Dois poemas de Preta Pocket
Mariana Lopes, de nome artístico Preta Pocket, é de 96, natural de Cuiabá/MT. Candomblecista, é Graduada em Psicologia pela UFMT, além de Poeta, Atriz, Performer, Bambolísta, Cantora, enfim, Multiartista. Possui duas músicas gravadas e uma delas no Red Bull Station. Já participou de diversos saraus e batalhas de poesia.
Trabalha como Psicóloga Clínica se orientando pela Psicologia Africana. É atriz e contadora de história no “Contadores de lá e cá”, coletivo que nasce no curso de Teatro da ETEC de Artes de São Paulo.
Coordenou a pasta de Arte&Cultura e compôs a pasta de Psicologia do Instituto Afro Amparo e Saúde, de São Paulo.
Em junho de 2021 entra em cartaz com a peça Território Mulher, fruto de sua formação em teatro pela Escola Técnicas Estadual de Artes de São Paulo.
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Poesia dos olhos d’água
Firmo hoje um pacto com meus olhos d’água
Não mais esconderei minha fluidez, sensibilidade, força e vida
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Firmo um pacto com meus olhos d’agua
Que refletem como espelhos a beleza, história, sabedoria e ancestralidade de meu povo
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Firmo um pacto com meus olhos d’água
Água essa que percorre do Rio Coxipó a Oshogbo
Água que sustenta meu corpo
Água Banzo, que oceano testemunhou o retorno
Sim, o retorno, de muitos dos nossos ao Orun
Atlântico! Amefricanidade! Saudade! Sankofa! Ancestralidade! Sakhu! Pra alma iluminar…
Oxum que ensinou o real significado de amar,
Dando sentido a minha negra existência!
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Firmo Pacto com os olhos d’água do meu povo
Sofrido e com imenso saber, brilho, ser, divindade, conexão, magia, mandinga…
Ainda firmo com Òmìnira Okun – da Liberdade, o mar.
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O mar que é mãe!
Berço do nosso sangue,
que é imenso e sua imensidão já testemunhou tanta coisa,
mar que nos conecta a África,
que nos lava,
que nos traz encantos, encontros e acolhe nossos lamentos,
que presentifica a Liberdade, Liberdade, Liberdade…
Liberdade do colonizador, das amarras, das nomeações, dos dedos apontados, de caixas sem luz e apertadas… do genocídio, do auto ódio!
Liberdade pra seguir nossos negros caminhos, Laroyê esu!
Liberdade para poder viver preta, viver Quilombo, viver África!
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Oxumci
Òsún
Não só o Orixá da beleza como muitos pensam
Seu abebe é proteção contra os que tentam
Atingir seus filhos
Caminhos
A dona do jogo, já ouvi a rodo que nada acontece se ela não permitir, o ir e vir só é possível porque há vida
Então me diga: Há vida sem água?
Então deságua
Ara Omi para poder fluir
Acendo vela para bem seguir
Corpo fechado para os problemas dessa cidade
Deusa da fertilidade!
E há quem diga que ela não é guerreira,
não falem besteira!
Seu dia não é quarta-feira suas armas são outras mas ela está sempre pronta pra lutar
Para estar com seus filhos faz de tudo
Até a fonte secar de maneira intuitiva.
Iyá, me abençoe com sua sabedoria, pele preta me sinto uma diva,
Osunci, que em Yoruba significa que eu sou sua filha