“Antes do Mundo Acabar” – Por Aline Wendpap
ANTES DO MUNDO ACABAR
(Lucas Lemos, 23min, 2021)
Por Aline Wendpap
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O filme sobre o qual discorrei neste texto é “Antes do Mundo Acabar”, roteirizado e dirigido por Lucas Lemos e estrelado Lucas Fortes (como Pedro), Eros Sgorlon (como Geovane) e Caio Augusto Ribeiro (como Ricardo). Realizado com recursos provenientes da Lei Aldir Blanc, ele é ideal para a coluna de junho, porque este é o mês de comemoração do orgulho LGBTQIA+, que surge em referência ao conflito no bar Stonewall, em Nova York, em junho de 1969, quando um grupo resolveu enfrentar a constante violência policial sofrida pelos homossexuais.
O curta de pouco mais de vinte minutos conta a história de Pedro, que ganha vida pela interpretação cativante e um tanto quanto cômica de Lucas Fortes. Pedro é jovem periférico, gordo e fã de Rita Von Hunty, que o inspira na implantação de um canal no YouTube, para discutir questões sociais, gênero e LGTQI+. Porém, umesbarra na limitação financeira para filmar e produzir. É aí que entra em cena o casal de classe média, Geovane, que é maquiador e Ricardo que é músico, para ajudar o amigo “quebrado” a realizar o sonho de ter o canal.
Neste ponto começa o “imbróglio” da narrativa, pois o filme se passa em um momento de agravamento da pandemia da Covid-19. E, enquanto Geovane nem pestaneja para oferecer ajuda a Pedro, o entojado Ricardo (vivido de maneira ímpar por Caio Ribeiro), só o faz após intensa insistência do companheiro e mesmo assim, um pouco a contragosto.
Após isso e para que tal empreitada se realize mais facilmente Pedro fica hospedado no apartamento do casal, por 15 dias, para que possam organizar seu canal no YouTube. Todavia, a convivência diária demonstra em cada pequeno ato as diferenças de classes (como bem nos explica a musa inspiradora de Pedro, Rita Von Hunty, em seu canal) entre Pedro e o casal, mas traz junto uma sintonia entre todos, só quebrada pelo grande ponto de virada do curta, que é a descoberta, por Ricardo (após uma noite animada entre os três), de que Pedro vive com HIV. Eis a grande questão do filme, na minha opinião: Pedro teria escondido a informação? Ou Ricardo estava tão imerso em sua arrogância que não viu/soube?! Assistam e tirem suas próprias conclusões, para quem sabe discutirmos sobre isso em alguma oportunidade.
A realização é assinada pela Salve Filmes, que mesmo sendo uma jovem produtora, tem delineado uma bela e assertiva trajetória. A produção de Isabelle Fanaia, assistida por Emília Top’Tiro é precisa e impressiona, vide as obras de arte que preenchem a cena e enchem os olhos dos espectadores, especialmente na cena do jantar do trio, fato que também deve ser atribuído ao trabalho de Ana Carolina de Mello, que assina a direção de arte, juntamente com o figurino. A fotografia de João Pedro Régis e Jorge Queiroz também chama a atenção pela qualidade, já característica dos dois.
Essa é uma das muitas produções recentes do cinema mato-grossense, que vale a pena ser vista, comentada e publicizada. Fiquem de olho, pois está participando de alguns festivais pelo Brasil.