Cinco poemas de Lucas Luiz da Silva
Lucas Luiz da Silva nasceu em Guararema no ano de 1991. Continua em pé, embora carregue a sequela da invisibilidade. Iniciou publicando crônicas no “Jornal D’Guararema” e depois poemas no site de variedades “Guararema Tem”. Redator do programa “Guararema Online” da Produz Áudio&Vídeo. Recentemente colaborou com as Revistas Literárias: Avessa, Inversos, LiteraLivre, Ser Esta, A Bacana, Subversa e Mallarmargens. Também com uma participação na Antologia Além do céu, além da terra da Editora Chiado. Segue sem exceder os limites do município. Ou já o fez sem que ninguém perceba.
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Minerva
Nasce adulta a coruja
direto do fronte de Júpiter.
Envolta por prudência:
fez-se um passo de cada vez,
fez-se uma paixão por vez.
Surge do crânio aberto
de um deus: bela e cintilante.
Penetra os caminhos opacos
das pupilas nubladas
devolvendo perspectiva.
E pulsa – talhando
imagens rupestres:
sorrisos esculpidos
em face.
*
Alquimia
Os caminhos para salvação aparecerão
múltiplos, Pietro. Erguem-se templos
para deuses íntimos o tempo todo.
Cada qual em seu útero terrestre:
a rocha esculpida em tamanho exato
para a conveniência dos próprios pecados.
E tentarão orientá-lo: meu deus
é o deus único e o paraíso um pico
inalcançável senão erigido através
destes espinhos – a rosa da minha
verdade – o milagre manifestado
sobre o rochedo.
E na tentação de enxergar somente
demônios alheios, Pietro, hão de
ignorar a lição mais importante:
a educação pela pedra (não de João
Cabral) mas a lapidação constante
do olhar embrutecido.
*
O cão
Meditar a íntima obscuridade
assim como Diógenes, o cão,
com o sol do tonel tapado
por Alexandre, o grande:
saia da frente infeliz,
deixe-me arder à luz
de minha própria
solidão.
*
Poeminho leigo e um tanto irônico
Mundo mundo vasto mundo
a poesia é apenas rima…
Rimos.
*
Beleza miníma
Ó divina Melpômene, livra-me do
verso-status, frio de contradições
& distante da miséria humana.
Ó divina Melpômene, guarda-me das
boas novas, do agrado cor-de-rosa
– adorno da afobação.
Ó divina Melpômene, afasta-me
do idealizado: a rima em passagem
por polegares – este palco
erigido para Narciso.
Ao contrário, ó divina Melpômene,
fira-me com a mácula incontestável
das coisas miúdas: o incenso
contido no silêncio
– de espinhos na garganta –
sem nenhum juízo.