Dois poemas de Clauderize Karla Magalhães
Clauderize Karla de Oliveira Magalhães. “Tenho 34 anos, sou professora da educação básica pública, formada, graduada em história pela Universidade Federal do Mato Grosso, pós-graduada em psicopedagogia da educação, sou mestranda em Antropologia Social também pela UFMT.
Sou do Mato Grosso, sou umbandista, netas de remanescentes quilombolas do município de Livramento. Sou isso, uma preta, mulher, mãe, professora, feminista, militante, antropóloga e umbandista”.
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A preta se colou para existir
Foi preciso colar quem era
Foi preciso colar os pedaços
Foi preciso colar os pedacinhos da alma
Foi preciso colar o que me roubaram.
Foi colando os pedaços que me aceitei.
Aceitei o cabelo.
Aceitei o tom da pele.
Aceitei os lábios.
Aceitei o nariz.
Aceitei sorrir.
Aceitei ser quem sou.
Aceitei de onde eu vim
Aceitei pra onde vou
Aceitei me colar novamente
Foi preciso colar o que um dia eu fui
Foi preciso colar para acreditar que sou alguém
Foi preciso colar a preta de volta a mim
Foi colando que me vi preta.
Foi depois de colar que eu existi
A preta agora virou um mosaico.
A preta virou maria mulambo
A preta virou rosa caveira
A preta virou rainha
A preta enfim virou preta.
*
Não ousem negar quem sou
Eles me negaram Oxum
Eles me negaram a fé em Oxalá
Eles me negaram a devoção a Ogum
Eles me negaram a esperança Iemanjá
Eles me negaram a existência de Iansã
Eles me negaram a justiça de Xangô
Eles me negaram a proteção Nanã
Eles me negaram o que sempre foi meu
Eles continuam negando o que sempre foi meu
Eles negam Oxóssi,
Eles simplesmente negam
Eles negam os pretos e sua alma
Eles sempre negam, eles sempre negaram
Mais hoje sabemos quem somos
Somos os setes
Somos o axé
Somos as forças da natureza
Somos os que um dia ousaram negar
Não mais hoje, pretos
Eles nunca mais ousaram nos negar
Clauderiete
Parabéns. Um bálsamo para as nossas almas.
Luvanil Nunes Xavier Duarte
Parabéns! Muito bom ler esses poemas.