Dois poemas de Marcus Vinicius
Marcus Vinicius nasceu em 1988
Na cidade de Juazeiro
Publicou o livro de poesia O cacto não cresceu
Pela editora Moinhos.
Publicou Ontem estive cálido
Pela editora Urutau.
Publicou poemas na Enfermaria 6
Site literário de Portugal.
Partilha poemas na conta @poesiademarcus
Atualmente mora em Recife.
Acredita que a poesia é um lugar de passagem.
***
Homem Americano
soa o estalo crispado
duma dança
a lançar rolos e espumas quentes
são dez mil anos
queimar os pés
fatigar as ânsias
bolinar tições que se espalham
são quinze mil anos
perdendo-se em cerâmicas
a fagulha dos ogros
a travessia da África
são cem mil anos
as primitivas cerâmicas
o tilintar dos líticos
colorindo sacrifícios
são anos-luz
os paredões riscados pela unha de deus
porque ele tateava no escuro
a verdade da noite
o vento que era hálito e bocejo
respiração do criador ofegante
depois de seu primeiro poema
que importava se morressem
descobrissem o fogo
pintassem sobre as unhas do pai
e à mãe ofertassem mitos e lanças?
o poema nunca seria completo
o poema seria a gangrena dos motores
isto era o começo.
*
Flor ao chão
atravessar o campo
por uma rodagem estreita
desenhos de cascos se apagam
aos poucos
um canto de cerca se inclina
pede mais arame
pede mais afago
razoável pedido de quem
no seu torso um peso se marca
meu mar é um restim de chuva
porejada do céu
por um conta gotas
e meus coqueiros de beira de praia
são essas catingueiras
que não balouçam
mas ainda servem de escoro
para ver a barragem
sangrar
para ver a meninada
nadar
enquanto um ramo de flor amarela
capota com parco vento pelo chão.