Vanessa Ratton entrevista Marcia Paganini
Vanessa Ratton entrevista Marcia Paganini, cujo livro A menina e a planta foi finalista do prêmio AEILIJ 2019, pelo conjunto de ilustrações de Andreia Vieira.
Vanessa Ratton é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica. Poeta, dramarurga e escritora infantil, com pseudônimo de Tatá Bloom.
Marcia Paganini é formada em Letras na Universidade Estadual de Londrina – UEL –, pós-graduada em Metodologia do Ensino e mestre em Educação, também pela UEL, pós-graduanda em Literatura Infantil e Contação de Histórias pela Fatum/Unifil. Depois de 20 anos no mercado dos livros didáticos de língua portuguesa para os ensinos fundamental I e II, tendo participado de todos os PNLDs do governo, ela iniciou há cinco anos na Literatura e já teve duas obras selecionadas, uma por edital, outra pelo PNLD e, recentemente A menina e a planta, Editora Madrepérola, é finalista do prêmio AEILIJ 2019, pelo conjunto de ilustrações, trabalho de Andreia Vieira.
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VR: Como entrou no mundo dos didáticos?
MP: Fui uma aluna muito aplicada, com honra ao mérito. E na época, o Luiz Cavalcante, um autor da década de 60 de livros de Matemática, estava contratando para a empresa dele, a Scriba, e me convidou, pois havia conhecido meu trabalho através de uma professora que me recomendou. Aprendi muito com ele. Eu era recém-formada. Lá aprendi a trabalhar de forma integrada. Lancei minha primeira obra, a coleção De olho no futuro – língua portuguesa, pela Quinteto Editorial, juntamente com Cassia Souza e Maria Aparecida de Almeida. Depois, produzi “A Escola é Nossa, Língua Portuguesa, para o fundamental I”, pela editora Scipione, e a Coleção Linguagem: criação e interação, em coautoria com Cassia Souza, para o Fundamental II, pela editora Saraiva.
VR: Você coordenou diversos projetos editoriais, como foi este trabalho?
MP: Elaborei, em parceria com a Scriba Projetos Editoriais, de Londrina, alguns projetos e coordenei as equipes para a execução de coleções, além de ter atuado como fomentadora de insumos para a elaboração das obras didáticas e como recrutadora de pessoal para a função de assistente de trabalho autoral (redatores, revisores e pesquisadores). A partir daí, começaram a vir convites. Atualmente, presto serviços de produção de conteúdo e edição para diversas editoras. E sou a editora-chefe na Florear Livros.
VR: Como concilia a atividade docente com tudo isso?
MP: Hoje eu ministro alguns cursos de formação de professores, mas sou palestrante e consultora pedagógica das redes pública e privada de ensino fundamental I e II desde 1994. Meus estudos acadêmicos versam sobre os temas: livro didático, formação de professores; formação de leitores; ensino de língua e linguagem; alfabetização e letramento.
VR: Em que momento a escrita literária entrou na sua vida?
MP: Sempre esteve presente em minha vida, mas de maneira tímida, pois o trabalho com os didáticos exige muito. A partir de 2010, quando publiquei na edição especial da Revista Nova Escola o conto “A menina e o sapo”, que até hoje é bastante usado pelos professores do Brasil todo, foi que resolvi abrir espaço para a literatura de forma profissional.
VR: Você só escreve para crianças?
MP: Não, em 2017, publiquei o conto adulto “Confissões de uma condenada inconfessa”, na antologia A natureza das coisas breves, organizada por Tiago Novaes. Mas, escrever para crianças é mais forte. Já no ano seguinte, fui selecionada por um edital da Editora Bambolê e entre mais de 500 trabalhos inscritos, foi escolhido o ABC das coisas boas, destinado a crianças em fase de alfabetização. Esse livro já foi adotado em várias escolas. Pela Editora Madrepérola, publiquei, em parceria com Ricardo Dalai, Histórias bem-contadas: contos de fadas, fábulas e outras histórias da oralidade (2016), em e-book, e , em 2018, fizemos uma versão impressa, com contos populares da tradição brasileira, o Histórias bem-contadas: contos da tradição popular brasileira, obra que foi selecionada para o PNLD 2020.
VR: Sobre a obra A menina e a planta, que é uma obra muito necessária por falar de sentimentos de uma forma muito poética, como você se inspirou para esta simbologia?
MP: A inspiração para escrever essa história veio de uma conversa com minha filha, quando ela descreveu os sentimentos que possuía e que não estavam fazendo bem para ela como uma planta trepadeira, que a envolvia, a apertava e a sufocava. Eu entendi que a planta trepadeira era uma metáfora para aquilo que não conseguimos saber bem o que é. E aí comecei a escrever a história. No começo, a planta era algo ruim, que deveria ser eliminado. Mas interagindo com a personagem, fomos descobrindo que essa planta pode ser cultivada e dar sementes. Descobri também que todos nós temos nossa planta e que precisamos aprender a cuidar dela.
VR: E a escolha da ilustradora como se deu?
MP: Sempre que escrevo um texto, um original para “virar’ livro, eu visualizo as imagens no traço de determinado ilustrador. Isto é, cada texto tem a “cara” de um ilustrador. A menina e a planta, na minha cabeça, só poderia ser ilustrado pela Andreia Vieira. Falei com o Rafael, editor da Madrepérola, e ele concordou em conversar com ela. Andreia estava em outro trabalho e esperamos que terminasse para poder ilustrar esse original. E o resultado não poderia ter sido melhor, tanto no produto final quanto na energia da Andreia. É uma pessoa iluminada e colocou sua alma nos desenhos.