Cinco poemas de Tiago Rabelo
Tiago Rabelo é um jovem-pobre-escritor brasileiro, poeta e estudante de licenciatura em História pela Universidade Estadual do Piauí. Publicou poemas nas antologias Gritos Contidos (Coruja Escritora, 2017) e Poesia Agora (Trevo, 2018), no e-book Brinquedos do Infinito: Poemas a dezesseis mãos (2018) e nas revistas literárias Literatura & Fechadura, Mallamargens, QUETETÊ, Revista Prosa Verso e Arte, Escrever Sem Fronteiras. As Vozes Desse Rio (Multifoco, 2018) é o seu livro de estreia.
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O rio transcreve memórias,
enquanto peixes percorrem o infinito.
mares livres I
carrego nos olhos esperanças horizontais
antilhas de versos entulham-se ante a angra
[esperar é insônia em descanso
canto do espaço insonoro,
sonho, reflexo do encanto]
a alma enfada-se
sem
querer e pedir
a linda horta desanda
ímãs atraem miragens
encontram arcas
o enquanto encalha
estrelas sobre o abismo
brilham na noite do esquecer
no peito, espetos sangram o lodo
– lobo desorbitando um lar
no peito, um seio esmera olhos
mortos alinham o mar
*
o grito>>>
nas horas de espanto me soterra
[o grito
sussurro caprichoso que espeta
minh’alma cala ao infinito
carrega esmola dispersa
um chão me calça
o céu insano
insônia que abrasa por dentro
encontra o gasoso desatino frouxo
objeta
____transversa
__enganos
palavra desencalha verbos
sente um ais imaturo acirrar
enfada a nirvana vibrante
anseia cifrar ecos
que brotam
ferindo o ar
*
>>>nas embarcações
no fio dessas dores ancestrais
do teu corpo-morno
nas vozes do teu bruto peito
existem vários rios
dentro do rio
labirintos copas casulos
z u n i d o s
que atravessam
de dentro pra fora
furando a carne
d e s a l o j a n d o
que rasga o tecido da terra
e espera esbarra inaugura
que arranca o leme
dessa carapaça verde
dos redemoinhos-portais do tempo
dessas bolhas
no barlavento direcionado
nas embarcações
ecos mudam de direção
*
<<<jangada>>>
líquido subtraindo a sua superfície
percorre
o quase-não-move
líquido subtraído da lembrança: uma sensação
no lume dessa luminosidade vibrante
na semi-ilha de imensurável ser
na efervescência que escalpela
o breu rastejante transcendente mórfico
sob a espelhagem
jangada
rabiscando o traçado desse percurso
multívoco refletido
no movimento-serpente
que flutua o corpo
dessa alga-movente
no jabal que ensereia os galhos
dessa imensidão transvestida
e o gemido inaudito
no ruído das pedras
nas fendas da amplidão
no rio que transcreve memórias…
enquanto peixes percorrem o infinito
*
iv poemas perdidos
para Luiz Fernando Cheres
e a sua descendência
existem iv poemas perdidos
dentro do tempo-ausência
e uma faixa clandestina na memória
existem iv poemas
que carregam a densidade das horas
e um temporal de silêncios-infensos-sibilantes
existe uma madrugada calma
nas vértebras da noite fantasmas
sussurros e grilos habitam as praças
enquanto descansa o barulho
da palavra não dita