10 webséries com protagonismo de personagens lésbicas (Coluna Vestígio)
Vestígio é uma palavra de origem latina, do termo vestigium, que significa “pegada, marca deixada no chão”, ainda, pode ser passagem ou a ocorrência de algum fato/coisa, assim como indício ou o que remanesce de algo. Neste sentido, vestígio convoca à investigação, à pesquisa. De um sinal, de um rastro, de uma descoberta, um ponto vira um conjunto, compõe-se uma trama, um espectro de produções. O nosso editor Wuldson Marcelo busca com a coluna Vestígio fazer do encontro com uma obra uma devassa pelo mundo do audiovisual, desde os canais de TVs por assinatura aos serviços de streaming, das plataformas digitais de distribuição de vídeo gratuitas ou pagas às telas de cinema, seja com filmes clássicos, seja com filmes contemporâneos. Em foco, cinematografias não tão acessíveis ou populares, películas antigas, séries, minisséries, webséries, documentários, animações e curtas-metragens, com o intuito de selecionar produções audiovisuais que revelem o talento e a força de suas realizadoras/realizadores, assim como possam promover o conhecimento de histórias, culturas e fazeres fílmicos.
Para a estreia, Vestígio traz 10 webséries com representatividade e protagonismo de personagens lésbicas. As obras, cujo conteúdo é exclusivo para a internet, disponíveis em plataformas digitais, como YouTube, ou redes sociais, como o Instagram, geralmente possuem baixo custo – como apostas de pequenas produtoras, algumas vezes são produzidas graças a financiamento coletivo ou dependem desse tipo de levantamento de capital para viabilizar uma nova temporada –, com episódios de curta duração e de divulgação online – com auxílio importantíssimo do boca a boca. Com excelente audiência e número de seguidoras/seguidores fiéis, webséries como a brasileira A Stripper (2020), da Ponto Ação Produções, produtora independente formada por jovens atores do Rio de Janeiro, estrelada por Natalie Smith e Priscilla Pugliese, e a espanhola El Contacto Cero (2019/2020), com roteiro e direção de Sandra Guzmán, ocupam espaço de representatividade de mulheres lésbicas na dramaturgia audiovisual – com milhares de jovens se identificando e torcendo pelas personagens –, já que novelas e minisséries televisionadas, principalmente no Brasil, ignoram ou mostram de maneira estereotipada suas vivências, expectativas e relações.
A seguir, cinco webséries brasileiras e cinco séries internacionais LGBTQI+, com foco em mulheres.
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Webséries brasileiras
1. Contos Latentes (2 temporadas – Impressões, 2019 [5 episódios] e Extremos, 2020 [9 episódios).
Com um elenco que aposta na diversidade étnica e de corpos, Contos Latentes, das produtoras fluminenses Colabora Produções e Linha Produções, origina-se do curta-metragem Latentes (2017) e traz em sua primeira temporada o reencontro, após 10 anos, entre Júlia (Priscilla Raibott) e Lívia (Beatriz Casarotto). No ensino médio, Júlia sentia atração por Lívia, que, por sua vez, namorava um garoto. Decorrido todos esses anos, as mulheres se esbarram em uma festa LGBTQIA+. Lívia acabou de romper seu noivado e Júlia, há um ano, terminou um relacionamento abusivo com a ex-namorada. Impressões não é só a história de um reencontro, mas de autoafirmação, conexão e a descoberta de si mesmo (ou reconhecimento, da sinceridade que devemos a nós mesmos).
Na segunda temporada, a roteirista e diretora Carol Bria amplia o número de personagens, que, apesar de contar com Júlia e Lívia, agora tem como protagonistas Luna (Gênesis), que vive um relacionamento a distância com Elisa (Bianca Corecha), que mora em Paris, e Jessy (Tathi Loyola), que, após ser expulsa do apartamento pela ex-namorada, passa a dividir aluguel com Luna.
Insegurança, dúvidas em relação ao futuro e dependência afetiva são alguns dos temas que perpassam em Extremos. Um dos personagens de destaque é Theo (Estevão Bonotto), que leva humor e reflexão sobre a percepção que temos de nós mesmo para a websérie. Merece destaque a amizade entre Theo e Jessy, a diversidade do elenco (com protagonismo negro) e o roteiro sensível de Carol Bria, que aposta no cotidiano, tornando o romance algo natural, por isso mesmo tão envolvente os encontros e reencontros em Contos Latentes.
