Uma crônica de Ana Amélia Nunes
Nascida no RJ, Ana Amélia Nunes foi sequestrada pelo RS, onde ainda habita! E morre de frio! Saudades eternas dos doces da Confeitaria Colombo, do Mengão e do posto 6 de Copacabana! Luta pela vida até o fim ou até que a morte nos separe! Participou de várias antologias poéticas e lançou o livro de crônicas Diálogos com a Morte (2018) no 2o. Encontro Nacional do Mulherio das Letras, em Guarujá/SP, e na Feira do Livro de Porto Alegre. Também será lançado na Feira do Livro de Gravataí.
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Diálogo com a Morte VI
Minha filha, você vem sempre na hora errada, né?
Não tem educação, não?
Não sabe que sexta-feira, sábado, domingo e feriados não se trabalha, não?
Você tá meio carente, né?
Todos os dias aparece como quem não quer nada.
E me incomoda, mais, até, que marido.
Você tá precisando se realizar, criatura, para ver se me esquece.
Não sabe que eu tenho dois filhos estudando, não?
Pois é, tenho que ir na formatura.
Nem vem!
Tá cedo!
Quem sabe você fica aí, tomando um cafezinho? Mexe na Internet. Come uma feijoada e dorme até o fim dos tempos?
Olhe só, a casa é sua, fique à vontade e pare com esse papinho besta de que veio aqui me buscar.
Preste atenção, menina: sem lavar a louça, ninguém sai desta casa!
Ficou ali anos sem fim, pois a louça é eterna.