Um trecho de romance de Eduardo Mahon
Eduardo Mahon é advogado, escritor, membro da Academia Mato-Grossense de Letras (AML) e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT).
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O que estou perguntando, doutora Klos, é justamente o contrário: algum cliente pode se apaixonar por uma atendente? A médica retirou os óculos para guardá-los no bolso do janelo branco, esfregou os olhos e fixou os cabelos na nuca com um prendedor de ímã decorado de flores. Era, realmente, uma pergunta difícil de responder. Ela não havia sido preparada para algo tão novo e bizarro. Era a primeira vez que estava sendo consultada sobre os sentimentos dos softwares. Desde que fora contratada, nunca havia pensado naquilo. Virou os olhos para cima e, em silêncio, cogitou: o programa já está marcado por impressões subjetivas, memórias. E o novo? Um novo amor? Não sei, não sei – repetiu consigo mesma.
(Do romance inédito O Homem Binário e outras memórias da senhora Bertha Kowalski, Editora Carlini e Caniato)