Dois poemas de Lucas Trindade da Silva
Lucas Trindade da Silva é paraibano. Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, atualmente realiza estágio pós-doutoral na Universidade Federal de Pernambuco. Publicou os livros: Entrelugar do Tempo (Patuá, 2018) e Max Weber e a Formação Conceitual do Capitalismo (Editora UFPE, 2016). Publicou poemas em: mallarmargens, Enfermaria 6, Ruído Manifesto, A Bacana e zona da palavra.
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ainda é cedo
sempre ainda muito cedo
para um corpo carente de escuro
incomoda vivamente ter de cerrar
a abertura dos olhos que permite
encarar – sem floreios –
as bordas e o núcleo do assombro
se o pedissem para indicar
o que dizem quando dizem luz
como um breu retrucaria noite
e se o pedissem para indicar
o que dizem quando dizem açoite
como música responderia calmaria
*
vasculhar todos os cômodos desta casa
para sabê-la não-morada
para sabê-la cômodo
de outras carnes pedras e sussurros
para sabê-la – melhor dizer esquecê-la –
guarida da fome e do susto
da fome
e do susto
consciência em sangue
da falsa vida que habita a palavra plenitude