Cinco poemas de Max Lima
Max Lima nasceu no Rio de Janeiro em 1992. É poeta, músico e mestrando em
Literatura Brasileira.
***
O primeiro poema
Meu primeiro poema nasceu no bojo
Da saia da mãe
Das mãos nutridas com o leite da mulher
Anônima
Meu primeiro poema saiu da boca da mãe.
Meu primeiro poema era as bocas da mãe.
*
Krónus
Por supor-te flores
Pesei-te errado.
Tu pedra
De carne e leite
De uma mãe antiga.
Por supor-te flores,
Pesei te Heras
De mãos amigas
Sobre meus pés
De figo
A beijar-me a testa.
Mas a tua floresta
É de cousas outras
É de panos
É de ossos
É de feras
E eu mastigo.
E eu mastigo.
*
A planta baixa do homem
Não te vi em meus baralhos
Ou em mágicas redomas
Não te vi na aritmética
Ou em banais axiomas
Tampouco nos borrões
Do café que tu tomas
Nas tuas noites de trabalhos
Vi-te apenas como vi
o mais simples de uma planta.
Vi-te verde, todo aroma
Exalando da garganta
de terra, em seu rizoma,
seu choroso elixir
E no todo-verde ver-te
Eu em mim me estraçalho
Ao querer poder ver-ter-te
no meu-mim todo o orvalho
que lhe chove das paredes,
do macio dos teus galhos
II
Teu mel vazio
Pra mim
Abelha morrente
Pousada em teu lírio
Alimenta-me os palpos
Feito ralo colírio
A uma cega vidente
(que fala a Odin)
III
Se não ganho vosso fruto
Resta a casca
de ferida
E no meu doer te doo
Porque então não mais florida
Minha sépala anêmica
desguarnecida
do pedúnculo alça vôo:
caio contigo em mim.
IV
Eu me doo todo de ti
De tuas folhas feridas
No teu não me quer
de margaridas
Eu me doo a ti e tão somente
Como em terra infértil a pobre semente
Desfaz-se em si
Toda pro outro
Eu me doo todo de ti
E de tuas mudas mudas.
Todas.
De teus silêncios, tuas dores
Teu surdo idioma de cegas flores
Que falam um braile intáctil e insosso
Que meus músculos tortos não sabem ouvir
E no meu ser te sou
Eu planta
plangente
Em doloroso pós-parto
de flores
dedicadas a ti.
*
Poema de 20 de janeiro
Para depositar pedras sobre os ponteiros
E pará-los
Os muitos Sísifos se arrastam na montanha circular
Do relógio
É em vão que evitam cavar nos números as covas dos irmãos
Que insistem em romper o vai-e-vem desajustado e calculado
Dos grandes troncos.
Tolos.
Amarrado neles
São Sebastião pereceu
Perfurado por flechas do milésimo.
*
Urubus herméticos
Uns urubus em bando
os bicos ensanguentados:
estão fazendo poesia.
a carne de umas palavras na garganta.
um homem na língua.
qual sílaba do morto
equivale à sua perna
à sua pélvis?
ao seu pênis?