Assista o primeiro episódio de Contos Latentes – Impressões gratuitamente no YouTube:
2. Esconderijo (3 temporadas – 2017, 2018 e 2020, todas com 8 episódios).
Com roteiro e direção de Gabriela Dimello, a produção das cariocas 88 Soluções e Mané Produções traz, em sua primeira temporada, o reencontro, após oito anos, entre as protagonistas Malu (interpretada por Mirela Pizani) e Raquel (Tatiana Fernandes). Retornando de Paris, Raquel passa um dia na casa de Malu, em Paquetá, onde passado e presente se chocam, fazendo emergir sentimentos como mágoa, paixão e saudade. Para complicar, Malu tem um recente término para lidar. O interesse em ser apenas as duas em quase 99% do tempo é explorar as diferenças entre elas que culminou na viagem de Raquel, que não desejava casar jovem, enquanto Malu sonhava em formar uma família. Amor, dor e sedução dão o tom da reaproximação ou do afastamento definitivo.
A segunda e terceira temporadas têm a capital Rio de Janeiro como locação e um elenco maior, com personagens cativantes, novos casais e questões pertinentes para jovens nos seus 20 e poucos anos ou quase 30. Malu está indecisa entre Raquel e Patricia (Simone Perez), sua ex-esposa, e para adicionar mais confusão a vida amorosa da jovem, surge Nara (Amanda Döring). O centro cultural criado por Vicente (Adriano Dicarvalho), além de reunir todas as personagens e concentrar a maioria dos conflitos, contribui para a crítica ao tempo sombrio que vivemos pós-2016.
Um dos méritos de Esconderijo é o seu roteiro, que quebra a expectativa do espectador e direciona as personagens para rumos inesperados e dramas realistas. O elenco e a fotografia são dois elementos fundamentais para que as histórias sejam convincentes e nos envolvamos com uma trama de encontros e reencontros, amores e rompimentos.
Assista o primeiro episódio de Esconderijo gratuitamente no YouTube:
3. Magenta (2 temporadas – 2018/ 2019 [10 episódios] e 2020 [10 episódios])
Produção da Linha Produções, com coprodução da Colabora Produções, Magenta, escrito e dirigido por Thaiane Soares, acompanha o casal Nina (Giul Abreu) e Manuela (Priscila Buiar), juntas há seis anos e com uma admirável conexão. A chegada de Raphaela (Rebeca Figueiredo), uma barwoman de espírito livre, balança o mundo de Nina e Manuela, despertando desejos e incertezas. A narrativa poética apresenta a confusão e os sentimentos das três protagonistas, o que as aproxima das(dos) espectadoras(es), já que o terceiro elemento representa complemento ou separação.
Vermelho e azul são cores presentes, que caracterizam as personagens e contribuem para entender o que era tão forte entre Nina e Manu e que se torna nebuloso com a presença de Raphaela. Magenta é uma história delicada, que recorre às artes do desenho e da escrita para construir a sua poesia.
A segunda temporada traz Nina e Manu reconciliadas e adotando uma criança negra, o menino Felipe (Natã Dias). O casal vive uma nova realidade, logo novas dúvidas, principalmente Manu em relação à maternidade. Enquanto Raphaela tenta se reaproximar de Nina e entender o “nosso” que as três poderiam ter formado e se explicar para elas, ex-namoradas do casal (Priscilla Pugliese e Suellen Alves) reaparecem em suas vidas para gerar novos pequenos conflitos.
O que move a segunda parte de Magenta é a preparação para o casamento de Nina e Manu e a adoção de Felipe, que, apesar de um roteiro mais maduro, não aprofunda o racismo que a criança sofre na escola particular que passa a frequentar.
Da poesia a uma observação maior da vida a dois, a websérie apresenta a reconexão de um casal de modo ponderado e sensível.
Assista o primeiro episódio de Magenta gratuitamente no YouTube:
4. Rebu – Egolombra de uma Sapatão Quase Arrependida (1 temporada – 2019 [6 episódios e um extra)
Rebu é uma websérie para Instagram e o único documentário desta lista. Definido pela sua criadora, a designer e videasta Mayara Santana, como um microdoc sapatão, a produção, de 5 a 6 minutos por episódio, traz a vivência de uma mulher negra e lésbica e é um olhar para o passado, para se conhecer e reconhecer-se.
A experiência pessoal de Mayara e o formato de IGTV do Instagram já seriam motivos suficientes para acessar a obra. Porém, a narrativa e a edição nos prendem de tal forma, que seus pouco mais de 20 minutos são consumidos em um “piscar de olhos”.
