Cinco poemas de Jean Sartief
Jean Sartief é poeta e artista visual nascido em Natal/RN. Premiado nas duas áreas em diversos salões nacionais e internacionais. Publicou 4 livros de poesias. Foi premiado em concursos de poesia nacionais e internacionais. Participa de várias revistas, coletâneas e publicações impressas e virtuais. Vive e trabalha em Porto/Portugal.
Instagram: @sartief
Site: Jean Sartief
E-mail: sartief@gmail.com
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De olhos fechados
É tarde.
Penso em desistir,
Mas o dia sempre vem
Recriando horizontes.
Não importa,
Há tempo! – diz a senhora
de olhos fechados,
sentada no chão.
Penso em dar-lhe a mão
E da minha intenção,
Ela discorda:
Eu não sei o meu nome
Nem sei o tempo que tenho
Nem sei o que quero.
Somos iguais.
*
A flor contrastava com todo o resto
De uma lida com o tempo
Que já não existe.
Eles seguiram com tudo.
Escuro.
Tenebroso gesto.
A flor.
Nesse campo deserto.
Por onde queres ir, me perguntas.
Nas tuas barbas avultam
Todas as dúvidas.
Acreditamos.
Nova terra,
Novo povo.
Pouco depois,
Espantados,
Atingidos com o coração
Nas mãos.
*
Irreparável
Saímos do mar
Molhado de palavras.
Investigamos o olhar de estranhamento.
Estávamos tão felizes.
As pessoas riram.
Estavam tão certas
De que não ter respostas
Era um lugar seguro.
Até que o vão da escada
Tornou-se abrigo
E nenhum riso.
Irreparável.
A completa solidão
Do escandaloso silêncio.
Cheios de dentes e nenhuma palavra
Escondem o sangue.
Do mar, não restou nada.
*
Seraphine
Panela seca.
Pés descalços.
Um manicômio.
Recai
Sobre nós, Seraphine,
O mesmo discurso hábil
De que essa sensibilidade frágil
Nos atesta para a loucura.
Certa
Nesse amor ao que eras
E não tinha nome.
Que coisa mais bela!
E coroavas tua devoção
Ao trabalho.
Eram anjos, Seraphine.
*
Desmedido
Pôr-se em guarda
Relação
De afronta
Que nos afeta
O que nos resta
Da ingenuidade
É posto em prova
Num tecido de ruídos
Cobre feridas escorregadias
Lembranças
Convertidas
Em qualquer coisa que dói.