Cinco poemas de leonardo ramos
leonardo ramos vive no rio de janeiro, é formado em letras e pesquisa literatura – é, também, um poetinha noturno, que edita os próprios poemas no perfil de instagram @oalbatroz.
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toda noite
no bar ao lado da universal
em são gonçalo
uma mulher senta numa mesa de sinuca
e um homem em pé acaricia
as coxas
o bar é pouco iluminado
mas vejo do outro lado
invejo aquela comunhão
finjo ser um bartender
mas eu não poderia trabalhar
em são gonçalo
assim
não sou o lawrence
não estou esperando
no bar um homem
não finjo ser da universal
mas invejo toda noite
as coxas de uma mulher
*
perceba
vou criar cerejas
para cobrir seu bolo bem menos
pretenciosos
verás o universo como a sorte
das maçãs
distraído
de aracnídeos e do medo
das tragédias
porque sou um homem
emprestado o namoro
adolescente
*
rapazinho perto de você sou um efeito
catastrófico possivelmente novo
para asteroides e planetas aposto fico
entre trópicos cataratas castas baratas
não há apóstrofes velas cortinas
nada é eleito
somos as cascas dos ruídos
escadas de cada mansão
as mãos no meu cabelo
*
se fôssemos ainda
garotos outros rostos
e gostos assustados no canto do banheiro
à beira do precipício o suicídio
dos poetas alarmando os noticiários
mas isso em um mundo perfeito onde poetas estão nos jornais
e as aspas deslocadas há uma fala dada entre nós
em hiatos castelos e fortalezas
certezas cabelos
por favor
estilhacem seus amantes sejam estúpidos
pútridos sepulcros decorativos
rosas e orações de todos os santos
cantos de todas as correções aparatos
precisamos de métodos manuais
como enxergar e ver reflexos seculares
em refratores infratores tratores arrastam as terras
e construções cavalos carvalhos arrancados
tratados de crueldade cartas escritas
em vermelho escorrem intensidade letra
escarlate moralidades todas as poses
da modernidade arrematadas em um sentimento
crepuscular
*
ressentir
se atrasar
ruídos ameaçam
a casca
da realeza
nossas cabeças
de colchas
trouxas
sujas
seremos idosos
com algumas deficiências
não teremos cantigas
memórias
da ditadura
só atropelos
que um sistema causa nas filas
intermináveis do seguro social
esta manhã
é o último dia
de um tempo etéreo
e estonteante
com o sol energizando
de perto
o arranhão de uma provocação altruísta
a chance de vivermos melhor
o ínfimo de uma intimidade
a feia imitação
da falsa calmaria de um poeta