Cinco poemas de Graziela Barduco
Graziela Barduco é atriz, diretora, escritora, arte-educadora, editora de vídeo e mestre em Artes da Cena pela Escola Superior de Artes Célia Helena. É graduada em Cinema pela FAAP, pós-graduada em Artes Cênicas pela FPA, em Interpretação para Musical pela Escola Superior de Artes Célia Helena e em Administração pela UNIP. Foi orientanda de Liana Ferraz na pós-graduação em Interpretação para Musical e no Mestrado, e aluna de Antonio Nóbrega e Rosane Almeida. Integra o elenco da Cia Cordiais, focada no público infantil, companhia da qual é também diretora e fundadora, bem como é pesquisadora das artes da cena, com foco no teatro infantil em conexão com a cultura popular brasileira. Recentemente publicou seu primeiro livro de poemas, o Na Rima da Menina, pela editora Versejar.
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Menina Feita
De tudo aquilo que sou feita
Da mais pura melodia
Sonho que estou satisfeita
Sigo firme dia a dia
Em tudo encontro beleza
Com olhos daquela menina
Nas obras da natureza
Andando de esquina a esquina
Não é por acaso que erro
No passo mais firme da dor
Do âmago veio-me um berro
Me entrego de amor em amor.
*
Caiu-me
Caiu-me da mão, este lenço escuro
Daqui pra adiante, enxerguei meu futuro
Escalando montanhas, pulando este muro
O peito tão mole, então ficou duro
Na fuga da vida, eu puxei o meu freio
No meio da alma, eu fiz novo furo
Sorriso de outrora, deixou de ser puro
Segui pela estrada, num andar mais seguro
Olhar destemido, espantei meu apuro
Fugi da cilada, empurrei o perreio
E se dessa vida, vivida ao meio
Ergui a cabeça, a frieza me veio
Expurguei a fraqueza, não tive receio
Tornei-me uma rocha, chutei o bloqueio
Parti mundo afora, num destino impuro
Da pobre menina, sem mais devaneio
Brotou-me a mulher, de firmeza no seio
Arrancando do âmago, o que eu tanto odeio
Dispus-me sem dó, já sem muito volteio
Solado pesado e olhar tão maduro.
*
Face Austera
Encontrei tua face austera
Que outrora quis negar
Nesta noite fui sincera
Pois pensei em te deixar
Lá da beira do riacho
Eu te vi partir distante
Foi-se feito um despacho
Te perdi em um instante
Se te deixo meu adeus
Não será um até breve
Nestes olhos que são teus
Teu sorriso me descreve
Nesta noite que se finda
Apaguei meu lampião
Sem te ver, te guardo linda
Te larguei na escuridão.
*
Fera
Domei a fera
Toda cheia de amargura
Fui buscando minha cura
Que mal pude respirar
Meu corpo cai
Se levanta lentamente
Transformando em serpente
Pra sair deste lugar
Naquela era
Fui fazer uma fissura
Numa tarde tão escura
Um buraco eu fui cavar
Soluço vai
Numa busca permanente
Me esquivei de tanta gente
Que cansei-me de esperar.
*
Hora
Já tentei me levantar
Fiz de tudo, relutei
Mas depois de tanto amar
Sei no que me transformei
E não sei como voltar
Pro ponto que comecei
Levo um peso no meu peito
Já não posso carregar
Eu me lembro do seu jeito
Sinto o coração falhar
Neste mundo imperfeito
Já não posso mais ficar
Ponho um fim no pensamento
Me despeço, vou embora
Rapidez de um momento
Parto logo, sem demora
Pondo fim ao meu tormento
Já me é chegada a hora.