Cuiabá/Chapada dos Guimarães
CUIABÁ/CHAPADA DOS GUIMARÃES
(Matheus Guménin Barreto)
O vento professa à rocha
suas aulas do desfazer-se
de tudo no tempo. O vento
arranca, da rocha, a areia:
de grão em grão faz escola:
a rocha, no ensinamento,
é aluna: na lição dura
de nada durar no tempo.
Os rubros montes de areia
– Chapada dos Guimarães
em torno de Cuiabá –
aprendem suas lições.
Os montes de forma fraca
desfazem-se ante um ditado
do vento: de que o que o homem
ergueu, o que ele escancara,
esconde e derruba o tempo:
que aquilo que o braço monta
o sopro derrubará:
que aquilo que o sonho encontra
e o homem faz realidade
o tempo outra vez o acha
e torna outra vez em sonho
que ninguém mais sonhará.
Paciente labor do vento,
irmão mais novo do tempo,
que esculpe Chapada grão
por grão: apesar de lento,
certeiro é no seu trabalho:
que é muito apesar de pouco,
que é grande mesmo pequeno,
que é muitos trabalhos poucos.
Os montes têm nessa escola
lição de se desfazer:
que o pouco que faz o homem,
que o muito que o homem vê
apaga-se sobre a pedra
do tempo em geometrias
secretas ao despencar:
desfaz qual desfeito é um dia
na barra vermelho-roxa
da tarde, em seu é-não-é.
Aquilo que o homem faz,
aquilo que o homem vê,
aquilo que o homem cala,
aquilo que o homem diz,
aquilo que o homem prende
aquilo que o homem quis
aprende a lição que aprende
o monte, ao se desfazer.
O monte rubro-laranja:
quando ele iria dizer
do tempo o grande segredo,
a resposta que se espera —
despenca em areia branda
pra lá do que já não é.
O vento professa à rocha
suas aulas do desfazer-se
de tudo no tempo. O vento,
de régua em mãos, instrui: tempo.
27/06/2017
[Imagem: Mark Rothko]