O questionamento de Mayara sobre o motivo de ser tão parecida com o seu pai, Pedro de Santana, o Pedro Balla, movimenta a primeira parte do documentário e é crucial para as investigações seguintes, quando a cineasta trata de suas ex-namoradas e de si mesma. Pedro Balla é um homem branco, hetero e – antes de conhecer a esposa, a mãe de Mayara – um mulherengo de carteirinha. Como uma mulher negra pode reproduzir um comportamento tão tóxico em suas relações? É o que Mayara investiga para saber em que errou com suas ex-parceiras, assim como sua impulsividade e irresponsabilidade afetiva.
A mãe, Zefa, tem um papel fundamental em sua vida, por mais que não tenha tanto espaço quanto Pedro Balla no documentário. Ela e o marido aceitaram a sexualidade de Mayara com naturalidade, sem dramas ou medo do futuro.
Os amores surgem a partir do quarto episódio, como um amor da juventude e outro amor que colaborou para a sua conscientização sobre as coisas que a cercavam, para o seu ativismo. Mas é justamente ao tratar de seus romances que a autoanálise se torna mais intensa e dura, pois é a percepção de alguém que entende que reproduziu práticas machistas com outras mulheres, que foi abusiva.
Rebu – Egolombra de uma Sapatão Quase Arrependida é uma obra corajosa e necessária, de alguém que conhece o machismo, o racismo e a homofobia, mas faz uma autorreflexão de sua vida em um processo de desconstrução.
Assista Rebu – Egolombra de uma Sapatão Quase Arrependida gratuitamente no Instagram:
https://www.instagram.com/rebu.doc/?hl=pt-br
Ou no Vimeo:
5. Septo (3 temporadas – 2016 [5 episódios], 2019 [6 episódios] e 2020 [6 episódios])
Produção da Marmota Filmes com coprodução do Caboré Audiovisual, a websérie transcorre em Natal, capital do Rio Grande do Norte, e acompanha a triatleta Jéssica Borges (Alice Carvalho), que, após realizar o sonho da convocação para a seleção brasileira, o que significa disputar as próximas Olímpiadas, tem uma crise existencial (pouco depois é diagnosticada com câncer), e é justamente nesse período que ela se apaixona por Lua (Priscilla Vilela), uma proprietária de lanchonete, que também é instrutora em uma ONG, onde ensina surf.
Conhecer a surfista faz com que Jéssica conteste os rumos da sua vida e se não está seguindo os desejos de outras pessoas, como o pai, um severo treinador, que não esquece os triunfos da esposa, uma triatleta de excelência.
Para além da sexualidade, e com um romance muito bem desenvolvido, a trama traz questões como dificuldade em se relacionar, alcoolismo, conflitos familiares e as alegrias artificiais.
Com uma fotografia que destaca a beleza da capital potiguar, Septo merece elogios pelas atuações, trilha sonora e o ótimo trabalho de edição de som.
A websérie já foi premiada no Buenos Aires Webfest, no Rio Webfest e no SP Webfest.
Assista o primeiro episódio de Septo gratuitamente no YouTube:
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Webséries estrangeiras
1. Anne+ (1 temporada – 2020 [6 episódios])
A websérie da Millstreet Films, escrita por Maud Wiemeijer e dirigida por Valerie Bisscheroux, acompanha a vida de Anne (Hanna van Vliet) uma jovem de 20 e poucos anos, que se muda para Amsterdã juntamente com sua namorada Lily (Eline van Gils), mas o relacionamento chega ao fim e a jovem tem um novo apartamento e precisa pensar em seu futuro profissional. O primeiro episódio, que parte do reencontro de Anne e Lily, traz justamente a relação entre elas, de um relacionamento apaixonado e consolidado ao desgaste que vem com as dúvidas do que vivemos e desejamos ainda viver. Os capítulos seguintes mostram cada um dos relacionamentos amorosos de Anne. Essa dinâmica é instigante, pois consegue fugir de atrelar seus acertos e tropeços na vida apenas aos seus namoros ou envolvimentos românticos, ainda que sejam parte de sua formação como uma mulher adulta e lésbica. Pode-se dizer que esses vínculos são a matéria-prima, que são forjadas pelas expectativas da protagonista. Trabalho, amigos e pais também fazem parte de seu cotidiano.
A condução da narrativa, entre o presente e flashbacks, é bastante envolvente, o que nos faz conhecer Anne e o porquê de algo no agora suscitar lembranças de alguma de suas paixões.
