Cinco poemas de Moema Vilela
Moema Vilela é professora de Escrita Criativa na PUCRS. Autora de Ter saudade era bom (Dublinense, 2014), finalista do Açorianos de Literatura, Guernica (Edições Udumbara, 2017) e Quis dizer (Edições Udumbara, 2017). Publicou contos e poemas em antologias como De tudo fica um pouco (Dublinense, 2011), Cobain (2016), Antologia Off-Flip 2016, A criação da memória (Edipucrs, 2014), Antologia Um (Edipucrs, 2017), Mulherio das Letras (Costelas felinas, 2017), entre outras, e também em revistas e jornais digitais e impressos como a Revista Escrita (PUCRJ) o Jornal Opção, a Revista Raimundo, o fanzine O Borralho, entre outros. Graduada em Jornalismo (UFMS), mestre em Linguística e Semiótica (UFMS) e em Escrita Criativa (PUCRS), doutora em Escrita Criativa (PUCRS). Ministrou cursos e oficinas de ensaio, poesia e conto em Campo Grande, Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, Curitiba, Corumbá.
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Um amigo está digitando uma mensagem
Antônia, em ânsia,
se antecipa em
partir. Antes
recusar o pouco
que a ruína da conformação.
Antes a fome, a imaginação,
do que esta oferta de carne morta.
Mas se enfiada até o caroço no desejo de ficar,
cortar relações é emboscada
– às raias do amadorismo.
Como se possível fosse
morrer ao mundo
sem depois,
se atirando no poço
do elevador.
Fica, Antônia,
que todo fim vem
– naturalmente.
Não é preciso
ser impaciente.
*
Um convite
o novo Michelangelo é mesmo sensacional e também a transformação existencial e política sugerida nesta nova oferta de trabalho que deveria se chamar não trabalho mas presente extraordinário e tão bem remunerado com generosidades adicionais como a possibilidade de constante doação de roupas de inverno seguida da celebração de estarmos vivos porém à pessoa que arde não faz sentido participar do que não seja o segredo da água, você não vai dizer
vamos pegar um cineminha, veja
os meus cabelos
estão pegando fogo
*
Descontrole
gosto muito de cabelos
na cabeça das pessoas
como é difícil
viajar
nas últimas poltronas
e ver tantos cabelos
sem dono
dando sopa
tão próximos
do alcance da mão
e assim entendo tudo
meditação
camisa de força
Martin Scorsese
as crianças
*
Turiya and Ramakrishna
ele inspirou fundo, alongou o braço
alongou o outro, ajeitou o calção
dobrou os joelhos, esfregou as mãos
de cima do banquinho esticou-se todo e mergulhou de ponta
dentro do copo d’água no centro do palco
o palhaço nunca esquecerá desse show
quando empurrou os pés no chão até
o corpo se desaprender e lembrar o impossível
ele se lembrou
*
Caramelo
com os sapatos calçados
pela metade
Basquiat não entra
na lanchonete sem antes
bagunçar as promoções da tarde
no mural de calçada
ele recomenda fé e patinete
vende cãibras bem barato
faz as pessoas comerem bolas de cedo
em vez de caldo
e depois pede panquecas
para derramar na mesa o xarope
e com o cardápio nivelar a massa
onde escreverá com a colher
o rosto da futura namorada
a garçonete
conjurada do vir-a-ser
com os materiais à mão
xarope de panqueca
& olhos de revelação:
mesmo as pessoas
mais duras do que mesas
se rearranjam
– conhecem alguém, mudam
de casa, de profissão, perdem
a perna, ganham crianças
– se tornam outras
Pena Cabreira
Belos poemas de Moema. Parabéns!
Pena Cabreira
Moema Vilela!