Cinco poemas de Elisa Pereira
Elisa Pereira é poeta, escritora. Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ganhadora do Prêmio Nacional de Literatura Poesias Carlos Drummond de Andrade/SESC-DF (2016), 2º. Lugar, Finalista no V Certame Literário – Poemas para La Mujer –Conocimiento e Innovación Intercultural A. C.”Armando Hart Dávalos”-México, com o poema: Niña o Mujer. Participa de várias coletâneas e revistas literárias nacionais e internacionais. Publicou, em 2018, seu primeiro livro de poesia, Memórias da Pele (Chiado Books). Integrante da equipe de produção do Sarau Fuzuê Literário em Paraty/RJ. Face: Elisa Pereira Poesia; insta: @elisapereira1975.
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Agora eu sou a poesia,
Tentando falar o inaudível
palavras envoltas pela melodia
silenciosa do coração.
Canto sereno na boca amordaçada,
sem verso, sem estilo,
sem nome, sem rima.
Sou a poesia encarnada,
O verso do inverso.
sem começo,
nem meio,
sem fim.
Poesia que procura no poeta
a alma do mundo.
*
Memórias da Pele
Minha pele não tem fronteiras,
Não tem classe social,
pele preta!
Rasgada em versos de música,
mesclada a várias cores
muitas vezes coberta de horrores,
outras de amores.
Pele que me impele,
pele que me impede.
Dores que se arrastam,
anos a fio, morte.
Morte a pele preta!
Emudeço.
Não cresço, não subo, só desço,
pele que carrego na pele, feito tatuagem
pele viva, pele nua, pele crua.
Vejo minha pele nas estatísticas dos jornais,
na lista de cadáveres,
no resultado das caçadas diárias nos morros.
Minha pele esticada no asfalto,
diante das câmeras de TV.
pele que confunde a noite,
e no escuro exala dores.
*
O riso na tua boca
abre alguma porta dentro de mim,
por onde entro, me achego e me deito.
O riso na tua boca despe todas as
minhas capas de proteção, uma a uma.
O riso na tua boca expõe minha nudez.
Diante do teu riso, minha doçura se curva,
meu corpo se derrama.
O riso na tua boca desperta meu desejo.
Diante do teu riso, meu corpo se entrega.
O riso na tua boca me embriaga.
Diante do teu riso, me consumo
e te convido: entra.
*
Hoje me sinto dividida,
entre ser menina ou ser mulher.
O espelho insiste em dizer que envelheci
mas dentro em mim acabo de nascer.
Uma vida repentina despertou meu ser,
só sei que quero e quero querer viver.
Sim tenho medo, mas agora ele me serve de arreio,
para que eu possa ir mais longe.
Se for para ser mulher,
quero ser mulher de asas e traçar meus voos
em direção ao desconhecido
Se for para ser menina,
quero ser menina doce e viver de amores.
Decido ser hoje, o que nunca fui,
menina livre,
mulher por inteiro.
*
A cada dia acordar e lapidar os sonhos