Dois poemas de Delalves Costa
Delalves Costa (13 de dezembro, 1981) é escritor e poeta com 7 livros de poesia publicados: COISAS que faltam em mim (2005); O Menino dos Cataventos na Rua dos Passatempos (infanto-juvenil, 2006); Considerações Pré-maturas & Outras ausências (2008); Josseu Solta-inventos e as Invenções do infantiletrando (infanto-juvenil, 2008); Fragmentos e iluminuras do discurso pré-maturo (2013); Inacabamento, a eterna gestação (2016), e O Apanhador de Estrelas”(Becalete, 2018; 2ª edição Class, 2018). Formado em Letras Licenciatura-Plena Português e Literatura Portuguesa, é mestrando em Educação Profissional na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/Uergs, Unidade Litoral Norte – Osório. Profissionalmente, professor de português, literatura e texto técnico na rede pública de ensino do Rio Grande do Sul. Pesquisador nas áreas de ensino, literatura e cultura locus-regionais do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
***
O Efêmero coadjuvante
I
É segunda-feira no rosto pálido
ao vestir Domingo. Acorda-se…
não há trilho ou asfalto
não há vagões, vagas
ou simi(lares) ao filho
dos eletromiseráveis
– que ora brindam néctar
ora são joelhos à Ilha das Flores.
II
No inquieto domingo das coisas
é verde-amarela a borboleta.
Ao se livrar do casulo,
ruas e aven[idas à reinvenção
do p(ovo adormecido)].
Fez-se eufo(ria o tempo todo)!
Pelo mapa sem pátria
a nação sem memó(ria de si),
o dia logo que se cala!
III
Foi-se o Domingo,
segunda-fe(ira no rosto).
Acorda-se. Acordamos.
No domingo das coisas
a borboleta é larva.
E assim, tão presa
e efê(mero coadjuvante)
à língua dos predadores
está o ovo, qual pródigo
jardim sem época.
*
Amava – rios pela carne
I
Imper(feitos, rios pela carne)
respiram o curso
do ímpeto, intransitivamente
mordem silêncio
sobretudo sobrevivos, é nada
vários de apenas
II
é algo esse tal corpo na parte
é(s)eco sem galerias
etimólogo que versa
o luto pela Palavra: estar arte
pela língua perversa
e não morto morrer descarte
e efêmero aceitar-se
III
fato, matéria indigesta
eu amostragem
carne em brasa não manifesta
língua selvagem
em luta, é renunciar-se à festa
estar à margem
dige(r(ir-se! Sou aresta!
IV
À meia luz, interpenetração:
o corpo por língua pela língua
sobre a língua sobe a língua
para a língua não para língua
para língua não para língua
adormece a página, e acesa
a carne procura-se à exaustão
V
Pelo enjoo, a morte. E findas
muito vomitaram flor
pra encubar espinhos
(ao longo de si) se suportava
rios pela carne. E que
se fluíram para ser e no mar
sentiram-se, ardente
o corpo pariu a alma
agora, calmaria na tal ferida
VI
Antropofágico, reconstruo
o inconstante na carne
a sintaxe dorsal nos possui
quando se ama, vários
de nós morrem no quarto.
A noite sepulta o raso
a fim de dar vazão ao riso,
o arrepio consumado.
VII
e a carne revelou
se ferida trazida, palarvas
na língua inculta
larvas pelo assopro, farpa
e beijo: o tácito,
resenha animal
por excesso, ser
que perman(ceu morto)
antes do tempo.