Dois poemas de Lorenzo Falcão
Lorenzo Falcão é natural de Niterói (RJ) e mora em Cuiabá desde 1978. Trabalhou como jornalista e/ou editor em jornais, revistas, televisões, rádios e assessorias. É fundador, editor e redator do Tyrannus Melancholicus, site que mapeia a cena cultural mato-grossense e nacional, com foco especial em literatura, mas abordando também áreas como direitos humanos, meio ambiente e jornalismo científico. Ativista cultural desde a década de 1980, é também cronista, prosador e poeta. Publicou o livro de contos Motel Sorriso (2002, edição do autor), a revista independente de poesia Diferente (2005, edição do autor) e o livro de poemas Mundo Cerrado (2011, Entrelinhas).
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Faço versos
Faço versos e finjo
que são para aqueles que me pedem.
Faço versos e brinco
de manobrar palavras.
É dessa forma que a coisa nasce,
à deriva da minha intuição de poeta.
Tudo em minha vida,
cada vez mais,
parece virar ou convergir
para o poema.
Até nas conversas
e nos gestos mais simples
e cotidianos
está a poesia me espreitando
e se fazendo.
Ainda não cheguei
ao patamar de grande poeta,
mas os anos têm me ensinado
a melhorar.
Aí, fico pensando…
Seria demais pedir
pra viver um tempo,
aquele tempo necessário,
pra ter condições
de me transformar
num poema absoluto,
daqueles que a terra há de comer?
*
andei demais
andei pensando em alterar
alguma coisa nas poesias
que andei escrevendo…
eu escrevi, passou um tempo,
reli, e achei que não tava muito legal
e até andei mexendo em alguns versos.
dia desses, saí pra caminhar
e nessas horas muita coisa clareia
na minha cachola. andei e andei…
pensando nessa poesia minha
que eu gostaria de mudar.
qual nada. andei de volta pra casa
depois de muito pensar
e nada resolver. andei em vão,
cabeça de vento e pé no chão.
andei demais, mas, o pior de tudo
é ter que submeter o leitor
à esta poesia onde falta andamento.
andei pensando agorinha mesmo
em fazer novos versos, mas versos
que andem com suas próprias pernas.
também andei pensando
em outras coisas. por exemplo:
um ponto final nesta poesia!