A websérie é divertida, tendo no humor um dos seus pontos fortes, assim como o carisma e talento de Hanna van Vliet, em uma personagem que procura seu amor-próprio e está aberta ao que a vida oferece.
A segunda temporada de Anne+ foi realizada para a televisão holandesa, então, levará um tempo para estar disponível online.
Assista o primeiro episódio de Anne+ gratuitamente no YouTube:
2. Controle/ Kontrola (1 temporada – 2019/ 2020 [7 episódios])
Escrita e dirigida por Natasha Parzymies, essa websérie polonesa deriva de um curta-metragem de sucesso, que, aliás, foi o projeto de final do curso de Cinema da jovem autora.
Controle começa com um reencontro de ex-namoradas no aeroporto de Varsóvia. Natalia (Ada Chlebicka), que é segurança, revista Majka (Ewelina Pankowska). É um ritual de olhares (um misto de constrangimento e excitação), toques, respiração e sentimentos. Logo, interrompido pela presença do atual namorado de Majka. Esse primeiro episódio é o mais curto da temporada. Porém, o suficiente para que nos liguemos às duas e ao que está por vir.
A websérie segue duas linhas temporais: conhecemos o passado das garotas, desde o primeiro encontro até o rompimento doloroso, e o presente em que a paixão e a conexão ressurgem, criando dúvidas e levando Majka a contestar sua nova condição amorosa e de vida e Natalia a se entregar ao que sente pela ex-amante.
A química entre Natalia e Majka é o trunfo da obra, mas a fotografia, que não poupa cores e com cenas noturnas arrebatadoras, também merece menção.
Controle, que é a primeira websérie lésbica polonesa, centra-se nas idas e vindas do amor, o que não soa tão original, porém o seu valor de produção, as atuações e a direção de Parzymies fazem com que a história de duas jovens apaixonadas, com seus desejos e percalços, seja crível e encantadora.
Teaser da segunda temporada já foi lançado, o que revelará se Natalia e Majka têm um futuro.
Assista o primeiro episódio de Controle gratuitamente no YouTube:
3. My Dear Friend (1 temporada – 2019 [4 episódios])
My Dear Friend compõe a lista por ser uma produção da Cheeze Film, que faz obras voltadas para o público jovem sul-coreano e que tem nas webséries lésbicas seu destaque em relação à audiência.
A série começa com Hee Joo recebendo uma confissão de amor de seu amigo de infância. Novidade que conta a sua melhor amiga no colégio, Yoohyun. Entre brincadeiras e a dúvida de Yoohyun se gosta ou não do namorado, Hee Joo é surpreendida pela garota, que, primeiro a provoca sugerindo que namorassem caso ela rompa com o atual companheiro, depois tentando roubar-lhe o primeiro beijo.
Eventos que bastam para deixar Hee Joo confusa, porém reconhecendo que sente algo além de amizade por Yoohyun. Ao saber que a amiga gosta de brincar assim com as garotas, Hee Joo começa a evitar Yoohyun, que, por sua vez, ao saber que suas ações levaram a jovem a se apaixonar, decide iniciar um namoro com ela, para não perder a amizade e não permitir que adoeça por causa da rejeição.
A websérie sul-coreana não é romântica, carrega certa tristeza, com trilha sonora e composição de imagens melancólicas e sutis. Uma pergunta possível é o quanto ferimos alguém ao acreditar que devemos nos responsabilizar pelos nossos atos e corrigir um suposto erro? Quem se machuca ao se fazer essa escolha? Contudo, Hee Joo não é uma agente passiva, que aceita o que Yoohyun lhe oferece sem pensar nas consequências. A sua felicidade é enganosa, já que a amiga nitidamente se esforça para contentá-la e manter o vínculo entre elas. É válido sustentar um amor que surge como sacrifício e medo da perda?
Há pequenas participações importantes, como a de Garam, uma amiga em comum das protagonistas, e do ex-namorada de Yoohyn, que compreendem a situação e agem com naturalidade.
My Dear Friend não trata de amor, mas sobre se apaixonar, da descoberta da identidade e do equívoco de começar uma relação amorosa pelo temor de perder uma ligação afetiva. Ainda que os episódios sejam curtos, de 5 a 8 minutos, essas questões prendem a atenção e levam à reflexão, mesmo embaladas em certa melancolia.
