Cinco poemas de William Soares dos Santos
William Soares dos Santos (1972) é carioca, professor da UFRJ e escritor. Dentre os seus trabalhos literários se destacam o livro de contos Um Amor (Ibis Libris, 2016) e os livros de poesias Rarefeito (Ibis Libris, 2015), Poemas da meia-noite (e do meio-dia) (Editora Moinhos, 2017 – este ganhador do Prêmio PEN Clube do Brasil de 2018 e finalista do 3o Prêmio Rio de Literatura 2018) e Raro – Poemas de Eros (Urutau Editora, 2018).
***
Raro
Esta noite o teu corpo
estava
quente e raro
que pensei que fosse febre,
tal o rarefeito
ar que saía
por dentre teus gemidos.
O arfar de tuas narinas
era
raro equino
no equinócio azul da sexta-feira,
tal o calor que vinha
feroz
a me aquecer,
qual estio
depois da primavera.
*
O outro
Amar o outro
é também amar
o seu corpo
e lidar
com a sua entranha
com a sua verruga,
com a sua cicatriz,
com seu pus,
com a sua excrescência,
com a sua dor,
com a sua deficiência,
com a sua ausência,
com a sua demência,
entre outros
lidares.
É dar-se no
entregar a si
e esquecer-se
no labirinto da
entrega.
*
Ulisses
Depois de tudo
deixo o teu leito
com tudo
o mais de óbvio:
molhado de suor,
com a face relaxada,
e uma ferida
encravada no dorso.
Deixo o teu leito
como quem
cumpriu uma promessa,
esperando o pão com manteiga
que chega com o cheiro do café
perpassado pela alvorada,
Deixo o teu leito
com a incerteza
de um retorno tranquilo
à minha Ítaca sonhada
— barco sem porto
faço de ti meu ancoradouro.
Deixo o teu leito
com um adeus
desacenado
de quem procura te
encontrar,
— após batalhas
contra troianos, ciclopes e
sirenes encantadas —
na próxima
dedirrósea manhã.
*
Zeus e Ganimedes
Pastoreava o belo Ganimedes, tão mancebo,
nos campos dos montes de Ida, na bela Troia,
com a sua pele e penugem clara de efebo,
quando Zeus divisou a sua beleza de rara joia.
Como o deus ficou de tal forma transtornado,
não pôde conter o desejo de posse verdadeiro
e do céu aberto surgiu em águia transformado
para raptar e amar em voo o jovem por inteiro.
Zeus, levou-o para sempre, da esfera terrestre,
depois do antigo deus ter o seu desejo saciado,
Ganimedes seria o servidor da ambrosia celeste.
A invejosa Hera temeu como nunca havia antes,
sabendo não haver paralelo em beleza divisado
com aquelas que haviam sido de Zeus amantes.
*
Repouso
Peito aberto,
olhos despertos:
descanso em
seu monte de Vênus.