Cinco poemas de Felipe Sanna
Felipe Sanna é paulistano. Graduado em História e pós-graduado em Gestão de Negócios. Participou de antologias pelas editoras Patuá, Matarazzo e Futurama. Teve poemas, crônicas e contos publicados em revistas literárias como Mallarmargens, Variações, Ruído Manifesto, entre outras. Gosta de ouvir Sonic Youth enquanto lê os contos de Gógol no metrô.
***
Como quem vive e sabe tanto
ainda que quisesse
raiva e certeza
nem sempre prevalecem
quando pulsa algo no peito
é cegueira
é chama
é tanta coisa
e só quem ama
é grande
e é tanto
que nem tudo
é tão tamanho
quanto o tanto
que se sente
virou engasgo
espasmo súbito
espesso orgasmo
a preceder o inevitável
desmaio
brando sono oco
de quem goza
a vida
como quem vive
o último dia
o dia inteiro e todo dia
como ela
ao meio-dia
o som das ruas
é tão alto
e ainda assim
consigo ouvir
a sua voz enquanto sonha
então eu saio
como quem vive e sabe tanto
como o louco desvairado
que em seu delírio
carrega outras vidas
e não conta isso
a ninguém
*
Barato novo
Dançando ao som da máquina de lavar
vovó parece feliz.
Em cima da mesa, ansiolíticos
e um quarto de gim.
*
Embate noturno
A mulher delimita
novos territórios
enquanto cava
uma vala profunda
dentro de mim.
Ferramentas que talham
com selvageria
as marcas caóticas do amanhã:
unhas e dentes,
manchas efêmeras,
rastros que confluem
o vulgar e o sagrado,
na superfície da carne imunda.
Soberana,
ela dita o seu ritmo
às quatro e meia da manhã,
com toda imprudência e insensatez
que há
na lascívia.
Alucinação?
Delírio?
Não!
Contraponto.
Escorrego em suas pregas
como um incendiário a requerer novas utopias.
Reacendo labaredas ocultas
em seu corpo.
Reproduzo um singelo tributo,
espesso,
a escorrer liberto em seus vãos:
F
I
N
I
T
O
D
E
S
E
J
O
!
*
Ilumino
arrisco riscar o riso
em lábios lisos lambo gritos
doidos doídos
devassos delitos
no sótão soturno
do teu eu
lírico
desato desejos
liberto o vil libertino
seivo
sirvo
e ilumino
*
Nó na garganta
versos densos submersos
quartetos tercetos sonetos
pedras
pedradas
pauladas
farpadas palavras na alma
rimas brutas perdas
esfinges afrodites
na garganta