Cinco poemas de Luiz Fernando Perrugia
Luiz Fernando Perrugia, 1992, Marilândia – ES, é graduado em enfermagem, pós graduado em Atendimento Pré Hospitalar de Emergência, vive uma rotina maluca, e escreve quando pode ou quando o coração manda, sim, uma combinação pra lá de incomum. Possui duas participações como contista em antologias colaborativas da editora Andross, Tratado Oculto do horror (2016) e King Edgar Palace (2017), porém a sua verdadeira paixão é poesia, onde infelizmente ainda não possui nada publicado oficialmente. Autor de duas coletâneas de poemas intituladas “Tristeza em Latas de Soda” e “Cavalo Paralítico”, esta última ainda não finalizada. Com um estilo que mescla decadência, pessimismo, incertezas, por vezes agressividade e falta de pudor, é frequentemente comparado com Charles Bukowski, o qual não nega ser fã.
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1 – Cavalo Paralítico
endividado
e à procura de um cavalo
que possa vencer o páreo
talvez ela traga rosas
quando eu morrer
eu amava o seu sorriso
eu não gostava dos domingos
e possuía uma boa habilidade
com as palavras e com a língua
que estou deixando perecer
e agora
que a largada foi dada
todas as crianças se amontoam
por cima do frágil alambrado
enquanto assistem
pacientemente
o meu cavalo
perder.
2 – Gatos ao Sol
você acorda
com sons na cabeça
as noites passadas em claro
lutando contra a febre
que simplesmente
não se vai
a bandeira
e os soldados
descendo a rua
marchando ao longe
sem destino aparente
e os gatos nos muros
tentando captar
os primeiros
raios de sol
e você se senta
tão gentilmente
naquele banco de praça
sem ninguém perceber
o tempo que lhe resta
não é um erro
não é um acerto
talvez não seja nada
mas tudo que lhe dizem
é que só lhe resta
esta chance
acorde
o filme acabou
os seus músculos tremem
e enquanto as horas desabam
você toma o seu café ralo
à espera dos primeiros
raios de sol.
3 – Debaixo da Ponte
um olhar
uma nuvem negra
e algumas gotas de chuva
faz frio, e talvez alguém esteja
neste mesmo exato momento
chorando perto do fogo
sem chances de
escapar
mas veja
é um abrigo
e é de graça também
flores resistindo ao declínio
vozes que sussurram na noite
tudo tão difícil de explicar
e quando passam os carros
e quando passam as pessoas
em suas tristes capas de chuva
eu me pergunto quem sou
decadência espiritual
é tão fácil alcançar
mas aqui
debaixo desta ponte
eu estou completamente sozinho
e por todos estes dias de inverno
em que gatos se enrolam em feltros
eu tenho pacientemente tentado
cultivar minhas frágeis violetas
em privadas descartáveis
otimista de marca maior.
4 – Flores e Funerais
um pigarro
me tira o sossego
a garganta tão irritada
pelas dezenas de cigarros
tragados na noite passada
as flores
e os funerais
todos os golpes
nós estaremos lá
com os dentes cerrados
à espera de um derradeiro milagre
ou qualquer coisa minimamente parecida
e chove
e há uma goteira
me tirando a paciência
descompassando os batimentos
de um coração que está ali
bem atrás do esterno
mas que eu julgava
não mais existir.
5 – A Virada
esqueça
o que eu disse
não era forte o bastante
as minhas cartas baixadas
a música que não terminou
é apenas um blefe
eu sei
todos devem saber
mas não encontraremos
um jeito melhor de deixarmos
o sol banhar nossas cabeças
que já não arquitetam
mais as grandes
vitórias de
outrora
encontre um amor
e deixe ele lhe matar
ao menos uma vez
você vai ver
vai ser suficiente
e quando as nossas cruzes quebrarem
ainda haverá um Messias torto em nossas camas
lamentando pelas vidas que
não pôde salvar
mas não se preocupe
com os ataques cardíacos
ou com as drogas ingeridas
pois mesmo que a morte chegue
em sua lambreta fantasmagórica
é provável que já não haja nada
que ela possa levar.
Todos os poemas aqui listados foram extraídos da obra Cavalo Paralítico.