Cinco poemas do Peru – Revista Mal de Ojo, Tradução Naiara Costa
Ser América Latina é acreditar que, para além de simples territórios e dos idiomas falados, há um povo que conta as suas histórias e resiste dia após dia às instabilidades econômicas/políticas e severos problemas sociais. E nessa resistência, engendra-se uma diversidade literária, que, assim como o povo, luta, se recria, ensina e nos encanta. Do político ao simples versar do cotidiano, aqui se unem e se cruzam as revistas Mal de Ojo e Ruído Manifesto para dar voz ao povo de uma América Latina que ainda precisa gritar por liberdade e fazer de suas paixões trincheira, repercutindo aos quatro cantos do mundo, por intermédio de textos singulares, a beleza e a contundência de seus desejos. Por aqui passarão escritos de poetas da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia e Peru.
Uma curadoria de Hérnan Contreras R. e tradução de Naiara Costa.
POEMAS DE ALEJANDRA MACHUCA
(PERÚ)
ROTA
falta una luz, a metade de um eixo,
a imagem de um prisma que atravessa junhos sem tristeza
ainda assim
dar o passo errado
escavar todos os metros quadrados
todas as longitudes de cimento com o passo firme e o
volume alto nos ouvidos na rua
o esgotamento obrigatório
a maré predestinada
a velocidade para se ocultar
mutar a invisível antes que o anjo me de aviso
e ao final
nenhum redemoinho com espinhos
ao final nem sequer um espirro
todos os presságios nos prometem luz
vem o cosmos
vem um gesto infantil
descendo em uma caravana de balões de açúcar e neón
se aproxima una rota
outra rota
sete ventos calmos
quatro
olhos
descansando no entardecer
PREMONIÇÕES
as vezes penso
como será quando passarem cinquenta anos
e todo este passado seja por fim e verdadeiramente apenas o caminho
o que vou fazer quando me der conta de tudo que existe ladeira abaixo
desde qualquer barco
todas as margens
iluminarão teu cabelo
*
RUTA
extrañar una luz, la mitad de un eje,
la imagen de un prisma que surca junios sin tristeza
aun así
dar el paso equívoco
minar todos los metros cuadrados
todas las longitudes de cemento con el paso firme y el
volumen alto en los oídos en la calle
el agotamiento obligatorio
la marea predestinada
la velocidad para ocultarse
mutar a invisible antes de que el ángel me de aviso
y al final
ningún remolino con espinas
al final ni siquiera un estornudo
todos los presagios nos prometen luz
viene el cosmos
viene un gesto infantil
descendiendo en una caravana de globos aerostáticos de azúcar y neón
se aproxima una ruta
otra ruta
siete vientos calmos
cuatro
ojos
descansando en el atardecer
PREMONICIONES
a veces pienso
cómo será cuando hayan pasado cincuenta años
y todo este pasado sea por fin y verdaderamente apenas el camino
qué voy a hacer cuando caiga en la cuenta de todo lo que existe cuesta abajo
desde cualquier barco
todas las orillas
alumbrarán tu pelo
Poemas de Hilsa Rodríguez
PERTURBAÇÃO
Hoje sonhei com um monstro
Hoje sonhei que meu pai fez amor comigo
Esfaqueou-me as vértebras e os olhos
Aproximou-se
e sua voz me deixou fisuras
tocou minhas pernas
e se introduziu em mim.
Minha mãe morreu nesse vazio
e minha irmã está dormindo nos braços
de um homem fraco
Hoje sonhei que matei meu pai.
O único problema é que sua alma me persergue constantemente.
AMULETO
Para a morte
que nos cuida
que nos acolhe todas as madrugadas.
