Cinco poemas de Franck Santos
Franck Santos, 50, libriano com ascendente em peixes, ilhado em São Luís do Maranhão. Tem 4 livros publicados.
***
Cravo em ré maior, no trapiche. Flauta, no píer. Violino.
Guitarra, na maré. No refúgio.
Não amarelou o cravo da ilha. Pensei em girassol,
{não era. Nem flor.
Nas noites, reggae. Beethoven. As manhãs,
{sem sol e sal.
Cordas arrebentadas, murcho, o cravo, silenciou.
Sonhando com neve, nas tardes quentes do hemisfério sul.
Dele, fiz oferenda.
Joguei-o ao mar, numa madrugada. Rumo às índias.
{Aos Polos. Outras ilhas.
Cítara, ecoou.
*
Não tentei
Mas sei
Nós, aves, morremos dos voos
Que não os demos.
(A serena possibilidade do abismo)
*
Aos 14 anos ele disse que apagou seu rosto de todas as fotografias dos álbuns de casa.
[Aos 25 anos, o que mudou nos seus traços:
O sorriso?
Algum sinal de nascença?
As marcas de expressão?
Alguma cicatriz?
Os óculos?]
Seu rosto é o mesmo
ou de vez em quando pega em tesouras, lâminas, canivetes, estiletes, facas,
e ainda brinca de cirurgião?
*
Na trigésima volta de bicicleta
ele deixou de acreditar nos dias santos
ladainhas
igrejas.
Descobriu que trazia catedrais nos pés, coxas e órgãos genitais.
Adentrou na autoestrada
correndo na velocidade de sua solidão que nada tinha a ver com círculos, quadrados, retângulos, linhas retas, paralelos.
Era Deus.
A bicicleta voltou vazia.
*
Os dias eram doces. Melados. Água com açúcar. Um riacho doce. Uma manhã ele enjoou de tanto doce, saiu para comprar sal. Vagando pela casa, esperando o sal que ele não trazia, ela sentiu. O sal era a ausência que ele deixou.
Chorou uma salina. Um oceano. Uma tarde, escreveu na geladeira: ‘o doce acabou’. Decidiu: saiu para comprar um.