Cinco poemas de Tharles Rodrigo Machado
Tharles Rodrigo Machado nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo. Escreve por Hobbie e paixão. Acredita que a literatura possa mudar vidas.
Os poemas abaixo integram Fazer de Palavras (2020).
***
primeiro o nada
primeiro o nada, depois as válvulas,
a língua, os tesouros duma suposta
tábua milagrosa.
um letrista no imã do mal romance,
cheio do mundo.
deus nalgum jornal da vida que joguei
sem saber!
órbita dos ombros, olhares exóticos
das garotas & dos garotos.
inércia, inercia: pequeno discurso
de menino!
a cidade é precária acessa do avessa,
agora.
cézanne já esteve maior.
eu já estive maior.
todos já estiveram maiores.
*
anamnese
memorizo o quarto, os
objetos, os carinhos de família.
toda essa canção quieta
que aos poucos percebo
que vai resfriando sem querer…
as frases, os jeitos, almoços de
domingo,
o teatro de meu pai…
*
finais de tarde
trocadilhos das gotas…
com o véu do telhado…
a janela trincada, rodeada
de cadeados invisíveis…
um triste rosto me namora.
*
um estrangeiro
preciso ser calculista?
não. ser um estrangeiro me
alegra mais.
a ilha do momento é a minha
praia.
me aprazo a tudo aqui.
clamo tudo, não clamo nada.
& me deleito no sangue
da inauguração de cada
versículo de meu evangelho
sujo.
& os mapas se intercalam
espatifados no dicionário
aurélio
da minha morte.
*
despontos
um desponto nos olhos da realidade.
mar que flagela no doce cume da língua linguagem.
a inercia me apavora os dentes da alma.
um insulto me toca pelos pés, fico a costurar versos pela nuca
de meu cosmos.
a ideia toca no berrante e volta pro fogo do inferno-dúzias.
queria eu o flúor duma tarde inteira de contemplação de vênus;
com o olhar de poeta desprovido.
queria eu o sonho gritando maior que eu no punho, sonho!
mas a vida vem cantando pra trás, me arrastando as assas,
me botando em coisas vulneráveis, dizendo
açoites na cadela dos meus desejos!