Uma crônica de Lucimar Mutarelli
Lucimar Mutarelli foi feita em Minas e nasceu em São Paulo (1969). É professora, livreira, escritora e roteirista. Publicou Impessoal, Entre o trem e a plataforma, Férias na prisão, Terceira pessoa, Só aos domingos, Dois garotos e 50 crônicas. Em 2013, seu roteiro “Dois garotos” foi selecionado para o Laboratório Sesc/Senac. É integrante do Coletivo Literário Martelinho de Ouro. É casada com o Lourenço, mãe do Francisco e de 3 gatas: Mentira, Doutora e Gepreta. Gosta de ser chamada de menina, pequena, ô mãe, filha, tia, madrinha, prô, cumadre, prima, senhora, maninha, mano, Lu e Lucy.
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Hoje em dia, todo mundo tem opinião. É meio óbvio mas já era assim na antiguidade. O problema é que hoje a gente pode dar a nossa e postar e comentar a do outro. Eu não acho isso ruim. Acho bom. Sou uma das que entra só pra ler os comentários. É assim que deve ser. Eu tenho muita dificuldade em aceitar opiniões diferentes da minha. Estou tentando mudar. Quando não dá certo sempre existe o recurso de bloquear, excluir ou parar de seguir. Na vida também é assim mas a gente usa pouco. Quando você para de curtir uma pessoa, basta parar de segui-la. É simples e cruel
No facebook, eu vi a opinião da Gisele Bündchen e da minha sobrinha Clarice. Curti a as duas. Na internet somos todos iguais. Mentira. A minha sobrinha ganhou um coraçãozinho a mais
Lourenço Mutarelli dá aulas para quem acha que não escreve e quem acha que não desenha. É o mundo dos não. Não atores, não músicos, não pintores, não fotógrafos. Não cozinheiros me ajudam todos os dias com suas receitas no youtube
Assinantes clandestinos, de TV por assinatura, terão seus índices registrados. Não assinantes do não ibope
E quem ainda escolhe o filme que vai ver pela quantidade de estrelas no jornal? Somos todos não críticos. Me interessa mais a opinião do meu amigo do que a do crítico da nota: ótimo, regular, ruim. Caetano decretou há 40 anos: quem lê tanta notícia ou Cidinho e Doca, eu só quero é ser feliz ou, melhor ainda, minha mãe: gosto é que nem cu, cada um tem o seu
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Você pode aprender qualquer coisa na rede. Mesmo. Não vou dar exemplos para não dar ideias. Eu tentei aprender inglês, francês, italiano, espanhol, como fazer um roteiro de cinema, como grelhar peixe sem óleo, como tirar mancha de tinta de caneta, como colocar música no powerpoint, como ligar o PC na TV LG e quantos caracteres tem uma coluna no jornal
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Quando eu era criança, eu queria ser professora ou jornalista. Agora eu consegui uma coluna. Sou uma não jornalista
Eu me perco com liberdade demais
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Voltei. Escrevo pro outro. Não escrevo pra gaveta nem pra mim
Escrevo pro meu marido, pro meu filho, meus sobrinhos, minha família e meus amigos
Escrevo por que minha boca sempre acorda cheia
Fico engasgada com palavras
Tenho ânsias. Enjoo de tanto verbo, pronome e gramática
Essa literatura precisa sair de mim