Para a morte a levantam sobre os ombros
e a levam em seus braços como se fosse um menino
Se ouvem vozes em meio a tantos homens gigantes
Já não ouço teu alento flutuar em meus ombros
Já não sinto teu cansaço ao correr na areia
Já não crepitam tuas mãos em minhas pernas
Já não balbucias
Já ninguém a cala
Nem o grito do planeta
Nem o horror de suas caras feridas
Só o estrépito das lágrimas
caem
Súbitamente
Para a superfície da terra
POESIA
A poesia
inexorável bola de fogo
Meteorito
Pânico
Insensatez
A poesia
Dona desta casa
Mulher observando a vida
com alta musicalidade
desde este abismo incerto que é a palavra
Desde esta posição o tempo é uma ave
E a poesia
Costra negra
Lagartixa
Imune a minha língua
A poesia
Extremidade
Olhos diversos
que toma emprestado à mão
que se transforma em um punho
que algum dia poderá matar-nos.
*
Poemas de Hilsa Rodríguez
PERTURBACIÓN
Hoy he soñado con un monstruo
Hoy he soñado que mi padre ha hecho el amor conmigo
Me ha acuchillado las vértebras y los ojos
Se ha acercado
y su voz me ha dejado grietas
me ha tocado las piernas
y se ha introducido en mí.
Mi madre ha muerto en ese hueco
y mi hermana está durmiendo en los brazos
de un hombre raquítico.
Hoy he soñado que he matado a mi padre.
El único problema es que su alma me persigue constantemente.
AMULETO
A la muerte
que nos cuida
que nos cobija todas las madrugadas.
A la muerte la alzan sobre los hombros
Y la llevan en brazos como si fuera un niño
Se oyen voces en medio de tantos hombres gigantes
Ya no oigo tu aliento flotar en mis hombros
Ya no siento tu fatiga al correr en la arena
Ya no crepitan tus manos en mis piernas
Ya no balbuceas
Ya nadie la calla
Ni el grito del planeta
Ni el horror de sus caras heridas
Solo el estrépito de las lágrimas
caen
Súbitamente
A la superficie de la tierra
POESÍA
La poesía
inexorable bola de fuego
Meteorito
Pánico
Insensatez
La poesía
Dueña de esta casa
Mujer observando a la vida
con alta musicalidad
desde este abismo incierto que es la palabra
Desde esta posición el tiempo es un ave
Y la poesía
Costra negra
Lagartija
Inmune a mi lengua
La poesía
Extremidad
Ojos diversos
que toma prestado a la mano
que se transforma en un puño
que algún día podrá matarnos.
—————————-
Alejandra Machuca Gutiérrez (Piura, Perú, 1993). Seu trabalho aparece em diferentes meios electrónicos e impressos. Entre eles, Círculo de Poesia (México); Digopalavra.txt (Venezuela); Río Grande Review (Texas, Estados Unidos); Cosmoanônimos (Córdoba, Espanha), Por quê tremem (Argentina); Poesia sub25 (Peru); Poesia supercontemporênea do Peru e Estados Unidos (Estrondomudo), entre outros. Publica em seu Tumblr pessoal www.lamujerdemond.tumblr.com
HILSA RODRÍGUEZ (Trujillo, Perú, 1994) Graduada da Universidade Nacional de Trujillo- Menção Língua e Literatura. Docente. Ganhadora da Convocatoria Poesía Hembra II – 2016. Ganhadora da Convocatória nas categorias Relato e Fotografia da Revista Limeña O Bosque – edição número 9 – 2016. Mención honrosa en el Concurso Nacional de Cuento y Poesía – Huauco de Oro, de Sucre, Cajamarca, Perú – 2017. Participou na Feira Internacional do Livro de Trujillo – 2017 e no VIII Festival de Poesia de Lima -2018. Publicou poemas na web da Revista Moloko – Lima – 2018, a Revista Lucerna – 2020, no suplemento literário Livrescrita de Huánuco (2020), a Revista Obayareti – 2020 e outras páginas. Além disso, publicou alguns poemas na Revista Lucerna, edição N° 13 (2020).