Assista o primeiro episódio de My Dear Friend gratuitamente no YouTube:
4. Quién Pudiera (1 temporada – 2020 [10 episódios])
Websérie que se passa em Rosário, na Argentina, com produção da Hipólita Films, que tem uma equipe majoritariamente de mulheres. Quién Pudiera acompanha três amigas Mariana (Lara Todeschini), Sofi (Estefanía Nicoló) e Memé (Maru Lorenzo), as duas primeiras lésbicas e a última bissexual, que estão nos seus 20 e poucos anos e enfrentam os problemas cotidianos de um centro urbano, da vida profissional e das relações amorosas, com muito humor e ativismo.
Dirigida Josefina Baridón, com roteiro em parceira com Morena Pardo, a comédia Quién Pudiera observa a importância do feminismo e o avanço das discussões e conquistas acerca da diversidade sexual. Por enfatizar o cotidiano de três jovens mulheres, esses assuntos andam em comunhão com outros típicos da juventude, como a luta para conseguir um emprego na área de formação e os relacionamentos afetivos, amorosos e sexuais.
Um dos acontecimentos que move a websérie é o fechamento do único clube LGBTQIA+ da cidade, o que causa um problema quanto ao direito ao lazer e à vivência cultural em um ambiente não heteronormativo. Outras questões sociais pertinentes passam pelo dia a dia das amigas, como aborto, vida familiar, o orgulho LGBT e um dia no futebol feminino, com muita paquera e confusão.
O roteiro de Baridón e Pardo é um dos pontos fortes da produção, pois não faz concessões, apresenta a rede de apoio feminista sempre que alguma mulher necessita de ajuda urgente e por intermédio de Memé visibiliza a bissexualidade. Os diálogos são engraçados, politizados, sarcásticos e ligeiros. Suas protagonistas têm atuações tão naturais, fazendo com que os 15 minutos de cada episódios pareçam insuficientes, apesar de estar tudo em seu lugar.
Criado para suprir uma ausência de produções com protagonismo de mulheres lésbicas e LGBTs, Quíen Pudiera é uma websérie cômica que passa com responsabilidade o seu recado.
Assista o primeiro episódio de Quién Pudiera gratuitamente no YouTube:
5. The Best Friend (1 temporada – 2018/ 2019 [8 episódios])
Websérie estadunidense com protagonismo negro, produzido pela iTiMiNak Productions, escrita e dirigida por Kimberly Twiggs, que acompanha a amizade e paixão entre duas amigas. O mote pode soar clichê, mas a obra tem frescor e contundência na forma como mostra o envolvimento delas e a vida de jovens mulheres lésbicas em um país conservador como os Estados Unidos.
O primeiro episódio traz Brit (Alexa Williams) e Mina (Kimberly Twiggs) em mais uma noite de cinema na casa de Mina. O filme é de conteúdo LGBT. Brit chama a atenção para o fato que toda sessão o tema é recorrente. Mina é lésbica, enquanto Brit tem um namorado, mas se mostra curiosa em relação ao sexo entre mulheres, por isso ela tenta seduzir Mina, que resiste, mas acaba cedendo, e as amigas transam. Um capítulo intenso, em que as jovens se revelam donas de sua sexualidade, mesmo temendo o passo que estão dando a respeito de seus desejos.
Mina acende o sinal de alerta com medo de arruinar a amizade, mas ela é apaixonada pela amiga. Brit, por sua vez, descobre que sempre nutriu um sentimento a mais além de amizade por Mina. Esse é o cenário dos episódios seguintes, com revelações, como contar para o namorado – o que leva ao fim do namoro –, e para a mãe, assumir a relação publicamente, e com desentendimentos, já que é uma experiência definidora e que mexe com valores tradicionais e mostram preconceitos arraigados na sociedade.
Brit precisa enfrentar sua mãe conservadora, que insiste em empurrá-la para o ex-namorado. É essa dificuldade de Brit em lidar com a mãe, que causa a maior crise entre ela e Mina.
Mina tem mais sorte, pois seus pais são liberais, esse é um dos tantos contrastes entre as amigas que parecem criar percalços para que a paixão possa ser vivida plenamente.
Em certa altura da websérie, surgem questões como alcoolismo, dificuldade em encontrar um rumo na vida e aceitação de si mesma. O roteiro de Twiggs apresenta de maneira convincentes esses problemas, contando com a dedicação dela e de Williams para entregar personagens verossímeis, reconhecíveis em suas dúvidas e mudanças.
The Best Friend alcança o seu objetivo e cria com inteligência e charme um espaço de visibilidade para as mulheres negras lésbicas.
Assista o primeiro episódio de The Best Friend gratuitamente no YouTube:
Priscilla Raibott
Adorei de verdade conhecer novas séries e mais profundamente.
Gratidão.
vania
falou muito e foi pouco objetivo