Cinco poemas de Renata Crizanto
Renatata Crizanto (Renata Cristina dos Santos) nasceu em Alta Floresta/MT, licenciou-se em Biologia pela UNEMAT e veio para a capital do Estado em 2017 cursar Mestrado em Antropologia na UFMT. É cantora e compositora e adora escrever sobre a vida e se manifestar na arte em geral. Escreveu o roteiro do documentário O Planeta e Eu – pequenas revoluções em 2016. Anterior a isso, em 2010, participou com a música “Lendas” do Festival de Música de nível nacional FESCAF, e a partir daí vem se dedicando à escrita, à composição e à poesia.
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Gente real virtual
E ele só pensava em ter amizades interessantes
de gente que roda o mundo
de fotos estonteantes
Perfis da felicidade
Afinal, quem é essa gente?
Que vive fora do mundo real?
É gente que é gente
Não se sabe bem ao certo
É um mundo paralelo
Cibernético, virtual
De gente que por gente
É um pouco fora do normal
*
Duas caras
Todo dia me dispo a mente
Vou ao trabalho cheia de moralidade
Que ninguém desconfie o que eu penso
Nem que eu pense que tudo é maldade
Não bateria ponto se não fosse o fim do mês
Vá tomando seu caminho, leve contigo a insensatez
Por que acordaria cedo para ver a cara do freguês?
Boa coisa sei que não é, logo vejo em sua tez
Mesmo que diga por aí que vou acabar na amargura
Que sozinha vou ficar, uma perdida na usura
Gargalho no espelho como quem não se preocupa
Meu perfil não satisfaz aquele que sempre enclausura
Meu traje fino é disfarce desse meu marginal
Se não entende, então vê, apenas não dê alarde
Tenho o controle de ser distinta o bastante
O meu riso é garantia como uma lança que arde
*
Pé de Ypê
Floresceu o pé de ypê
no quintal de casa pela manhã
foi sem dar alarde
e veio tão belo com sua cor de amarelo
de natureza viva, de cores não repetidas
da estação que chegou
que alegra passarinho
piando no alto da copa em flor
Da luz que entra na janela
de cores tão belas
em tons pastéis no entardecer
de outono passarinhando o Cerrado
*
Texto 4
Respeite o sagrado, o ventre, a feminilidade
Jogue fora o orgulho e o olhar de superioridade
Respeite a mulher, a Mulher Liberdade
Na luta do tempo, no mundo, na alteridade
No grito que o mundo parou para ouvir
Na dor impressa em milhões de histórias tristes
No choro despido em coro da maldade sem razão
Transformou-se em risos, dissecou outros matizes
Nasceu, renasceu, outrora em tramas de dissabor
Longínqua coragem, força estranha de sonhador
De gente que ama, que busca na alma
Um dia feliz, de vida e paz, de nobre amor
*
Outono de chamas
A notícia chega por todos os lados
O Brasil está em chamas
O Museu esteve também
Era domingo de outono
E continua outono que vem
Dois de setembro de 2018
Agosto e setembro de 2019
Tragédias anunciadas, premeditadas
Rios, animais, florestas, mananciais
Nada escapa, só o riso do inescrupuloso
Nem as memórias são poupadas