica e o corpo estremece e se solta, revoluteia-se, completo de rasgões que sangram para assimilarem as próprias feridas viradas para as pedrarias onde os animais talham os seus próprios colossos ininterruptamente: os membros tremeluzem dentro do mistério de uma matilha de campânulas, de anjos selváticos sob os remoinhos da carne: os ombros ardem, os pés ardem, a cabeça arde, os olhos ardem rés ao coração lavrado pelas placentas dos vaga-lumes: a inocência mamífera dos dedos bate delicadamente na garganta e as ondas termohalinas do sangue passam, vergastando todas as transfusões das úlceras com signos incomensuráveis. Uma DANÇARINA sorve as suas próprias rótulas, eléctrifica as rasgaduras com as golfadas dos poros em sufocação, reflui com os asteróides nas mãos catalíticas: os brônquios da DANÇARINA provocam um recomeço hidráulico dentro de uma fala estrangeira, rítmica rés ao abismo instantâneo: há uma vibração imóvel, uma ressonância de plasmas oscilantes e sesgos, há uma imagem da distância aurática-háptica, há uma solidão na ponta espasmódica e paradoxal que incita o encontro astral (desenhos da de-composição do vazio arremessado pelo caos da DANÇARINA: angulações do vazio pleno de paradoxos, de voltagens, de partículas virtuais, de ritmos invade o corpo da DANÇARINA, transmutando-o numa força subtil: a DANÇARINA escava o espaço com irrupções ondulantes, assimila o indiscernível, as mutações dos atravessamentos e das sonoridades do MANGUEZAL: as PALAVRAS envolvem o CORPO da DANÇARINA e perfuram as musicalidades inéditas do vazio pleno de distâncias do real criador da duração do impensável e de mapas de tempos crónicos: uma DANÇARINA impulsiona o vazio dentro de uma inexistência criativa da visão caótica, virtual, anorgânico: a DANÇARINA se faz cristal arrevesado para escutar o real, perfurar loucuras com várias grandezas rítmicas: o vazio é o espaço dançado e o olhar que vem do VAZIO lança a DANÇARINA para a magnetização do perigo que é sempre um crepitáculo de falas em desaparição: as bolhas delirantes provocadas por golpeaduras de um olhar ininterrupto e impessoal da DANÇARINA envolvem os respiradouros do desvairo com as cegueiras que se tornam numa visão do improvável: a carnadura decanta-se através da enxameação de si-mesma: o levantamento da visão é um detalhe sulfuroso do pneuma de quem faz um GESTO devanear para dentro do GESTO. ARCOBOLETA.
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(Fotografia de Carla Barroso Coelho [detalhe])