Cinco poemas de Patrícia Sebastiany Pinheiro
Nascida em 1992 em Santa Maria – RS, Patrícia Sebastiany Pinheiro é poeta, cronista e graduada em Psicologia. É autora do livro de poemas Quadripartida, lançado em 2019 pela editora Laranja Original. No Instagram é @pppoemas.
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que eu esteja atenta
ao que me devolve
ao lúdico;
ao cordão umbilical
de toda a poesia.
que meu corpo seja multilíngue.
que minhas mãos se sujem de arco-íris
e transcrevam
a matéria prima das estrelas.
*
mãe,
eu tenho medo
de adoecer.
e eu falo mãe
querendo dizer deus
ou alguém qualquer
que se arrepie
diante de tantas sobras
que só dilatam faltas.
mãe,
as paredes têm ouvidos
e olhos gigantes,
mas elas só rodopiam
quando eu apago as luzes
e nunca me contaram
histórias bonitas
para dormir.
eu acho que já adoeci
e me curei
e adoeci
em silêncio
tantas vezes, mãezinha
que desaprendi
a dizer onde dói.
me empresta teu par
castanho-escuro
de estrelas cadentes até
os milagres
que me curem de mim?
*
se me derramo
ou cicatrizo
todos os registros,
se amanheço santa
ou povoada
de sadismo,
se afio as garras
nas ruas
ou inauguro
sintomas gástricos,
se me banho
em alegorias
ou afogo
todos os sopros
no literal,
respirar
já é ser digna
do que é bom.
*
eu já não sei
se o que me inunda
é real
ou fabricado
por estes olhos
nublados
*
eu sei
que teus olhos
me idolatram
e perfazem ápices
duradouros
através da minha paleta
cintilante
de vermelhos
mas sempre haverá
o gosto
do precipício
ardendo
atrás
destas feridas
e o cheiro acre
do que nunca
se finda
contendo
todas as melhores
hemorragias
eu enterneço
com os lábios
afogados
no quinto copo
pra te dizer:
depois de amanhã, hoje,
é muito longe.