Análise do poema Solidão de Jeovânia P. – Por Vanessa Franco
Na coluna mensal “Mulheres na Literatura”, Vanessa Franco aborda entrevistas com escritoras, resenhas de livros, publicação e análise de poemas e traz novidades do mundo literário envolvido por mulheres.
Vanessa Franco é professora de teatro, atriz, palhaça e poeta paraense.
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Solidão
A solidão
rói meus pés
minhas carnes
meus olhos
em vida
sou comida
ela me chega como se fosse os vermes
que devoram nossos corpos na areia
ela faz isso de forma invisível
quem olha pra mim
vê esses olhos pretos
a olhar
e não percebem
que a solidão está ali
roendo cada pedacinho
desse globo ocular
e de todo o resto de mim
Jeovânia P.
O poema Solidão, da autora Jeovânia P., traz um vazio e uma tristeza profundas que percorrem seu eu.
Interpretando o poema, podemos analisar como a solidão é capaz de esvaziar e deixar o eu lírico perante o silêncio. Nos versos abaixo, temos a noção desse sentimento:
“A solidão
rói meus pés
Minhas carnes
meus olhos
em vida
sou comida”.
Percebe-se que a solidão foi aos poucos apagando a voz que fala no poema até chegar ao ponto que, mesmo em vida, o eu-lírico é consumido pelo vazio que atravessa o seu ser.
O sujeito poético vai descrevendo com profundidade a sensação do nada, o vazio onde a solidão “está ali, mas ninguém vê”. No verso, estabelece-se uma atmosfera do oco, do vago e dessa morte silenciada, que vai devagar apagando o eu da sua imensidão de alma.
A autora consegue nos transmitir com maestria e sutileza o encontro com o vago, e, assim, vai levando o leitor a se envolver cada vez mais com a sua escrita dilacerante e profunda.
Concluímos, então, que o poema se encerra da seguinte maneira: com um toque de profunda tristeza e melancolia, que vai dia por dia consumindo o ser em doses de solidão.
frederico
muito interessante.
Jeovania Pinheiro do Nascimento
gratidão.